A marca esportiva canadense Lululemon se desculpou após um de seus funcionários divulgar uma camiseta que rendeu acusações de xenofobia. O então diretor de arte, já demitido, usou o Instagram pessoal para promover a peça, cuja estampa foi considerada ofensiva para a China. Um dos desenhos da t-shirt de mangas compridas mostra uma caixa de comida chinesa com asas de morcego e a frase “Não, obrigado”.
O agravante é que o item sequer foi lançado ou divulgado pela Lululemon, mas o vínculo com o funcionário foi suficiente para atrair repercussão negativa na web. “A imagem e a postagem eram inapropriadas e indesculpáveis, e não toleramos esse comportamento”, manifestou porta-voz da label. Vem comigo entender o caso!
Tudo começou quando o diretor de arte global sênior, Trevor Fleming, usou o próprio Instagram para divulgar o link para compra da camiseta polêmica no site do artista californiano Jess Sluder, no último domingo (19/04).
Não demorou para a peça, batizada de “Arroz frito com morcego”, chegar à plataforma chinesa Weibo e gerar indignação, já que o Instagram é bloqueado na China. Por causa da associação do funcionário à Lululemon, internautas acusaram a marca de xenofobia e cobraram posicionamento.
Só na rede social, a tag #LululemonInsultsChina (Lululemon insulta a China) foi vista 204 milhões de vezes até a última terça-feira (21/04), segundo a Reuters. Outra tag usada, inclusive no Twitter, foi a #BoycottLululemon (Boicote à Lululemon).
Um usuário respondeu a um tweet feito pela Lululemon, no dia 18 de abril, que diz: “Não fazendo nada, você se ajuda a ‘fazer’ mais do que imagina”. RichVuu28 (@richvuu28) escreveu: “Ei, só um aviso: se você não está ‘fazendo nada’ sobre o seu diretor criativo Trevor Fleming ser mais do que estúpido, isso é tão ruim quanto.”
Sobre a crítica, a etiqueta canadense afirma que agiu imediatamente e desligou a pessoa envolvida. Comunicado enviado a veículos de imprensa internacionais deixa claro que o produto não foi lançado pela marca.
“Lamentamos que um funcionário tenha sido afiliado à promoção de uma camiseta ofensiva e levamos isso muito a sério. A imagem e o post eram inapropriados e imperdoáveis e não toleramos esse comportamento. Agimos imediatamente e a pessoa envolvida não é mais uma funcionária da Lululemon”, informa a etiqueta.
Fleming, por sua vez, disse à Reuters que se arrepende profundamente e não teve noção do “efeito cascata” que seu erro teria. Antes de desativar seu perfil na rede social, ele editou a biografia com a seguinte mensagem: “Peço desculpas por colocar o URL na minha biografia. Não desenhei a camiseta, nem participei de nenhuma parte de sua criação”. Enquanto isso, Jess Sluder se retratou por ser insensível.
Em post já excluído no Instagram, Sluder anunciou a camiseta com tom de brincadeira, com uma mensagem que agrava ainda mais a leitura polêmica. “De onde vem a Covid-19? Não sabemos, mas sabemos que um morcego estava envolvido”, escreveu. O post acumulou mais de mil comentários com acusações de xenofobia.
A forma como a doença foi transmitida de animais para humanos ainda é desconhecida, mas morcegos foram inicialmente apontados como a origem do novo coronavírus (Sars-CoV-2). Entretanto, é fato que os primeiros casos foram registrados na China. Por isso, o desenho do morcego associado à caixa de comida chinesa, ligado à origem do vírus, gerou tanta contestação.
Além dos morcegos, a transmissão aos humanos é associada aos pangolins, animais semelhantes aos tatus e consumidos na culinária chinesa. Em março, o presidente norte-americano Donald Trump causou desconforto entre Estados Unidos e China ao se referir ao coronavírus como “vírus chinês”.
Depois da polêmica, o diretor-executivo da Lululemon, Calvin McDonald, chegou a vincular um comunicado interno chamando atenção para a importância de os funcionários sustentarem a “cultura inclusiva” da marca.
“Um momento como esse reforça a importância da diversidade e inclusão, e cria um ambiente de trabalho positivo. Conto com cada um de vocês para assumir responsabilidade pessoal por seus comportamentos”, comunica o texto citado pelo WWD.
A China é o quarto maior mercado em números de loja da Lululemon, com mais de 38 lojas no país, segundo relatório da marca divulgado em 2019. Famosa pelas roupas para prática de ioga, a etiqueta foi lançada na cidade de Vancouver, em 1998.
Na mensagem, o CEO enfatiza que “ações culturalmente insensíveis ou discriminatórias não serão toleradas em nenhum nível”.
Outras polêmicas
Em meio à polêmica mais recente, alguns internautas lembraram que Chip Wilson escolheu o nome Lululemon justamente porque o fonema da letra L não existe no idioma japonês. O próprio empresário, que já não trabalha na marca, confirmou essa informação, alegando que essa foi uma forma de tornar o nome “norte-americano e autêntico” aos olhos dos consumidores japoneses.
Para os críticos, entretanto, isso também representa xenofobia. Em entrevista à National Post Business Magazine canadense, ele chegou a dizer que é “engraçado” ver japoneses falando o nome da marca, detalhe reacendido pela controvérsia dos últimos dias.
Em 2013, a marca também foi criticada. O motivo foi uma declaração do fundador, Wilson, de que suas calças “não funcionam” em alguns corpos femininos.