Conheça o japonês que salvou a vida de milhares de judeus
Durante a Segunda Guerra Mundial, um cônsul japonês arriscou sua vida e sua brilhante carreira para salvar a vida de mais de 6 mil judeus. Por este motivo, ele ficou conhecido como o “Schindler japonês”, em referência ao industrial alemão Oskar Schindler.
Segundo consta, Oskar Schindler teria salvo 1200 judeus durante o Holocausto. Sua história foi amplamente divulgada, dando origem a um romance e até um filme.
Já Chiune Sugihara, jamais alardeou seu heroísmo e sua história foi pouco divulgada na época, porém hoje é reconhecido como um dos maiores humanistas do mundo. Estima-se que mais de 80 mil descendentes de judeus devem sua existência a Chiune Sugihara.
Em sua lápide, está gravado seu nome: Chiune. Coincidência ou não, essa palavra, em japonês, quer dizer mil novas vidas.
A história de Chiune Sugihara
Chiune Sugihara nasceu em 1 de janeiro de 1900 em Yaotsu, uma área rural e bem pobre na província de Gifu. Ele foi o segundo filho de uma família com 6 irmãos. Seu pai queria que ele seguisse a carreira de medicina, mas o sonho de Chiune era estudar literatura e morar no exterior.
Sugihara seguiu seu sonho e foi estudar inglês na conceituada Universidade Waseda em 1918, se formando em Literatura Inglesa. Em 1919, passou no exame para o Ministério das Relações Exteriores, indo trabalhar em Harbin, na China, onde também estudou os idiomas Russo e Alemão.
Em março de 1939, quando a Segunda Guerra Mundial estava prestes a eclodir na Alemanha, ele foi designado pelo Governo japonês a abrir um consulado em Kaunas, Lituânia.
Seis meses depois, a Alemanha invadiu a Polônia e uma onda de refugiados judeus correram para a Lituânia. As notícias e relatos sobre as atrocidades alemãs contra judeus poloneses se espalharam rapidamente.
A Lituânia estava dominada pelos russos, mas era questão de tempo até que as tropas alemãs chegassem ao local. O cônsul holandês em Kaunas, Nathan Goodwill, concordou em emitir vistos para Curaçao, possessão holandesa no Caribe.
A Rússia permitiu a emigração dos judeus desde que apresentassem visto de entrada e de trânsito em outro país, após cruzarem a União Soviética.
Mas, para chegar ao Caribe, os refugiados deveriam passar pelo Japão. Assim, na manhã de 27 junho de 1940, havia uma multidão de pessoas em volta do prédio (do consulado). No início eram apenas 200, mas logo chegariam milhares.
Sem saber o que fazer, Chiune pediu instruções a Tóquio sobre os vistos de trânsito requeridos pelos judeus. Foram três os pedidos e os três foram negados.
Mas os olhares suplicantes dos refugiados, fizeram com que Chiune tomasse uma decisão que mudaria para sempre os rumos da sua vida. Ele desobedeceu as ordens superiores com um único objetivo: salvar vidas.
No início, Chiune pretendia emitir 300 vistos por dia e registrá-los nos livros consulares. Quando já havia preenchido à mão cerca de 2.000 vistos, o cônsul parou de registrar os vistos e de cobrar a taxa oficial.
Durante quase um mês, trabalhou de manhã até a noite sem almoçar, sem pausa para um descanso. De 31 de julho a 28 de agosto, foram emitidos cerca de 6.000 vistos. No final de agosto, o consulado foi fechado por ordem das autoridades soviéticas, que haviam anexado a Lituânia.
Mas Chiune continuou emitindo cartas de autorização no hotel em que ficou hospedado antes de seguir para seu novo posto e mesmo dentro do trem parado na estação. Os portadores dos vistos emitidos por Chiune saíram de Kaunas de trem rumo a Moscou e depois, pela estrada de ferro Transiberiana, até o Pacífico e o Japão. A maioria dos refugiados conseguiu salvar-se.
O preço da sua generosidade
O ato de Chiune Sugihara salvou milhares de vida, mas custou sua brilhante carreira diplomática. Ao voltar para o Japão depois da guerra, em 1947, foi sumariamente demitido. Por ser fluente em russo, Chiune mudou-se com sua família para Moscou em 1950, onde trabalhou como tradutor em uma empresa de comércio exterior. Aposentou-se em 1975, quando resolveu regressar ao Japão.
Apesar do seu país ser aliado da Alemanha nazista, Sugihara não temeu seguir o que mandava o seu coração. Além disso, jamais mencionou os seus feitos a ninguém. Por este motivo, por quase 30 anos, pouco se sabia dele até que em 1968, ele foi localizado por Joshua Nishri, um dos refugiados a quem ele concedeu o visto na Lituânia.
Esse encontro foi muito especial para Chuine, pois até então ele não tinha certeza se os vistos concedidos por ele haviam realmente ajudado os refugiados.
Sua ação a favor dos judeus foi reconhecida pelo governo de Israel, que o condecorou em 1985. Em 31 de julho de 1986, Chiune Sugihara morreu aos 86 anos, cinco anos antes do vice-ministro das Relações Exteriores do Japão, Muneo Suzuki, reconhecer seu ato humanitário e pedir desculpas à família.
Sua história pode ser encontrada no livro “Passaporte para a Vida”, escrito por sua esposa Yukiko Sugihara e também no documentário “Conspiracy of Kindness” (assista-o aqui). Em 11 de Outubro de 2005, a Yomiuri TV (Osaka) exibiu o filme “Vistos para a Vida”, baseado no livro de sua esposa.
Vistos para a Vida (completo sem legenda)
Em 2015, outro filme sobre sua vida foi parar nas telinhas dos cinemas: Chiune Sugihara (杉原千畝), mas em inglês recebeu o nome de “Persona Non Grata”. O filme foi dirigido por Cellin Gluck e tem o ator Toshiaki Karasawa como protagonista. Assista ao filme abaixo:
Fonte: Japão em Foco