Na manhã de 6 de agosto de 1945, a primeira bomba atômica da história foi lançada sobre civis em Hiroshima e uma onda de destruição acometeu toda a cidade. Milhares de pessoas foram queimadas instantaneamente, sem a menor chance de sobrevivência. Os que tiveram sorte de escapar com vida, ficaram com queimaduras terríveis por todo corpo, além de sequelas irreparáveis.
Com a cidade destruída após o bombardeio, muitos sobreviventes foram para Nagasaki; alguns foram para hospitais e outros em busca da ajuda de familiares que viviam na cidade. Mas eles jamais poderiam imaginar que, três dias depois, viveriam novamente este terrível pesadelo.
Mais uma vez, a bomba atômica detonava uma cidade, causando milhares de mortes e toda a destruição vista em Hiroshima agora recaía sobre a cidade de Nagasaki. Acredita-se que cerca de 160 pessoas tiveram a infelicidade de presenciar o evento nas duas cidades, e são chamadas de Niju Hibaku, que em tradução literal significa “pessoas duplamente bombardeadas”.
Porém, com a falta de registros por parte do governo e o caos depois da rendição do Japão, apenas Tsutomu Yamaguchi foi oficialmente reconhecido pelo governo japonês como único sobrevivente das duas explosões. Na época, Yamaguchi tinha 29 anos, era engenheiro e morava em Nagasaki. Quando Hiroshima foi bombardeada, Yamaguchi estava lá. Ele tinha ido à cidade a trabalho.
O epicentro da explosão estava a apenas 3 km de distância de onde Yamaguchi se encontrava. Diferente de outras 140 mil pessoas que também estavam em Hiroshima naquele momento, Yamaguchi sobreviveu ao bombardeio, mas a explosão rompeu seu tímpano esquerdo, cegou-o temporariamente e causou queimaduras graves no lado esquerdo e superior de seu corpo.
Mesmo muito ferido, Yamaguchi voltou à Nagasaki no dia seguinte, onde recebeu tratamento para as seus ferimentos e, apesar de não estar bem fisicamente, foi trabalhar no dia 9 de Agosto, data em que ocorreu o bombardeio atômico em Nagasaki. Novamente, ele estava a cerca de 3 km do epicentro e conseguiu salvar-se, ao contrário de outras 90 000 pessoas que não tiveram a mesma sorte.
Com a destruição de Nagasaki, reduzida a ruínas após o bombardeio atômico, Yamaguchi não conseguiu tratar de seus ferimentos e sofreu de uma febre alta por mais de uma semana.
Depois que a guerra terminou, Yamaguchi trabalhou como tradutor para as forças de ocupação americana e, em seguida, tornou-se um professor. Anos mais tarde, ele voltou a trabalhar na Mitsubishi.
Sua esposa e seu filho que ainda era bebê na época, também sobreviveram, mas tiveram muitas complicações de saúde devido à exposição da radiação. Sua esposa morreu de câncer de rim e de fígado em 2008, aos 88 anos e seu filho primogênito também morreu de câncer, aos 59 anos.
Tsutomu Yamaguchi, apesar das sequelas causadas pela bomba atômica, levou uma vida razoavelmente saudável durante um longo período, porém no fim da vida passou a sofrer com doenças relacionadas a exposição radioativa, incluindo cataratas e leucemia aguda.
Tsutomu Yamaguchi faleceu no dia 4 de janeiro de 2010, aos 93 anos, vítima de um câncer no estômago. Apesar de tudo que sofreu, teve uma vida longa e deixou um grande legado para as futuras gerações em relação ao desarmamento nuclear e a luta pela paz entre as nações.
As experiências de Tsutomu Yamaguchi
No início, Yamaguchi não sentiu necessidade de chamar a atenção pela sua dupla sobrevivência às bombas. No entanto, quando envelheceu, sentiu que a sua sobrevivência era obra do destino e requereu ao governo japonês o reconhecimento, o que de fato aconteceu em março de 2009.
Ele também escreveu um livro sobre suas experiências, quando tinha a idade de 80 e foi convidado para participar de um documentário realizado em 2006 sobre os 160 sobreviventes de ambos os bombardeios atômicos (também conhecidos como nijū hibakusha no Japão).
O documentário Twice Survived: The Doubly Atomic Bombed of Hiroshima and Nagasaki(As duplas sobrevivências: As duas bombas de Hiroshima e Nagasaki) foi exibido na Organização das Nações Unidas.
Tsutomu Yamaguchi ficou conhecido como um árduo e fervoroso defensor da paz e do desarmamento nuclear. Em uma entrevista ele disse: “Não consigo entender porque o mundo continua a produzir armas nucleares, mesmo após o que aconteceu em Hiroshima e Nagasaki”.
Yamaguchi foi mais um dos cerca de 260.000 pessoas que sobreviveram aos ataques, mas foi único a ser reconhecido como sobrevivente das duas bombas atômicas. Assim como ele, muitos outros sobreviveram duplamente, embora não sejam oficialmente reconhecidos pelo governo.
Vídeos sobre Tsutomu Yamaguchi
Abaixo, uma reportagem exibida no Fantástico:
Esse outro documentário chamado de “Twice Bomed; The Legacy of Yamaguchi Tsutomu”(Duas vezes bombardeado; O Legado de Tsutomu Yamaguchi) tem o relato do próprio sobre sua história e experiência sobre as duas bombas. Ele recebeu a visita do famoso cineasta James Cameron, que prometeu-lhe fazer um filme sobre sua história com o intuito de mostrar os malefícios das armas nucleares e espalhar a mensagem de paz pelo mundo.
“Um por todos e todos por um”
Esta foi a mensagem que Yamaguchi quis deixar para as gerações mais jovens. Durante sua vida, Yamaguchi se dedicou em mostrar que as pessoas podem trabalhar juntas para alcançar a paz mundial.
Fonte: Japão em Foco