As estrelas de neutros estão entre os astros mais densos – e estranhos – do Universo, mas, recentemente, cientistas descobriram um que não só é bizarro, como, de acordo com os modelos ditados pelas Leis da Física, não deveria nem existir. O objeto, um pulsar batizado com a sigla J0740+6620, se encontra a uma distância de 4,6 mil anos luz da Terra e consiste no corpo dessa classe mais massivo já encontrado. E essa estrela é tão, tão densa que, segundo estimaram os astrônomos, ela se encontra no limite entre existir e entrar em colapso e se converter em um buraco negro.
Esquisitice cósmica
As estrelas massivas, com massas entre 8 e 30 vezes à do nosso Sol, quando chegam ao final de suas vidas, entram em colapso formando as estrelas de nêutrons que, como mencionamos antes, são corpos ultradensos e massivos dotados de fortes campos magnéticos e que apesentam rápida rotação – por isso também são chamadas de pulsares. Tipicamente, esses objetos contam massas equivalentes ou superiores à do nosso Sol concentrada em um espaço equivalente ao de uma cidade, então, imagine!
No entanto, quando se trata de um pulsar massivo e denso demais, a força gravitacional presente em seu núcleo pode se tornar tão extraordinariamente poderosa que a estrela “implode”, se convertendo em um buraco negro. Pois, o astro descoberto agora se encontra no limiar desse limite que os cientistas acreditavam ser possível até uma dessas estrelas entrar em colapso sob a própria gravidade.
Supermassiva
Segundo estimaram os astrônomos, a J0740+6620, possui massa equivalente a 2,17 vezes à do Sol – compactada em um corpo de apenas 30 quilômetros de diâmetro, o que faz dela a primeira estrela de nêutrons com o dobro da massa do nosso Astro-Rei já descoberta no cosmos. Só para você ter ideia, o Sol mede pouco menos de 1,4 milhão de quilômetros de diâmetro e sua massa é mais de 330 mil vezes superior à da Terra.
E como é que os cientistas conseguiram medir esses dados absurdos (porque, sim, é difícil imaginar que um astro como esses possa existir!) relacionados com a estrela de nêutrons? Os pulsares giram bastante depressa e emitem a partir de seus 2 polos magnéticos feixes de radiação que viajam pelo espaço e podem ser observados aqui da Terra – e servem para que os cientistas possam examinar a massa de objetos cósmicos, estudar o comportamento do tecido espaço-tempo e testar a Teoria da Relatividade Geral, por exemplo.
A J0740+6620 conta com uma companheira – uma anã branca –, e os astrônomos descobriram com a observação dos trânsitos dessa estrela diante do pulsar que ele gira na escala de milissegundos. Então, depois de determinar com qual regularidade os feixes são emitidos pelo astro e observar como a gravidade da anã branca interfere na radiação emitida pela estrela de nêutrons, os cientistas conseguiram calcular a sua massa com precisão.
Vale lembrar que a observação dessa estrela de nêutrons sugere que podem existir outros desses astros absurdamente massivos por aí – desafiando o que a Física dita como possível. Mas a estrela de neutros J0740+6620 é a mais massiva já identificada (a recordista anterior tem massa 1,4 vezes superior à do nosso Sol) e sua observação pode ajudar os cientistas a desvendarem alguns mistérios sobre esses astros e o Universo.