Muito se discute sobre o fato de pessoas que perderam algum de seus sentidos terem os que lhe restaram mais aguçados. Mas será que isso é realmente uma verdade? Pode ser que sim, pode ser que não. De um modo geral, nenhuma pessoa, ao perder a visão, por exemplo, acaba melhorando seus outros sentidos — pelo menos não de forma mágica.
No entanto, algumas pesquisas apontam que muitas pessoas cegas acreditam que seu senso de audição possa ter mudado para melhor por alguma razão ainda desconhecida. Mas a explicação pode ser bem simples: pessoas que não possuem o sentido da visão acabam prestando mais atenção aos outros sentidos porque não há escolha. Sendo assim, há essa sensação de aprimoramento.
O império dos sentidos
Para ficar mais claro, vamos ter um exemplo. Imagine uma pessoa que possua todos os sentidos. Quando ela ouve o barulho de um carro, sua inclinação mais natural é tentar, pela distância do ruído, saber onde esse carro está. Entretanto, a reação mais instintiva é tentar também olhar para onde esse veículo possa estar. E dessa mesma forma, as coisas que tocamos, entre outras, também tem uma percepção ainda maior quando a estamos enxergando.
Nesse sentido, não apenas um domínio pode ser percebido, mas podemos verificar que as varreduras cerebrais mostram que, enquanto estamos trabalhando com algum dos sentidos, nosso cérebro está literalmente inibindo a ativação das áreas que controlam os outros. Repare que quando queremos ouvir uma coisa de uma forma mais aprofundada, ou até mesmo sentir o que esse som nos passa, nós fechamos os olhos para que, de alguma maneira, prestemos mais atenção nisso.
Contudo, isso se assemelha ao que uma pessoa cega está tendo que lidar diariamente; prestando a sua atenção quase que inteiramente naquilo que escuta, por exemplo, para ter uma compreensão maior das coisas. Dessa forma, essas pessoas conseguem melhorar sua própria percepção ao seu redor, contribuindo para esse aprimoramento dos sentidos, sobretudo o da audição. Tudo não passa de uma questão de prática, que é desenvolvida ao longo do tempo.
Em uma pesquisa realizada em 2014, por exemplo, investigou-se as habilidades de ecolocalização de pessoas cegas ou com problemas na visão. Com a prática, de determinadas questões, as pessoas com visão tiveram o mesmo resultado de desempenho com habilidades específicas como pessoas cegas. E esse indivíduo, que com a prática de usar sua bengala para tatear superfícies e obter seus sons, por exemplo, talvez consiga ter uma atenção maior por sua experiência. Isso não significa que sua percepção de sentidos de seja superior.
Casos recentes
Estudos mais recentes, no entanto, concluíram que em algumas pessoas que nascem sem a visão, ou a perdem muito cedo em sua vida, agem de forma diferente. É como se o cérebro passasse a funcionar de uma nova maneira, para processar as entradas sensoriais auditivas diferente de uma pessoa que enxerga. Nesse sentido, há sim uma audição superior quase genuína.
Para entender como isso funciona é preciso analisar o cérebro. De alguma forma, o córtex auditivo acaba “sequestrando” o córtex visual e tendo um pouco mais de poder de processamento para entrada auditiva nessa região cerebral. Isso tudo é chamado pelos especialistas de neuroplasticidade cross-modal, que analisam os efeitos de aprendizagens mais específicas deste órgão.
Como o organismo humano é fascinante, podemos notar que há ainda algumas divergências com relação a essa questão. Não é possível afirmar com tanta certeza se tudo não passa de um mito ou verdade, já que as pesquisas continuam sendo desenvolvidas sobre o assunto. No entanto, alguns indivíduos que nascem cegos ou que desenvolvem a cegueira precocemente parecem ouvir melhor, de alguma maneira com ressalvas, comparada a uma pessoa com todos os sentidos perfeitos.
E quanto aos outros, trata-se de uma prática que os leva a uma quase perfeição, o que já é um feito bastante notável.