Como o Japão foi criado, segundo a mitologia japonesa
Kojiki 古事記 é o livro mais antigo sobre a história do Japão, concluído no início do século oitavo, entre 711 e 712 a mando da Imperatriz Gemmei, a 43° monarca do Japão, segundo a linha de sucessão imperial, que pediu ao cronista Ō no Yasumaro a criação de uma compilação de contos, mitos e histórias relacionadas às criações das ilhas japonesas e kami (deuses) em geral.
Já o Nihon Shoki 日本書紀 (As Crônicas de Japão) surgiu alguns anos mais tarde, no ano de 720 para ser mais preciso, compilado sob ordem do príncipe Toneri no Miko (filho do Imperador Temmu). Nos dois livros é possível encontrar contos sobre a a criação mitológica das ilhas japonesas.
Embora existam divergências em alguns pontos, os livros nos revelam lendas interessantes relacionadas à criação do Universo, das ilhas do Japão e dos kami (deuses). Essas lendas fazem parte do folclore japonês e são componentes importantes do xintoísmo, a religião nativa do Japão. Hoje, iremos conhecer um pouco sobre Izanami e Izanagi, os deuses que criaram o Japão.
Izanami e Izanagi – A Criação do Japão
Izanami e Izanagi na Ponte Flutuante do Céu – Utagawa Hiroshige (1849-1850)
Izanami (aquela que convida) e Izanagi (aquele que é convidado) eram deuses que representavam o Céu e a Terra, e foram eles os criadores de Oyashima (as grandes oito ilha do arquipélago japonês). Também criaram o Sol, a Lua, as tempestades e outros fenômenos naturais além de serem os responsáveis pelo nascimento de outros deuses e da civilização japonesa como um todo.
Naqueles tempos primórdios, só existia um oceano de caos. Kunitokotachi, o governante eterno da terra, apareceu da massa borbulhante com duas divindades subordinadas. Desses deuses nasceram Izanagi e sua irmã (futura esposa) Izanami, considerados enviados dos céus. Depois de criar uma ilha utilizando um arpão, ali estabeleceram um lar e criaram uma coluna sagrada.
Caminhando em direções opostas ao redor da coluna, o casal se encontrou e Izanami elogiou a beleza de Izanagi. Então se casaram e o primeiro filho que nasceu foi um monstro; o segundo, uma ilha. O casal então pediu explicações aos deuses que lhes informaram que a iniciativa do encontro sexual tinha que partir de Izanagi e não de Izanami, como vinha ocorrendo até então.
Seguindo essa orientação, tiveram mais filhos, não só as ilhas que formam o Japão, como inúmeras divindades. O último a nascer dessa união foi Kagutsuchi, o deus do fogo, que acabou queimando Izanami, provocando sua morte. Do vômito, da urina e dos excrementos da deusa ao morrer, nasceram outros deuses. Izanagi ficou tão furioso com o filho, que o decapitou com a espada.
Imagem (Youtube/Reprodução)
Das gotas de sangue de Kagutsuchi (deus do fogo) que caíram da espada nasceram oito deuses e do corpo sem cabeça de Kagutsuchi surgiram mais oito divindades da montanha. Inconsolável com a morte de Izanami e como ainda não tinham acabado com o trabalho de criação da terra, Izanagi se dirigiu até a “terra das melancolias” (yomotsu-kuni) para tentar resgatar sua esposa.
Ela o recebeu na porta dos infernos e pediu-lhe que esperasse ali enquanto organizava sua liberação dos poderes da morte, proibindo-o que entrasse e a olhasse de perto. Com saudades de sua mulher, Izanagi não esperou e acendendo uma tocha, penetrou na terra da melancolia e teve a horrível visão de Izanami em plena decomposição, e em volta vermes retorcidos e serpentes.
Sentindo-se humilhada, a deusa mandou soldados do inferno, mulheres horríveis e deuses do trovão para que despedaçassem Izanagi, mas este conseguiu repelir os demônios e fugir. Ao final, Izanami saiu da cova e se divorciou do marido, retornando depois para o inferno, cuja porta foi fechada com uma enorme rocha, separando definitivamente o mundo dos vivos com a dos mortos.
Izanami se sentiu desonrado pelo acontecido e foi se purificar no mar. Ao tirar a roupa e seus objetos pessoais, estes se converteram em deuses e deusas. A sujeira que saiu no banho se transformou em outros deuses malignos, forçando Izanagi a criar deidades marinhas para manter o equilíbrio.
Ao lavar o rosto, de seu olho esquerdo nasceu Amaterasu, a deusa do sol, do seu olho direito, Tsuki-yomi, o deus da lua, e do seu nariz Susanowo, o deus da tempestade. A deusa Amaterasu herdaria os céus, Tsukuyomi tomaria o controle da noite e Susanoo seria o deus da tempestade e dos mares.