O Japão é conhecido por uma série de excentricidades, mas um esporte do país parece superar qualquer limite. Trata-se do bo-taoshi, um jogo brutal que é praticado em escolas japonesas. A prática reúne até 150 pessoas em um gramado disputando a partida entre empurrões, socos e clima de pura batalha.
À primeira vista, o jogo assemelha-se ao “rouba bandeira”, mas de uma forma muito mais agressiva. Um lado protege o seu poste, enquanto o outro faz de tudo para derrubá-lo em cerca de dois minutos. O nome “bo-taoshi”, inclusive, significa “derrubar um poste” em tradução do japonês.
Em campo, a prática parece não ter limites. Cada time pode contar com até 75 pessoas e há uma grande dose de violência.
“O jogo é uma mistura de futebol americano, rugby, sumô e artes marciais”, definiu o jornal New York Times. “É louco. Nunca vi nada assim”, avaliou um repórter da CNN ao acompanhar uma partida em Tóquio.
Mas, ao contrário do que parece, há regras para estabelecer o mínimo de ordem e segurança nas partidas. Os jogadores, por exemplo, têm funções definidas em campo. Um pequeno grupo de defensores é responsável por formar um “escudo humano” travando as pernas na base do poste. Um segundo grupo, com mais pessoas, atua no apoio dos que estão na base, enquanto um terceiro e um quarto têm a tarefa de afastar qualquer um que tente se aproximar. Há também um “ninja” que se agarra ao topo do poste e tenta, com o peso do corpo, evitar qualquer tentativa adversária de derrubar o mastro. Para superar as barreiras, os times adotam estratégias específicas que incluem até jogadores lançando-se um por cima dos outros.
Para garantir a integridade física dos jogadores, os participantes fazem uso de capacete e joelheiras. Sapatos são proibidos, já que chutes — inclusive contra a cabeça dos adversários — eventualmente são necessários durante a disputa. Cortes no corpo e narizes sangrando são comuns nas partidas. Eventualmente, os jogadores também deixam o campo com fraturas ou concussões.
A origem deste jogo singular é incerta, mas desde a década de 1940 o bo-taoshi é praticado por militares japoneses. Uma competição é realizada anualmente desde a fundação da Academia Militar do Japão, em 1952, e tem como objetivo demonstrar a força física dos cadetes, suas capacidades operacionais e trabalho em equipe.
O curioso é que a prática, embora indiscutivelmente violenta, passou a se tornar comum também em escolas do país, reunindo crianças e adolescentes em uma batalha repleta de tradição. Algumas regras são adaptadas nas instituições, mas a essência do jogo segue a mesma.
“O Bo-taoshi é praticado anualmente na minha escola por 50 a 60 anos e todos os estudantes são dedicados a este jogo”, disse Iko San, um jogador de bo-taoshi da Johoku Junior e Senior High School, à CNN. “É muito importante para nós nos eventos esportivos da escola, porque faz parte da nossa identidade.”
“É um caos. Pessoas correm para todos os lados e não sabemos o que está acontecendo. Apesar de estarmos completamente envolvidos na multidão, continuamos tentando derrubar o poste. Acho que essa é a beleza do bo-taoshi”, acrescentou Ikko Chikusa, outro praticante da modalidade na escola japonesa.
Excentricidades à parte, ninguém pode negar que o bo-taoshi é um jogo único.
https://youtu.be/IaDbCpUjJVc