Sabe-se que a língua portuguesa é riquíssima, proporcionando-nos palavras como “saudade”, “cafuné” e “capricho”, as quais só existem no nosso vocabulário. Apesar disso, há sensações e sentimentos que parecem não corresponder a nenhum termo adequadamente, assim como situações tão específicas que demandam longas explicações, quando poderiam ser ditas, talvez, com uma única palavra.
Todo idioma tem suas peculiaridades. Em finlandês, por exemplo, a palavra kalsarikännit diz respeito ao hábito de ingerir álcool seminu quando se está sozinho em casa; em norueguês, hygge representa atitudes que fazem com que nos sintamos bem, provocando-nos sensações como o acolhimento. O Japão, por sua vez, parece valorizar expressões que remetem ao trabalho e ao senso prático, assim como palavras que parecem carregar certo bucolismo.
Por aqui, ficamos com 13 palavras japonesas e seus respectivos significados. Será que alguma delas poderia ser traduzida sucintamente para o português brasileiro?
1. Ikigai
Sabe quando bate aquela bad e parece que falta alguma coisa que dê sentido às nossas ações? Ikigai é o que está faltando. Essa palavra significa algo como “aquilo que nos faz levantar todas as manhãs”, o que nos motiva apaixonadamente, trazendo resultados tanto para nós mesmos quanto para quem está ao nosso redor.
2. Karoshi
Por outro lado, quando a motivação passa dos limites e nós simplesmente não conseguimos nos desligar dos deveres, passando a trabalhar até o esgotamento físico e mental, temos um caso de karoshi. Na cultura japonesa, infelizmente, não é raro que isso acabe levando algumas pessoas à morte.
3. Komorebi
Talvez por conta das longas jornadas de trabalho, os japoneses parecem apreciar o contato com a natureza. Komorebi é o efeito da luz quando ela atravessa as folhas das árvores.
4. Shinrin-yoku
O momento mais propício para que o komorebi aconteça é quando se escolhe ir para algum lugar como uma floresta e passar um tempo ao ar livre a fim de relaxar e cuidar de sua saúde mental. Ou, como shinrin-yoku sugere de forma literal: tomar um banho de floresta.
5. Irusu
Mas nem sempre a gente opta pelo contato com a natureza ou pelo autocuidado. Há dias em que estamos com um mau humor do cão e tudo que queremos é ficar sozinhos… e tudo bem! Irusu é quando, em um desses dias, resolvemos ignorar as mensagens que chegam no celular ou até mesmo a campainha de casa.
6. Shikata ga nai
Quando passamos a simplesmente aceitar as fatalidades, considerando que são coisas da vida e não há o que possa ser feito, os japoneses dizem que isso é shikata ga nai, o que seria próximo do nosso “fazer o quê?”.
7. Ukiyo
Já quando passamos a encarar a vida de uma maneira mais positiva e focar nas coisas boas, procurando-nos manter centrados no momento presente, assumimos a postura do ukiyo.
8. Tsundoku
Pessoas que gostam de viver o momento ao lado de bons livros, normalmente, sofrem de um problema: compram livros novos sem precisar deles e juram que os lerão. Então, se a sua pilha de livros por ler só cresce, você certamente vai se lembrar do tsundoku quando pensar em dar uma passadinha na livraria.
9. Age-otori
Quem nunca pediu para o cabeleireiro cortar só dois dedinhos e acabou saindo do salão com muito menos cabelo do que entrou? Às más experiências com cortes de cabelo os japoneses dão o nome de age-otori, compreendendo a sensação de frustração por ter confiado seus fios a quem não merecia.
10. Majime
No contexto do corte de cabelo que deu errado, o cabeleireiro se torna uma pessoa a quem não cabe o adjetivo majime, pois essa palavra designa alguém sincero e confiável, que faz suas tarefas sem causar problemas.
11. Furusato
Sabe aquela história de “casa é o lugar onde o coração está”? Furusato traduz esse tipo de sentimento, se referindo a quando nos sentimos parte de algum lugar, mesmo que ele não seja exatamente nossa casa ou nossa cidade.
12. Wabi-sabi
O wabi-sabi, por sua vez, caminha próximo do hygge norueguês, no sentido de ambos tratarem de estilos de vida que levam à paz de espírito. A palavra japonesa está ligada à estética e diz respeito à valorização da imperfeição, um olhar que vai desde a impermanência da natureza – que mesmo após as intempéries se mantém bela – ao carinho por objetos pessoais antigos que guardam consigo memória afetiva, ainda que estejam danificados.
13. Mono-no-Aware
Considerando-se a filosofia do wabi-sabi, essa palavra é o que faz com que os objetos antigos ainda tenham significado. Diz-se do reconhecimento de que cada coisa é bela à sua maneira, assim, vêm à mente ideias como subjetividade, delicadeza e sensibilidade. Mono-no-Aware é aquilo que é belo para você e desperta afeto, mas que pode não significar nada para outra pessoa.