O Japão foi um dos primeiros países além da China atingidos pelo coronavírus e, agora, é um dos menos afetados entre as nações desenvolvidas, o que intriga especialistas em saúde.
Ao contrário das medidas draconianas de isolamento da China, da quarentena em massa em grande parte da Europa e nas grandes cidades dos EUA para que as pessoas fiquem em casa, o Japão não impôs bloqueios.
Embora o governo tenha fechado escolas, a vida segue com normalidade para grande parte da população. Trens na hora do rush de Tóquio ainda estão lotados, e restaurantes permanecem abertos.
A questão iminente é se o Japão se esquivou da bala ou está prestes a ser atingido. O governo alega que foi rápido na identificação de focos e na contenção da propagação, o que torna o número total e per capita de infecções um dos mais baixos entre as economias desenvolvidas.
Críticos argumentam que o Japão tem sido lento nos testes, talvez com o objetivo de manter os números de infecções baixos, já que o país deve sediar as Olimpíadas de Tóquio em julho.
A lenta resposta inicial do Japão ao vírus, a maneira como administrou a crise do cruzeiro Diamond Princess – onde cerca de uma em cada cinco pessoas a bordo foi infectada durante a quarentena em Yokohama – e a decisão de não bloquear inicialmente pessoas vindas da China despertaram críticas de que o país poderia se tornar uma “segunda Wuhan”.
As medidas tomadas para conter o vírus – como fechar escolas e cancelar grandes eventos – agora parecem moderadas em comparação com ações de outros países.
Mas, em de 18 de março, o Japão tinha pouco mais de 900 casos confirmados, excluindo os do cruzeiro. EUA, França e Alemanha registram mais de 7 mil casos cada, e na Itália são quase 36 mil infectados.
A vizinha Coreia do Sul, que agiu com vigor em meio à onda de infecções confirmadas a partir do fim de fevereiro, registrava cerca de 8,5 mil casos, mas as novas infecções começam a cair.
Kenji Shibuya, professor do King’s College de Londres e ex-responsável de política de saúde da Organização Mundial da Saúde, vê duas possibilidades: que o Japão tenha controlado a propagação concentrando-se em focos de surtos ou que surtos ainda surgirão.
“Ambos são razoáveis, mas meu palpite é que o Japão está prestes a ver uma explosão e, inevitavelmente, passará da fase de contenção para a fase de atraso do pico muito em breve”, disse. “O número de testes está aumentando, mas não é suficiente.”