Falecido em 7 de janeiro de 1989, o imperador Hirohito foi peça chave no envolvimento do Japão na Segunda Guerra Mundial. Mas um texto, divulgado recentemente pela agência local Kyodo, mostra um lado do imperador até então desconhecido: seu arrependimento diante das lembranças de guerra.
Os trechos datam de 7 de abril de 1987 e são parte do diário de seu camareiro, Shinobu Kobayashi, que tinha então 22 anos. Neles, o Imperador afirma que “não havia sentido em viver” seus últimos anos de vida, em resposta às tentativas da Agência Imperial de Agregados Familiares de reduzir sua carga de trabalho após a morte do irmão, o príncipe Takamatsu.
“Não há sentido em viver uma vida mais longa reduzindo minha carga de trabalho. Só aumentaria minhas possibilidades de ver e escutar coisas atormentadoras”, afirmou ele durante conversa com Kobayashi. “Sofri a morte de meu irmão e parentes e fui informado sobre minha responsabilidade de guerra”.
Seu camareiro teria tentado aliviar as angústias do Imperador, relativizando sua responsabilidade no conflito. “Dado o modo como o país se desenvolveu hoje a partir da reconstrução do pós-guerra, essa é apenas uma página da história. Você não precisa se preocupar”.
Hirohito, que possuía caráter divino enquanto esteve vigente a Constituição Meiji (1890-1947), também controlava a Armada e a Marinha Imperial, que lutaram em seu nome durante a guerra. Determinar sua responsabilidade e influência no governo militarista é uma questão delicada no Japão atual.
O Imperador faleceu dois anos após o registro no diário, aos 87 anos de idade. A Agência Kyodo recebeu o diário de Kobayashi através da família do camareiro, analisando seu conteúdo junto a historiadores antes da divulgação.