Noko Nishikagi gosta de ouvir K-Pop com as amigas. Ela também gosta da escola e de brincar com os colegas. Originalmente do Japão, Noko gosta de “sushi, especialmente salmão”. Ela adora arte, e desenhar “raposas, lobos e outros animais”.
Enquanto ela parecer ser apenas uma garota normal de 10 anos, Noko é diferente das outras meninas da sua idade de um jeito muito distinto – ela é uma tatuadora em ascensão.
“Quero continuar tatuando até crescer”, ela disse a VICE.
Noko é a aprendiz de tatuadora mais jovem do mundo. Seu pai é Gakkin, um tatuador altamente respeitado por seu estilo free hand. A família deles agora mora em Amsterdã, se mudando de Osaka em 2016.
Quando a VICE falou com Noko por Skype, era uma manhã de domingo na Holanda. Sua franja reta enquadrava seu rosto, o resto do cabelo num coque bagunçado. Usando um moletom estampado e brincos grandes, ela é muito estilosa para sua idade.
A exposição desde cedo ao trabalho do pai e um forte interesse natural por arte abriram caminho para Noko explorar a tatuagem.
“Não lembro a primeira vez que vi meu pai tatuando, mas provavelmente foi quando eu era bebê”, ela disse, rindo.
“Meu pai e minha mãe sempre me encorajaram a desenhar, e tatuar também. Foi assim que comecei, e era divertido.”
Sua arte é especialmente fascinante quando vista tendo em conta suas origens no Japão, onde tatuagem ainda é muito estigmatizada e associada com a yakuza ou gangues japonesas. Mesmo tatuadores têm pouca proteção, com alguns sendo presos por tatuar sem licença médica. Pessoas com tatuagens também muitas vezes são impedidas de entrar em lugares públicos como fontes termais, piscinas e praias.
Nada disso impediu os pais de apoiarem a paixão de Noko. Mesmo Gakkin teve que ouvir opiniões negativas sobre tatuagem e a escolha da filha, mas prefere deixar Noko explorar livremente seus interesses. Como sua aprendiz, Noko começou a treinar seus desenhos primeiro em cadernos, depois em pele de silicone e bonecas.
Ela tinha 6 anos quando fez sua primeira tatuagem.
“Eu só desenhava pássaros e gatos. A gente tinha um pardal de Java chamado Komajiro quando morávamos no Japão, então comecei desenhando o Komajiro”, ela disse. “Minha primeira tatuagem foi do Komajiro.”
A pessoa de sorte que ganhou a primeira tatuagem de Noko? “Meu pai”, ela disse. “Então não fiquei nem um pouco nervosa.” Esse desenho, e muitos que se seguiram, naturalmente se tornaram as tatuagens favoritas de Gakkin.
Mas quando as pessoas começaram a pagar pelo trabalho dela, Noko ficou nervosa – pelo menos no começo.
“Quando tatuei meu primeiro cliente, eu estava com um pouco de medo e bem nervosa. Sou meio lenta com as linhas e às vezes minha mão treme um pouco”. “Entendo que tatuagens são pra vida inteira, então não posso cometer nenhum erro. Isso me deixa nervosa.”
Desde que ela aprendeu a fazer sombras, acrescentar cor é menos estressante. “O colorido eu posso refazer mesmo se cometer um pequeno erro, então essa parte é um pouco mais fácil”, ela disse, rindo.
Ela continua desenhando pássaros, encontrando inspiração no livro Masterpieces: 150 Prints from the Birds of America de John Hames Audubon, que ela ganhou de presente de outro tatuador. As várias poses de pássaros no livro colocam a imaginação dela para trabalhar em novas criações, ela disse. Fora pássaros, Noko gosta de desenhar gatos, que se tornaram meio que sua marca registrada.
“Não tenho nenhum gato, mas eles são muito fofos e fáceis de desenhar”, ela disse. “Quando comecei a desenhar gatos, alguém perguntou se eu podia tatuar um desenho de gato. Aí todo mundo começou a querer meus gatos, e foi aí que desenhar gatos se tornou divertido pra mim.”
Inicialmente, Noko gostava de desenhar usando lavanda, rosas e amarelos pálidos que via em Pretty Cure, um desenho animado que ela assistia sobre meninas mágicas. Hoje, ela gosta de preto – como se o estilo de tatuagem em preto do pai estivesse se infiltrando em seu trabalho.
“É uma mistura da influência do meu pai e da minha mãe”, ela disse sobre suas tatuagens. “Minha mãe me ajuda muito também.”
Fora o pai, ela disse que também gosta do trabalho da tatuadora russa Sasha Unisex – um trabalho de que ela gosta por causa dos motivos de animais coloridos como aquarela – e Nissaco, que como o pai dela, é conhecido como um mestre do estilo em preto, e cujas “linhas detalhadas” ela admira.
Mas seu pai continua sendo seu favorito. “Acho incrível como meu pai faz desenhos grandes nas costas das pessoas. Fico cansada só de fazer um desenho pequeno.”
Noko também está fazendo um nome para si. Ela tem clientes por toda Europa e teve todos os seus horários agendados em sua primeira convenção de tatuagem em Singapura. Agora ela já terminou sua 35ª tatuagem, um cogumelo fofo em preto e vermelho que ela assinou com seu nome.
Os comentários no Instagram de Noko – comandado pela mãe – mostram seguidores admirados. Ela tem 116 mil seguidores encorajando, comentando como ela vem melhorando nos últimos anos, e outros implorando para marcar uma hora.
“Quando você vai vir para a Espanha? Adoraria te conhecer”, disse a seguidora @__yolandagarcia__
Outro usuário, @inconsistenseas, comentou sobre o progresso dela: “É incrível poder vê-la crescendo como artista”.
“Isso é tão bonito. Adoro a arte da Noko e é muito impressionante que ela já tenha um trabalho personalizado também”, disse @alineleal13_.
Hoje Noko trabalha no estúdio de Gakkin aos sábados, quando ela não tem aula.
Apesar de amar seu trabalho, Noko sabe que em seu país natal tatuagens ainda são tabu – algo que ela espera que mude com os anos.
“No Japão, quem tem tatuagens é vista como uma pessoa má, mas por aqui não é estranho que as pessoas tenham tatuagens. Alguns professores da minha escola e médicos têm tatuagens”, ela disse.
“Não tenho nenhuma tatuagem, mas quero. Não muitas, já que gosto de ir para fontes termais e piscinas, e no Japão, pessoas com tatuagens não podem entrar. Fico imaginando por quê”, ela disse.
“Espero que quando eu for adulta, pessoas com tatuagem também possam frequentar fontes termais e piscinas no Japão.”