A cidade de Yoichi, em Hokkaido, antes conhecida por abrigar a destilaria de uísque Nikka, tornou-se nos últimos anos um dos polos mais promissores da vinicultura japonesa — e um destino reverenciado pelos apreciadores do Pinot Noir. O sucesso, porém, pode estar em risco devido às mudanças climáticas.
O destaque internacional veio em 2020, quando o Pinot Noir Nana-Tsu-Mori 2017, da vinícola Domaine Takahiko, figurou na carta do renomado restaurante Noma, em Copenhague. Desde então, o valor do rótulo disparou — de cerca de US$ 30 para mais de US$ 560 no mercado japonês — e Yoichi passou a reunir 20 vinícolas e 70 vinhedos.
Contudo, o clima da região está mudando rapidamente. Segundo a Agência Meteorológica do Japão, Yoichi deixou de se enquadrar na Região I do Índice de Winkler — a mais fria — para a Região II, típica de zonas adequadas a tintos mais encorpados, como Merlot e Cabernet Sauvignon. O verão de 2025 foi o mais quente desde o início dos registros, com média de 22,1 °C, cerca de 3 °C acima da normal histórica.
Essas alterações afetam diretamente a delicada uva Pinot Noir, que amadurece rápido demais sob calor excessivo, perdendo acidez e equilíbrio. O produtor Takahiko Soga, fundador do Domaine Takahiko, afirma que Yoichi já teve temperaturas comparáveis às da Alsácia, passou pela Borgonha e agora se aproxima do clima do Vale do Loire ou Bordeaux.
Além do calor, chuvas mais intensas e o aumento de pássaros — que invadem os vinhedos em busca de alimento escasso nas montanhas — trazem novos desafios. “Levamos uma eternidade para colher este ano”, lamentou Yuichi Hirotsu, outro viticultor local, após fortes chuvas danificarem parte de sua colheita.
Para enfrentar as mudanças, o prefeito Keisuke Saito firmou um acordo de cooperação com Gevrey-Chambertin, comuna francesa símbolo do Pinot Noir, visando o intercâmbio de técnicas de produção. Enquanto isso, Soga construiu uma adega subterrânea para estabilizar temperatura e umidade e planeja testar novas variedades de uvas mais resistentes.
“O Pinot Noir pode não ser o objetivo final desta cidade”, admite Soga. “Talvez o futuro de Yoichi esteja em uvas como Merlot ou Syrah.”
Fonte: The Asahi Shimbun









