Quando o movimento decasségui se iniciou no final da década de 80, muitos brasileiros foram para o Japão com objetivo de comprar uma casa e/ou montar um negócio próprio no Brasil.
Ao longo desses anos muitos brasileiros se estabeleceram no Japão, trabalham e moram com suas famílias, então surgiu um grande dilema educacional: Qual seria a melhor escola para os filhos, japonesa ou brasileira?
A falta de planejamento educacional pelas instituições governamentais (brasileira e japonesa) para sanar esse dilema tem levado milhares de crianças e jovens a um futuro incerto e até a delinquência.
O governo japonês tem se esforçado para minimizar essa situação, preparando as escolas e capacitando pessoas para atender essa demanda, mas é necessário e fundamental definir metas e objetivos educacionais por parte dos pais em relação aos filhos.
A verdade é que as escolas brasileiras não são estruturalmente desenvolvidas para propiciar uma educação de qualidade como as escolas particulares do Brasil, além de serem caras. Mas é a oportunidade para que as crianças sejam alfabetizadas em português e não se esqueçam de sua língua nativa.
As escolas japonesas têm um método disciplinar bem rígido. São metódicas, com pouca flexibilidade, mas são a porta aberta para uma perspectiva de futuro para as crianças, visto que, frequentando a escola japonesa, toda a família terá acesso a uma boa parte da cultura nipônica, e a chance de integração na sociedade japonesa é bem maior.
Qual o intuito de matricular um filho em uma escola brasileira no Japão? É de que a volta para o Brasil, um dia, é uma certeza. Mas e se esse dia nunca chegar? E é realmente isso o que vem acontecendo. Muitos pais ingressam seus filhos em escolas brasileiras para que, um dia, quando regressar ao Brasil, a criança esteja adaptada à educação brasileira, sem problemas no acompanhamento escolar.
Mas a realidade está bem longe disso, pois, para a maioria, esse dia de regresso ao Brasil não chega nunca, ou está cada vez mais distante, e o tempo vai passando, as crianças crescem, chega a hora de ingressar em uma faculdade, então muitos desistem, pois faculdade no Japão custa caro.
Além disso, eles não sabem japonês, afinal, estudaram em escola brasileira! O que acontece é que acabam indo para as fábricas, virando mão de obra não qualificada e barata. E se isso não acontecer, e retornarem ao Brasil, o ritmo escolar do Brasil é diferente daqui. As escolas no Brasil, pelo menos as particulares, são mais difíceis do que as escolas brasileiras daqui.
A culpa disso tudo não é propriamente das escolas brasileiras no Japão. Tenho conhecimento de que as escolas aqui lutam por um ensino de qualidade, mas é tudo mais difícil. Uma equipe pedagógica de qualidade já é difícil de ser mantida no Brasil, imagine aqui, do outro lado do mundo. Além de ser oneroso, pois as apostilas, livros e todo o material pedagógico têm que ser importado do Brasil.
Só para citar um exemplo de que a conciliação das duas escolas é possível: a minha filha frequenta as duas escolas, tanto a brasileira quanto a japonesa. Sei que é puxado, mas é para o bem dela. Hoje em dia, tem que se ter diferencial, e ter o domínio dos dois idiomas já significa estar dois passos à frente de muita gente.
E, assim como ela, tenho amigos que frequentaram as duas escolas e foram alfabetizados em português e japonês. Hoje, eles podem escolher qual o melhor emprego, quanto querem ganhar, e isso só contribui para uma melhor qualidade de vida.
Outro dia, ouvi um comentário do tipo: “Nossa, que dó desses jovens que vão entrar na fábrica. Eles estão há mais de dez anos no Japão e não sabem falar nada de japonês”. Realmente, um desperdício total, mas o inverso também considero como desperdício. Indo para a escola japonesa, a criança passa a se comunicar somente em japonês e acaba esquecendo o português, sendo ela uma pessoa brasileira que não sabe falar português…
Para tentar amenizar e sanar todo esse dilema educacional, o cônsul brasileiro de Tóquio, Marco Farani, tem desprendido uma atenção especial, usando de recursos como palestras e orientações para que a família brasileira tenha acesso às informações. Não necessariamente influenciando para a escolha de uma escola ou outra, e sim conscientizando sobre a importância da educação para o jovem brasileiro que vive no Japão.
É importante que os pais vejam que, para os jovens, estudar é mais importante que trabalhar. Muitos pais acabam preterindo os estudos dos filhos, e incentivam que eles trabalhem, afinal, o custo de vida no Japão é alto, e uma pessoa a mais trabalhando já faz toda a diferença.
Cada família sabe o que é melhor para si, mas quero ressaltar que os estudos abrem muitas portas, e a longo prazo esse é o caminho para o sucesso.