Atualmente, usamos mais de 70% da superfície livre de gelo da Terra. E essa ocupação está gerando um grande impacto: um novo relatório emitido pelo Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC) afirma que a agricultura, a silvicultura e outras práticas de uso da terra são responsáveis ??por cerca de 23% das emissões de gases de efeito estufa causadas pelo homem. O relatório também acrescenta que não podemos parar a crise climática sem mudar hábitos e a forma como usamos a terra.
A agropecuária e as emissões de carbono
As emissões relacionadas ao uso da terra respondem por 13% das emissões globais de CO2, sendo 44% das emissões de metano e 82% das emissões de óxido nitroso (N2O). O relatório do IPCC especifica que um número crescente de ruminantes (em especial as vacas) e um aumento na produção de arroz são responsáveis ??pelos recentes aumentos no metano. Enquanto isso, o N2O – um gás de efeito estufa 200 vezes mais poderoso que o CO2 – é derivado principalmente do uso de fertilizantes.
Quando os agricultores aplicam mais fertilizante de nitrogênio aos campos do que as plantas podem absorver, alguns micróbios o usam na respiração, e não oxigênio, liberando N2O durante o processo. Além disso, o estrume animal também contém altos níveis de nitrogênio e o uso intensivo da terra também está promovendo um processo conhecido como desertificação e aumentando a erosão do solo. Nas terras cultivadas convencionais, o vento e a água corroem o solo 100 vezes mais rápido do que o tempo que ele leva para se regenerar.
Problemas tropicais
Os pesquisadores também observam a relevância do relatório para as florestas tropicais, onde crescem as preocupações sobre a aceleração das taxas de desmatamento. As florestas tropicais da Amazônia são extremamente importantes para esfriar a temperatura global, mas as taxas de desmatamento estão aumentando, em parte devido às políticas e ações do governo do presidente Jair Bolsonaro.
No ritmo atual, o desmatamento pode transformar grande parte das florestas amazônicas remanescentes em um deserto degradado, liberando mais de 50 bilhões de toneladas de carbono na atmosfera em 30 a 50 anos, estima Carlos Nobre, cientista da Universidade de São Paulo, no Brasil. “Isso é muito preocupante. Mas eu acho que as implicações políticas do relatório serão positivas no sentido de pressionar todos os países tropicais a reduzir as taxas de desmatamento”, disse Nobre em entrevista à Nature nesta semana.
Mudança de hábito
Para limitar o aquecimento a 1,5ºC ou abaixo de 2ºC, como é necessário para evitar os efeitos mais desastrosos da mudança climática, os autores do relatório observam que será preciso mudar a forma como usamos a terra. Há uma série de opções e caminhos a seguir, como plantar árvores e conservar florestas existentes, por exemplo.
Além disso, o relatório descreve as dietas baseadas em vegetais como uma grande oportunidade de mitigação e adaptação às mudanças climáticas, incluindo uma recomendação para reduzir o consumo de carne. “Não queremos dizer às pessoas o que comer”, diz Hans-Otto Pörtner, um ecologista que co-preside o grupo de trabalho do IPCC sobre impactos, adaptação e vulnerabilidade. “Mas, de fato, seria benéfico, tanto para o clima quanto para a saúde humana, se as pessoas em muitos países ricos consumissem menos carne, e se os representantes políticos criassem incentivos apropriados para esse efeito”.
Até 2050, as mudanças na dieta podem liberar milhões de quilômetros quadrados de terra e reduzir as emissões globais de CO2 em até oito bilhões de toneladas por ano, em relação ao nível atual, estimam os cientistas.