A quantidade de crimes cometidos por pessoas com mais de 65 anos vem aumentando constantemente há 20 anos. Em 1997, essa faixa etária representava cerca de 5% das condenações, mas em 2017 esse percentual aumentou para 20%.
Muitos desses criminosos alegam que comentem crimes porque são pobres. Entre eles está o senhor Toshio, de 69 anos, ele disse que queria um lugar para morar gratuitamente, mesmo que estivesse atrás das grades.
“Cheguei à idade da aposentadoria e fiquei sem dinheiro. Então me ocorreu – talvez se eu pudesse morar de graça, mesmo se fosse à cadeia”, diz ele.
“Então eu peguei uma bicicleta e fui até a delegacia e disse ao policial: ‘Olha, eu peguei isso’”.
O plano funcionou. Esta foi o primeiro crime de Toshio, cometida quando ele tinha 62 anos, ele recebeu uma sentença de um ano.
E como Toshio, muitos desses infratores idosos são reincidentes. Dos 2.500 maiores de 65 anos condenados em 2016, mais de um terço teve mais de cinco condenações anteriores.
Outro exemplo é Keiko (nome fictício). Setenta anos de idade, pequena e bem apresentada, ela também disse que a pobreza foi sua ruína.
“Eu não conseguia me dar bem com meu marido. Eu não tinha onde morar e nenhum lugar para ficar. Então, a única escolha: roubar”, diz ela. “Mesmo as mulheres na faixa dos 80 anos que não conseguem se autossustentarem estão cometendo crimes. É porque não conseguem encontrar comida e dinheiro.”
O furto, principalmente furto em lojas, é esmagadoramente o maior crime cometido por infratores idosos. Eles roubam comida que vale menos de 3.000 ienes de uma loja.
Segundo Michael Newman, demógrafo australiano, ele aponta que a pensão estatal básica “miserável” no Japão é muito difícil de viver.
Em um documento publicado em 2016, ele calcula que os custos de aluguel, alimentação e assistência médica só deixarão os beneficiários endividados se não tiverem outra renda.
No passado, era tradição que os filhos cuidassem de seus pais, mas em certas províncias a falta de oportunidades econômicas levou muitos jovens a se afastarem, deixando seus pais desamparados.
“Os aposentados não querem ser um fardo para seus filhos, e sentem que, se não puderem sobreviver com a aposentadoria do Estado, a única maneira de não serem um fardo é irem para a prisão”, diz ele. .
A reincidente é uma forma de “voltar para a prisão”, onde há três refeições por dia e nenhuma conta, diz ele.
Newman aponta que o suicídio também está se tornando mais comum entre os idosos – outra forma deles cumprirem o que consideram como “seu dever”.
“Em última análise, o relacionamento entre as pessoas mudou. As pessoas se tornaram mais isoladas. Elas não encontram um lugar para estar nesta sociedade. Elas não conseguem aguentar sua solidão”, diz Kanichi Yamada, de 85 anos. Uma criança que foi retirada dos escombros de sua casa quando a bomba atômica foi lançada em Hiroshima.
Entre os idosos que cometem crimes há um motivo em comum, geralmente eles perdem a esposa ou filhos, então eles simplesmente não conseguem lidar com essa situação … Geralmente as pessoas não cometem crimes se existem pessoas para cuidar deles e dar-lhes apoio.
A história de Toshio que cometeu crime como resultado da pobreza é apenas uma “desculpa”, O cerne do problema é sua solidão. E um dos fatores que o levaram a reincidir, especula, foi a promessa de companhia na cadeia.
Pergunto se ele acha que as coisas teriam sido diferentes se ele tivesse uma esposa e família.
“Se eles estivessem por perto para me apoiar, eu não teria feito isso”, diz ele.
Michael Newman observou enquanto o governo japonês amplia a capacidade prisional e recruta mais guardas prisionais (o número de mulheres idosas criminosas está aumentando rapidamente). Ele também notou um aumento vertiginoso do tratamento médico das pessoas na prisão.
Michael Newman argumenta que seria muito melhor – e muito mais barato – cuidar dos idosos sem as custas dos processos judiciais e do encarceramento.
“Na verdade, construir um condomínio de idosos onde pagassem apenas metade de suas pensões, mas ganhasse comida, moradia e cuidados médicos gratuitos e assim por diante, e talvez pudessem cantar karaokê com outros moradores e ter certa liberdade. Custaria muito menos do que os gastos do governo no momento”, diz ele.
Mas ele também sugere que a tendência dos tribunais japoneses de condenar penas de prisão por pequenos furtos “é um pouco bizarra, em termos da punição”.
“Mesmo que eles roubassem apenas um pedaço de pão”, diz Masayuki Sho, do Serviço Prisional do Japão, “foi decidido no julgamento que é apropriado que eles sejam presos, portanto precisamos ensiná-los da seguinte maneira: como viver sociedade sem cometer crime “.
Não sei se o serviço prisional ensinou a Toshio Takata essa lição, mas quando pergunto se já está planejando o próximo crime, ele nega.
“Eu não quero fazer isso de novo, e logo estarei com 70 anos e serei velho e frágil da próxima vez. Não farei isso de novo.”