O aumento de turistas estrangeiros no Japão trouxe consigo o hábito de dar gorjetas, gerando confusão, inovações e críticas entre moradores locais. Em restaurantes, funcionários relataram não saber como reagir quando recebiam dinheiro extra. Para lidar com a situação, uma rede de culinária japonesa instalou caixas de gorjetas em suas mais de 20 unidades, arrecadando mensalmente dezenas de milhares de ienes, usados em benefícios para os trabalhadores. A medida, porém, dividiu opiniões: enquanto alguns clientes apoiam, outros rejeitam a introdução dessa prática no país.
Empresas de tecnologia também reagiram. A Dinii Inc. lançou em junho um sistema que permite adicionar até 25% da conta como gorjeta em pedidos feitos pelo celular. Já adotado em cerca de 900 restaurantes, o recurso é usado sobretudo por turistas em áreas como Shinjuku (Tóquio) e Namba (Osaka). Restaurantes como o Yakitori Smith elogiam a novidade por aumentar a motivação da equipe.
Historicamente, o Japão já teve prática semelhante, chamada “dinheiro para o chá”, substituída após os anos 1960 por taxas fixas de serviço. Ainda hoje, alguns hotéis e restaurantes sofisticados cobram acréscimos de 10% a 15%.
O debate é intensificado pela baixa remuneração e escassez de mão de obra no setor. Segundo dados oficiais, o salário médio em alimentação e hospedagem foi de 269.500 ienes (US$ 1.832) em 2023, o menor entre todos os segmentos. Especialistas como o professor Yoshiyuki Ishizaki afirmam que, embora exista resistência cultural à gorjeta, será preciso repensar a valorização dos serviços no país.
Seja por meio de caixas físicas, sistemas digitais ou reformas estruturais, o Japão se vê diante de uma questão inevitável: como equilibrar tradição, expectativas dos turistas e condições de trabalho no setor de hospitalidade.
Fonte: The Asahi Shimbun









