Como sabemos, a Segunda Guerra Mundial foi um acontecimento devastador na história do mundo – tão devastador que estima-se que o número de mortos tenha atingido de 50 milhões a 80 milhões de mortes. Embora a guerra tenha terminado em 1945, existiu um oficial japonês que continuou lutando durante 29 anos sem saber que a guerra havia terminado.
Hiroo Onoda (小野田寛郎) nasceu no dia 19 de março de 1922, em Kamekawa Village, província de Wakayama. Depois de se formar em 1939, Onoda foi trabalhar para uma empresa comercial japonesa com sede em Xangai, na China mas foi por um curto período pois no ano seguinte, ao fazer 18 anos, se alistou na Infantaria do Exército Imperial Japonês.
O então tenente de 22 anos foi enviado em dezembro de 1944 para Lubang, uma pequena e estratégica ilha nas Filipinas, onde recebeu ordens do major Yoshimi Taniguchi para espionar as tropas americanas e interromper quaisquer invasões americanas, mesmo que para isso precisasse sabotar instalações portuárias e uma pista de pouso. E assim ele fez.
Suas ordens também expressavam que sob nenhuma circunstância deveria se render ou suicidar-se. Um trecho da nota, em uma tradução livre, dizia que “Isso pode levar três anos, pode levar cinco, mas aconteça o que acontecer, nós vamos voltar até você.”
Em fevereiro de 1945, as tropas americanas desembarcaram em Lubang, seguidas da rendição da maioria dos soldados japoneses; no entanto, centenas ficaram desaparecidas durante anos após a guerra, incluindo Hiroo Onoda, que se escondeu junto com outros três companheiros.
Apesar do lançamento de grupos de busca, e os panfletos japoneses pedindo que se rendessem, Onoda e seus companheiros continuaram com a missão. Em uma entrevista, Onada compartilhou o motivo pelo qual ignorou os panfletos: “Os folhetos continham muitos erros, então presumimos que isso era uma manobra dos americanos para nos enganar”.
Quando a ilha foi invadida e recuperada pelos aliados em fevereiro de 1945, ao final da guerra, a maioria das tropas japonesas morreu ou foi capturada por forças americanas. Onoda e diversos outros homens, entretanto, esconderam-se na selva densa filipina.
Para permanecerem vivos, eles construíram cabanas de bambu e viviam de bananas, leite e carne de gado roubado. Além de suportar o calor tropical, Onoda e seus companheiros foram importunados por ratos e mosquitos. Apesar de viver abaixo das condições normais, Onoda disse que mantinha seus rifles e cartuchos em plenas condições de funcionamento.
Em certos momentos, Onoda e seus companheiros lutaram contra colonos da ilha e polícia local. Um de seus companheiros se rendeu às autoridades filipinas em 1950, enquanto outros dois foram mortos a tiros em 1954 e em 1972 durante confrontos policiais.
Hiroo Onoda tornou-se o único sobrevivente, mas por falta de notícias sobre seu paradeiro, ele foi oficialmente declarado morto no Japão em 1959. Por 29 anos, recusou render-se, negando-se a acreditar que guerra havia terminado com a rendição do Imperador.
No entanto, para Norio Suzuki, um jovem estudante japonês, Onoda ainda estaria vivo em algum lugar. Assim, em 1974, Suzuki partiu para Lubang na esperança de encontrar Onoda e trazê-lo para casa. O instinto de Suzuki estava certo, Onoda ainda estava vivo.
O jovem tentou convencer Onoda, de 54 anos, a voltar ao Japão com ele; no entanto, o leal soldado insistiu que ele ainda estava esperando as ordens de seu superior.
Determinado a devolver Onoda ao Japão, Norio Suzuki retornou ao Japão e apresentou as fotografias de Hiroo Onoda ao governo japonês que, por sua vez, enviou o irmão de Onada e seu ex-comandante, Yoshimi Taniguchi, para as Filipinas. Quando Taniguchi oficialmente dispensou Onoda de seu dever, o soldado emocionou-se e chorou compulsivamente.
Após receber a notícia que a guerra havia acabado pelo ex-comandante, Onoda ficou desapontado por ter desperdiçado um tempo tão precioso de sua vida. Apesar de sua lealdade e disciplina, Onoda viu dois de seus amigos serem mortos, deixou de conviver com sua família e seu grupo acabou tirando a vida de aproximadamente 30 nativos a troco de nada.
Onoda foi o penúltimo de muitos dos chamados “holdouts”, nome dado aos soldados enviados para vários países do sudeste da Ásia, que simbolizavam a assombrosa e absoluta perseverança de quem foi chamado a lutar por seu imperador. Apenas o soldado Teruo Nakamura, preso em 18 de dezembro de 1974 na Indonésia, resistiu por mais tempo.
De volta ao Japão, Onoda virou herói pela dedicação que demonstrou ter com o seu país. Ele também recebeu o pagamento relativo aos 30 anos de trabalho. Com dificuldades de se adaptar à nova realidade, ele seguiu o exemplo de seu irmão mais velho, Tadao e mudou-se para o Brasil em 1975 onde comprou uma fazenda de gado e se casou em 1976.
No Brasil, Hiroo Onoda assumiu um papel de liderança na Colônia Jamic, uma comunidade japonesa agrícola na cidade de Terenos, Mato Grosso do Sul. Ele também escreveu um livro autobiográfico chamado “No Surrender: My Thirty-year War, (no Brasil, publicado pelo jornal São Paulo Shimbum como “Os Trinta Anos de Minha Guerra”).
Em 1984, Onoda voltou ao Japão, onde criou uma escola para ensinar técnicas de sobrevivência e independência aos jovens de seu país. Em 1996, ele retornou às Filipinas e doou US$ 10.000 para escolas locais. Em uma de suas frases mais famosas, Hiroo Onoda diz: “Os homens nunca deveriam desistir. Eu nunca desisto. Eu odiaria perder.”
Hiroo Onoda revisitou a Ilha de Lubang em 1996, doando 10.000 dólares para a escola local em Lubang. Embora tivesse matado aproximadamente trinta moradores locais e engajado diversos tiroteios com a polícia, as circunstâncias destes eventos foram levadas em consideração da situação, e Onoda recebeu o perdão do presidente filipino Ferdinand Marcos.
Sua esposa, Machie Onoda, tornou-se chefe da conservadora Japan Women’s Association em 2006. Ele costumava passar três meses do ano no Brasil. Onoda foi condecorado com a Medalha de Mérito de Santos-Dumont pela Força Aérea Brasileira em 6 de dezembro de 2004.
Em 21 de fevereiro de 2010, a Assembléia Legislativa de Mato Grosso do Sul lhe concedeu o título de “Cidadão Sul-Matogrossense”. No Japão, Onoda era afiliado ao Nippon Kaigi, que defende a restauração do poder administrativo da monarquia e do militarismo no Japão.
Hiroo Onoda faleceu no dia 16 de janeiro de 2014, em Tóquio, aos 91 anos de idade, de insuficiência cardíaca devido a complicações de uma pneumonia. Encontram-se no Brasil ainda familiares de Hiroo. Um de seus irmãos Tadao Onoda faleceu no ano de 1991, em São Paulo, porém seus filhos ainda vivem e deixam netos que ainda carregam o seu sobrenome.
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Fonte: Japão em Foco