Em 2 de setembro de 1945, o Japão assinou sua rendição incondicional a bordo do encouraçado americano Missouri, encerrando a Segunda Guerra Mundial. O ato, conduzido pelo ministro das Relações Exteriores Mamoru Shigemitsu, marcou simbolicamente a derrota do império e o início de uma nova ordem mundial liderada pelos Aliados.
Mas, enquanto no Pacífico a guerra terminava, no Brasil o conflito ganhava nova forma. Em 19 de julho de 1946, uma reunião no Palácio dos Campos Elíseos, em São Paulo, buscou pôr fim à divisão que assolava a colônia japonesa. De um lado estavam os kachigumi, que se recusavam a aceitar a derrota do Japão; de outro, os makegumi, que reconheciam a vitória aliada. Cerca de 80% dos imigrantes brasileiros de origem japonesa ainda acreditavam na vitória nipônica.
Entre os grupos radicais, destacou-se a Shindo Renmei (Liga do Caminho dos Súditos), que utilizou ameaças e assassinatos para punir aqueles que aceitavam a derrota. Mesmo após discursos de autoridades brasileiras e estrangeiras, muitos imigrantes se recusaram a admitir a rendição japonesa — um reflexo da lealdade ao imperador e da desinformação causada pelo isolamento durante a guerra.
A tensão culminou em 1º de janeiro de 1946, em Tupã (SP), quando a polícia descobriu um culto à bandeira japonesa. A investigação revelou que os participantes negavam o fim da guerra, desencadeando um dos maiores inquéritos políticos do país, com cerca de 2 mil prisões. O episódio intensificou o sentimento antinipônico no Brasil, que já havia se manifestado durante o Estado Novo, quando o governo de Getúlio Vargas promoveu campanhas de nacionalização forçada, proibindo o uso de idiomas estrangeiros e fechando escolas e jornais da comunidade japonesa.
Com o fim da guerra e a destruição do Japão, muitos imigrantes viram ruir o sonho de retorno à pátria. O sentimento de desamparo levou à criação de novos movimentos, como o Pelotão de Voluntários das Cerejeiras (Sakuragumi Teishintai), fundado em 1953, que prometia repatriar japoneses via alistamento na Guerra da Coreia — tentativa que acabou reprimida pela polícia em 1954.
A partir da reaproximação diplomática entre Brasil e Japão em 1952, a comunidade japonesa passou a ser retratada sob nova luz, especialmente durante o IV Centenário de São Paulo (1954) e o Centenário da Imigração Japonesa (1958), que promoveram uma imagem de integração e prosperidade.
Contudo, as feridas históricas permaneceram. Durante a ditadura militar, parlamentares de origem japonesa, como Yukishige Tamura e Paulo Nakandakare, foram cassados sob suspeita de ligação com a Shindo Renmei. E, como observam historiadores como Kelly Yshida e Gustavo Taniguti, o racismo antiasiático ainda ecoa no país, revelando como os conflitos identitários e nacionalistas do pós-guerra deixaram marcas duradouras na história brasileira.
Fonte: BBC News









