Nos últimos dias, veículos de turismo como Lonely Planet, Time Out e uma série de blogs repercutiram a notícia de que o Japão bancaria parte da viagem dos turistas estrangeiros após o fim da pandemia de coronavírus. Os veículos apontavam que o motivador dessa decisão seria a dramática queda do turismo no país, que recebeu apenas 2 900 visitantes gringos em abril – uma queda de 99,9% em relação ao ano passado.
Como esse é um tipo de notícia que tem tudo para viralizar e causar celeuma, o jornalista Roberto Maxwell, que mora no Japão desde 2005, decidiu investigar. Nesse post do blog Tabiji, sobre dicas do Japão em português, ele conta que o Ministério da Terra, da Infraestrutura e do Turismo do Japão disponibilizou um documento que comprova a existência de uma campanha, intitulada “Go To Travel”, que visa incentivar as atividades turísticas no país.
Ali está escrito que podem ser destinados 1,6 trilhões de ienes para a campanha, que irá gerar descontos em hospedagens, restaurantes, eventos e ruas de comércio. Porém, nada foi dito de que esse dinheiro chegará diretamente nas mãos dos turistas estrangeiros através de pagamentos ou reembolsos. Na verdade, o documento prevê que somente as agências de viagem locais poderão dar descontos na venda de pacotes, estadias em hotéis e outros serviços.
O texto só menciona “visitantes vindos do exterior” quando estipula que parte do orçamento poderá ser destinado ao desenvolvimento de campanhas em línguas estrangeiras, à criação de infraestrutura turística para aqueles que não são japoneses e outras iniciativas que visem atrair turistas de outros países. E, novamente, nenhuma linha sobre reembolsos ou pagamento para pessoas de outras nacionalidades.
Para não restar dúvidas, o próprio órgão de turismo do Japão decidiu se pronunciar sobre o assunto. Em nota publicada na terça-feira (26), o Japan Travel afirma que “a campanha Go To Travel, que está sendo estudada pelo governo japonês, visa estimular viagens domésticas dentro do Japão após o fim da pandemia de coronavírus e cobre apenas uma parte dos gastos”.
Confusão semelhante aconteceu com uma notícia envolvendo a ilha italiana da Sicília, que também pretende incentivar as atividades turísticas cobrindo parte dos gastos que os viajantes teriam. Nesse caso, o foco da campanha também é o turismo interno.
Por mais ansiosas que as pessoas estejam para poder voltar a viajar, ninguém sabe ao certo quando as viagens internacionais serão possíveis. Menos ainda no caso dos brasileiros, visto o crescimento do número de infectados por coronavírus no país e o resultado das últimas medidas de quarentena.
Por mais tentador que seja o canto da sereia, o fato é que, por enquanto, é bastante provável termos de nos contentar apenas com o turismo doméstico – e, ainda assim, em um futuro incerto.