Ser astronauta foi (e ainda é) o sonho de muita gente, mas apenas uma minúscula parcela da população mundial consegue realmente alcançá-lo na vida real. Normalmente, para ir a uma missão no espaço, a pessoa precisa ser uma mistura de gênio com atleta de alto rendimento, mas não foi esse o caso de Toyohiro Akiyama, o primeiro japonês a sair da Terra.
O personagem dessa história não era um mestre da Engenharia, muito menos uma máquina em condicionamento físico; na verdade, era um típico jornalista dos anos 80: mais se parecia com uma chaminé de tanto que fumava cigarros. O mais perto que ele havia chegado de um foguete havia sido pela cobertura da explosão do ônibus espacial Challenger, em 1986.
Mas então como ele conseguiu embarcar em uma missão oficial? O mundo vivia a parte final da Guerra Fria, e a União Soviética já não fazia grandes investimentos na corrida espacial que havia disputado intensamente contra os Estados Unidos em décadas anteriores. Assim, um canal de televisão japonês fez uma proposta de cerca de US$ 10 milhões na época para que um de seus jornalistas se juntasse a um lançamento soviético.
O canal era o TBS (Tokyo Broadcasting System), o criador do programa Takeshi Castle, o precursor das Olimpíadas do Faustão no Brasil. Sabe a “Ponte do Rio que Cai”, por exemplo? Quando participantes de capacete atravessavam uma ponte enquanto canhões disparavam bolas de basquete para derrubá-los? Então, essas ideias vieram de lá. Dessa vez, a intenção da TV era bolar uma atração como parte das comemorações de 40 anos da emissora.
Partiu!
Os soviéticos aceitaram a proposta e, em agosto de 1989, Akiyama deixou a redação para iniciar uma intensiva preparação dentro do principal centro de treinamento espacial da URSS, o mesmo que havia treinado Yuri Gagarin para ser o primeiro homem da história a ser lançado para fora da Terra. Agora, era a vez do jornalista japonês de 48 anos de idade.
Cerca de 16 meses depois, em 2 de dezembro de 1990, a nave Soyuz TM-11 foi lançada da base de Baikonur, onde hoje é o Cazaquistão, com os cosmonautas Viktor Afanasayev e Musa Manarov, e ele: Toyohiro Akiyama. Caso você não saiba, nos países de origem soviética, os profissionais treinados para missões espaciais não são chamados de astronautas, mas sim cosmonautas.
Após dois dias de viagem, o trio chegou à estação espacial Mir (que foi desativada em 2001) e, de acordo com Afanasayev e Manarov, nunca haviam visto uma pessoa vomitar tanto na vida como o inexperiente “astronauta” japonês. Reclamações de fortes dores na cabeça, que davam a sensação de que ela iria explodir a qualquer momento, também foram relatadas. E tudo isso foi transmitido para o programa “O Primeiro Japonês no Espaço” (em tradução aproximada), da TBS.
O retorno
Após 7 dias, 21 horas e 54 minutos, Akiyama voltou a pisar em solo terrestre com uma experiência na bagagem que o fez mudar seus conceitos sobre a vida. Quatro anos mais tarde, largou a profissão, deixou sua família em Tóquio e comprou uma fazenda para investir na agricultura.
“Enquanto eu via a Terra de uma altura de 400 km, comecei a pensar na história da humanidade e sobre as atividades repetitivas que fizemos para chegarmos aos atuais 7 bilhões de habitantes. E o qual é a coisa mais básica para o progresso humano? A comida. Eu não podia morrer sem entender mais sobre essa questão e praticar essa área do conhecimento”, explicou Akiyama em entrevista para o jornal Japan Times, em 2013.
Mas para o azar do primeiro japonês a ir ao espaço, sua fazenda ficava próxima à região de Fukushima, atingida por um grande terremoto em 2011 que resultou no colapso da usina nuclear local. Dessa vez, o jornalista-cosmonauta-fazendeiro teve que deixar seu sonho para trás e abandonou seus cultivos. Hoje em dia, ele é professor na Universidade de Kyoto.