Não é difícil ouvirmos por aí, quando um novo tipo de tecnologia se torna extremamente popular, que aquilo pode fazer mal de infinitas maneiras. As pessoas mais velhas devem lembrar como as pessoas se preocupavam com a distância na qual assistíamos à TV de maneira que não prejudicasse nossa visão. A bola da vez agora são, obviamente, os smartphones: será que o uso exagerado deles pode nos causar algum mal, como câncer ou algo parecido?
O grande problema dessa pergunta é que ela não possui resposta. Ou pelo menos não apenas uma. Já usamos celulares em larga escala há tempo suficiente para que estudos indicassem algumas consequências de usá-los tanto. Ainda assim, as pesquisas feitas a respeito por uma infinidade de órgãos e institutos especializados apresentam resultados dos mais diversos possíveis, métodos nem sempre confiáveis e conclusões por vezes precipitadas e tendenciosas.
20 anos de estudos
Dessa vez, foi um estudo realizado no Reino Unido que levantou novamente a polêmica. Segundo a pesquisa, que rastreou a incidência de todos os casos diagnosticados de câncer cerebral na Inglaterra de 1995 a 2015, o número de casos se manteve mais ou menos parecido com o passar do tempo com exceção para um tipo específico da doença, o glioblastoma multiforme, que foi de 953 casos em 1995 para nada menos que 2.531 em 2015.
Tudo isso indicaria, de maneira aparentemente óbvia, alguma mudança de hábito ou estilo de vida das pessoas
O estudo não se propunha, no entanto, a oferecer um motivo para esse aumento, sendo responsável apenas por apontar o aumento no registro dos casos. Porém, foi inevitável que os responsáveis oferecessem algum tipo de explicação que indicasse o motivo de um tipo tão específico de câncer – e, diga-se de passagem, tão agressivo – aumentasse tanto nesses 20 anos de período do estudo.
O que mudou? O celular
O trabalho em si não é sobre celulares; é apenas sobre essa mudança nos tumores
Tudo isso indicaria, de maneira aparentemente óbvia, alguma mudança de hábito ou estilo de vida das pessoas e aí fica bastante fácil apontar para o potencial vilão: o celular. Claro que são levados em conta outros elementos, como o aumento de todo tipo de emissão de ondas de rádio, maior exposição a raio X medicinal, tomografia computadorizada, entre outros.
O foco, porém, vai sempre acabar sendo os smartphones e similares, como afirmou um dos próprios autores da pesquisa: “O trabalho em si não é sobre celulares; é apenas sobre essa mudança nos tumores… Mas os celulares parecem realmente ser a causa mais provável”, disse Alasdair Philips em depoimento para a CNN.
“Pode ser que não seja”
Outros estudos realizados em países diferentes, como os Estados Unidos, indicaram resultados muito parecidos, da mesma maneira que algumas pesquisas não só diferiram disso, mas mostraram o oposto – uma redução na incidência desse tipo de câncer. No fim das contas, o debate e a dúvida continuam: celulares causam câncer de cabeça nas pessoas? Keith Neal, professor emérito de epidemiologia da Universidade de Nottingham, acha que é impossível afirmar isso com base nessas pesquisas:
Como seu uso em larga escala tem menos de 20 anos, ainda não houve nem tempo e nem pesquisas suficientes para que resultados mais precisos fossem obtidos
“Os autores demonstram claramente um aumento em um tipo de câncer cerebral, o que é motivo de preocupação. A sugestão de que o uso de telefones celulares é responsável não pode ser comprovada, já que o aumento é maior em pessoas com mais de 55 anos, que usam celulares muito menos, e houve muito pouco uso de celulares em 1995, quando as taxas já estavam aumentando”, disse Neal.
No fim das contas, estamos muito distantes de bater o martelo e afirmar categoricamente se o uso de celulares pode ou não apresentar algum risco desse tipo. Como seu uso em larga escala tem menos de 20 anos, ainda não houve nem tempo e nem pesquisas suficientes para que resultados mais precisos fossem obtidos e, portanto, é impossível afirmar qualquer uma das respostas com certeza absoluta e garantia científica de estar certo.