Masabumi Hosono era o único japonês à bordo do navio Titanic em 1912. Na época, ele tinha 41 anos, trabalhava como funcionário público no Japão e voltava de um longo período de trabalho na Rússia e Londres. Logo nas primeiras horas da manhã em 15 de abril, Hosono recebeu uma notícia alarmante: O navio em que estava havia se chocado com um Iceberg e a situação estava crítica, pra não dizer desesperadora.
O Titanic estava afundando… Além de ser estrangeiro, Hosono era passageiro da segunda classe e foi mandado para o térreo, bem longe dos botes salva-vidas. Mas em meio ao tumulto, ele chegou até o convés. Foi quando se deparou com um grande dilema que mudaria o rumo de sua vida: Um marinheiro avisava que ainda restavam dois lugares em um bote que já estava de partida e lotado de mulheres e crianças.
Um homem correu para ocupar um dos lugares, o que incentivou Hosono a fazer o mesmo. Neste momento tão dramático em sua vida, Hosono se angustiava ao pensar que nunca mais encontraria sua mulher e seus filhos que haviam ficado no Japão. Ele chegou inclusive a escrever uma carta para sua amada, intitulada como “On Board RMS Titanic”, assim que soube que a navio iria afundar.
Masabumi Hosono então, conseguiu se salvar do naufrágio do Titanic através do Lifeboat 13, um dos poucos botes salva-vidas do transatlântico. Por muitos, poderia ser considerado um herói, mas ao chegar no Japão, a história não foi bem assim. Aliás, pode-se dizer que a maior tragédia da sua vida não foi estar à bordo do Titanic e sim por ter sobrevivido ao naufrágio, um dos maiores da história.
Uma das poucas fotos que se tem do japonês Masabumi Hosono
No início, Hosono foi entrevistado por uma série de revistas e jornais, incluindo o jornal Yomiuri Shimbun, que publicou uma foto dele com sua família. Mas pouco tempo depois, passou a ser criticado e seu ato foi comparado à de Benjamin Guggenheim, um magnata que em um ato de cavalheirismo, preferiu vestir-se com o seu melhor traje de gala, e junto com seu fiel servo, esperou pela morte no bar do navio, ao invés de ocupar o lugar de uma mulher ou de uma criança em um bote salva-vidas.
Em 1912, as virtudes samurais, tais como honra, coragem, abnegação e sacrifício, eram muito mais evidentes que hoje em dia, e portanto, a sobrevivência de Hosono foi visto como um ato covarde. Para a sociedade japonesa da época, Hosono não fez nenhum feito digno de nota. Apenas sobreviveu… e aparentemente às custas de uma das centenas de vidas que não tiveram a mesma sorte.
Talvez isso tenha se agravado por Hosono pertencer a uma linhagem de samurais, que como sabemos são conhecidos por suas “mortes honrosas”. Ele foi demitido do emprego, passou a ser bombardeado com mensagens de ódio por seus próprios compatriotas e foi condenado ao ostracismo social.
Seu “ato de covardia” teria sido usado como exemplo nas escolas da época e sua própria filha em idade escolar teve que conviver com as calúnias voltadas ao seu pai. Hosono foi tornando-se um homem cada vez mais recluso e sempre discreto quando o assunto era sobre o Titanic. Talvez, o arrependimento e o desejo de tirar a própria vida tenha passado por sua mente diversas vezes.
Carta escrita por Masabumi Hosono enquanto estava no Titanic
Hosono e sua família passaram também por muitas dificuldades financeiras, uma vez que havia sido demitido do emprego. Porém, logo após o terremoto de Kanto no ano de 1923, Hosono foi convocado para trabalhar na rede ferroviária japonesa, já que era um profissional muito qualificado na área. E assim foi sua vida, até morrer por causas naturais em 1939, aos 68 anos de idade.
Hosono foi condenado pela sociedade japonesa por não ter priorizado o espírito nobre de um samurai. Era uma época em que o Japão se gabava do seu nacionalismo e se deslumbrava sobre suas vitórias sobre a China e a Rússia.
A nação toda em geral queria exibir ao mundo não apenas sua capacidade militar como também seu senso de dever patriótico.
Aos olhos de muitos, Hosono não fez a lição de casa como deveria e pagou caro por isso.
A história de Hosono permaneceu uma fonte de vergonha para sua família durante décadas, mas a reviravolta se deu com o lançamento do filme Titanic em 1997, quando finalmente o “poshumous pardon” foi concedido oficialmente pelo governo japonês, o que trouxe um grande alívio à família Hosono.
Por causa do filme, o interesse pela história de Hosono foi renovado e reavaliado. Passou a ganhar a simpatia das pessoas por começar a ser visto não como um covarde e sim, por ter colocado o amor que sentia por sua família acima de suas convicções sobre honra e códigos de conduta.
O neto de Hosono faz parte da banda japonesa Yellow Magic Orchestra e tem usado sua fama para recontar a história de seu avô. Em uma entrevista, Haruomi “Harry” Hosono mostrou o outro lado de seu avô: Um homem dedicado à família, cujo único desejo era rever a esposa e os seis filhos.
Fonte: Japão em Foco