Wa, Kei, Sei, Jaku: Os 4 Princípios do Chado (Chanoyu)
A cerimônia de chá japonesa é chamada de Chanoyu (茶の湯) ou Chadō (茶道), que significa “o caminho do chá”). Trata-se de uma atividade tradicional com influências do Taoísmo e Zen Budismo. Este costume foi trazido inicialmente ao Japão no século IX, através de um monge budista chamado Eichu (永忠), quando retornava de uma de suas viagens da China.
No século XII, outro monge chamado Eisai, traz o matcha ao Japão, também após uma viagem à China. Considerado um chá verde mais forte, foi inicialmente utilizado em rituais em templos budistas. A partir do século XIII, os famosos samurais passaram a consumir a bebida matcha, como uma adaptação do Budismo. Com isso, o futuro do chá estava traçado.
Com o passar dos anos a erva passou a ser cultivada em todo o território japonês e a cerimônia do chá foi se popularizando, alcançando todas as classes sociais. Isso aconteceu por volta do século XVI, e um dos maiores responsáveis por essa popularização foi Sen no Rikyu, seguido pelo seu mestre, Takeno Jōō, de acordo com a filosofia Ichigo Ichie (一期一会).
Mas o que é a filosofia Ichigo Ichie? O significado é “Cada encontro é único e valioso”. Isso é o que acontece na cerimônia do chá, onde cada uma é considerada única, e nunca poderá ser reproduzida. Sen no Rikyū também era adepto de uma filosofia chamada wabi-sabi, que valoriza a simplicidade, a transitoriedade, a assimetria das coisas e a beleza da imperfeição.
Existem basicamente dois tipos de cerimônia do chá: Chakai (茶会) que são encontros simples e o Chaji (茶事) que são encontros formais e podem durar até quatro horas. O praticante de cerimônia do chá precisa ter conhecimento de várias artes tradicionais que vão desde o cultivo e variedades de chá a vestimentas japonesas (kimono), caligrafia, arranjo de flores (Ikebana), cerâmica, etiqueta e incensos, além dos procedimentos formais de fazem parte do chanoyu.
Os Quatro Princípios da Cerimônia do Chá:
Como pudemos perceber, a Cerimônia do Chá não se refere ao simples ato de tomar o chá verde ou matcha. Trata-se de uma arte, uma filosofia de vida, que exige muita concentração nos gestos, nos movimentos e na postura. Os praticantes aprendem a elevar a percepção da beleza e da paz espiritual da vida cotidiana, como uma espécie de meditação em movimento.
Mesmo aqueles que não são praticantes e sim apenas convidados, se faz necessário aprender as regras de etiqueta e como se portar em uma cerimônia do chá, assim como conhecer seus conceitos mais básicos tais como o “Wa Kei Sei Jaku”, que são os 4 princípios da cerimônia do chá, e não só podem como devem ser incorporados no cotidiano de todas as pessoas.
1. 和 Wa: Harmonia
Significa estar livre das pretensões e nunca esquecer a atitude de humildade para com os convidados. É a interação saudável e positiva não só entre o hóspede e o anfitrião, como também com os utensílios de chá e alimentos servidos. É estar em harmonia plena com a natureza, e também com a própria vida, criando uma atmosfera de paz em torno de si.
Esta harmonia com a natureza conduz silenciosamente a uma compreensão da evanescência de todas as coisas imutáveis, tais como as mudanças entre as estações do ano. Essa interação com a natureza deve ser considerada uma fonte de prazer durante a prática de uma cerimônia do chá e jamais deve ser excluída, ignorada ou considerada inconveniente.
2. 敬 Kei: Respeito
Significa ter capacidade de compreender e aceitar os outros, mesmo aqueles que nós temos divergências. É importante ter humildade e tratar tudo e todos com o mesmo respeito, incluindo os utensílios usados durante a cerimônia. Entre o anfitrião e o hóspede deve haver respeito mútuo. Esta igualdade faz com que a cerimônia do chá seja memorável e bem sucedida.
Os utensílios mais simples devem ser tratados com a mesma polidez que os mais caros. O respeito cria um elo de harmonia entre os participantes que resulta naturalmente em um sentimento de gratidão. A hospitalidade do anfitrião, a cortesia dos convidados, assim como a manipulação cuidadosa dos utensílios exemplificam este respeito durante o Chado.
3. 清 Sei: Pureza
Significa estar com o coração puro e aberto para sentir a harmonia e a sensação de paz durante uma Cerimônia do Chá. A pureza também se estende às vestimentas, jardins, utensílios, etc. Quando o ambiente está limpo e organizado, o coração e a alma também estão sendo purificados. Quando se usa roupas limpas, essa pureza também prevalece.
A limpeza e organização, tanto no sentido físico e espiritual, são muito importantes durante a Cerimônia do Chá. Durante a limpeza dos utensílios, o anfitrião está simultaneamente purificando o coração e a mente. Antes de entrarem no salão, os convidados enxaguam as mãos e lavam a boca em uma bacia de pedra, purificando-se da sujeira do mundo exterior.
4. 寂 Jaku: Tranquilidade
É um dos objetivos alcançados com a prática da Cerimônia do Chá. Nesse estágio, os participantes que tem um nível de desprendimento mais elevado, conseguem colocar em prática os ideais de harmonia, respeito e pureza. Com o coração puro e iluminado, as pessoas tem a oportunidade de experimentar a total quietude e silêncio que o “jaku” proporciona.
Esta tranquilidade está longe de ser apenas um estado psicológico ou sonhador. Trata-se de um conceito estético próprio da cerimônia, adquirido com a prática constante dos princípios básicos: harmonia, respeito e pureza. Como assim dizia o grande mestre do chá Sen no Rikyu, um verdadeiro mestre aprende a ser “dono do seu coração e não se deixa dominar por ele”.
7 Regras do Chado (Cerimônia do Chá):
Para nós ocidentais, o Chado pode parecer inicialmente excessivamente formal e cheio de regras. Para os praticantes, o Chado é, na realidade, um meio de incorporar, internalizar o espírito de respeito às pessoas, natureza e a tudo que faz parte de sua existência.
Se você tem vontade de um dia participar de uma cerimônia como essa, saiba que é importante conhecer não apenas os quatro princípios como também algumas regras de etiqueta.
1. Cuidado com a vestimenta: no tatame, espaço considerado sagrado, só se entra de meias brancas.
2. Atenção ao circular pelo ambiente: não se pode pisar nem apoiar objetos nas linhas pretas do chão.
3. Cálculo para se posicionar: o convidado precisa contar dezesseis faixas de costura a partir da linha preta a sua frente. E se ajoelhar exatamente atrás da 16ª faixa.
4. Obediência aos lugares marcados: a regra é que o convidado principal fique diante do anfitrião.
5. Calma antes de beber: só se deve pegar o chawan (tigela de cerâmica) depois de abaixar-se em agradecimento a quem o serviu.
6. Silêncio absoluto: não se fala nada durante todo o ritual. É um momento de meditação.
7. Gosto pela arte: no tokonoma, espécie de altar na sala de tatame, há sempre uma gravura ou caligrafia para ser admirada. Os chawans também devem ser apreciados
Fonte: Japão em Foco