Kuniko Urano é a primeira, sim, primeira mulher do conselho de administração da japonesa Komatsu. A empresa fundada há 98 anos é a segunda maior fabricante de equipamentos de construção e mineração do mundo.
A trajetória de Urano, 63 anos, a levou até a sala da diretoria, e o motivo pelo qual ela ainda é a única mulher do conselho da Komatsu diz muito sobre as dificuldades do Japão em reduzir a lacuna de gênero num país em que a maioria reconhece a necessidade da presença de mais mulheres em cargos de influência.
Preocupações com a redução da força de trabalho do Japão e com o envelhecimento demográfico levaram o primeiro-ministro Shinzo Abe a promover por muitos anos barreiras que impedem as mulheres de contribuir totalmente para a economia. Embora Abe tenha estabelecido metas famosas para criar um “Japão em que as mulheres brilhem” e esteja pressionando por mais contratações e promoções para as mulheres, o Japão ainda não obteve resultados concretos.
Embora a participação da força de trabalho das mulheres japonesas tenha atingido um recorde, o país continua a enfrentar vários desafios: o número de mulheres com assentos nos conselhos de administração é o mais baixo no Grupo dos Sete, de 5,3%, bem abaixo dos 43% na França e 22% nos EUA, e a diferença salarial é de cerca de 25%, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. O Japão ocupa a 121ª posição no ranking de 153 países segundo o Índice Global de Desigualdade de Gênero do Fórum Econômico Mundial, segundo relatório divulgado em 17 de dezembro.
“O trabalho duro das mulheres será a fonte da competitividade da empresa”, disse Urano este mês em entrevista em Tóquio, citando o lema da Komatsu, onde é a principal executiva encarregada dos departamentos de recursos humanos e educação.
Urano diz que questões de recursos humanos, como o modo como as funções são atribuídas, são importantes em termos de desenvolvimento de um grupo de mulheres que possam se tornar líderes. Por exemplo, Urano acredita que as mulheres não devem ser promovidas muito rapidamente, pois pode haver um alto risco de fracasso.
Ela diz que as próprias mulheres no Japão fazem parte do problema: muitas vezes não se manifestam e não buscam uma promoção.
“As mulheres devem ter um trabalho apropriado que lhes permita crescer passo a passo, em vez de lhes dar empregos difíceis que as arruinariam”, disse. “Eu também quero ver as mulheres mudarem”, dizendo que elas não devem desistir ou “recusar cargos de gerência quando oferecidos”.