Tomei a liberdade de pegar emprestado, para iniciar essa resolução, um trecho do livro ”Mulheres que correm com lobos”, da fantástica escritora Clarissa Pinkola Estés:
A persistência é estranha: ela exige uma energia tremenda e pode se abastecer por um mês com cinco minutos de contemplação de águas claras.
É interessante salientar que, entre os lobos, não importa o quanto esteja doente, não importa o quanto esteja acuada, o quanto esteja só ou enfraquecida, a loba persiste. Ela corre mesmo com a perna quebrada. Ela se aproxima dos outros à procura de proteção da matilha. Ela se esforça ao máximo para superar na espera, na astúcia, na velocidade ou na duração da vida aquilo que esteja atormentando. Ela dedicará todas as suas forças a respirar bem. Ela se arrastará, se necessário, igual ao patinho, de um lugar para outro até encontrar o lugar certo, um lugar benéfico, em que possa se recuperar.
Se eu pudesse resumir as mulheres da minha família em uma única palavra, seria essa: persistência. Lobas natas. Assumem a matilha, cuidam, farejam, procuram, se entregam.
Na minha matilha particular, tenho a sabedoria de uma anciã, minha avó, e de uma loba de meia idade, minha mãe. Persistir sempre foi a palavra de ordem em casa.
Fui agraciada por ter uma cúpula que me encorajou a ir para o mundo enquanto ficavam ali, cuidando da retaguarda. Elas sabiam que o mundo não era um lugar generoso para mulheres, mas também sabiam que eu precisava chegar até aqui. Uma boa parte das mulheres no mundo não são privilegiadas como eu, então, por que não ser – uma parte de – uma rede de apoio para elas?
Hoje, só hoje, eu estou aqui para te dizer: continua! Mesmo com as feridas expostas, o fim de um ciclo, a casa bagunçada, seus pedaços espalhados, as palavras ofensivas que ainda ecoam nos seus ouvidos. Mesmo com os julgamentos expostos através de diálogos ou olhares, com a sensação de ser devorada logo à frente, de não querer sair da cama para persistir na busca de um lugar mais seguro para se recuperar.
Todos os dias eu penso em abrir mão de algo. É exaustivo, emocionalmente falando. Mas daí eu me lembro que persistir faz parte de mim.
Lembro-me da loba que me olha todas as manhãs. Ela ainda está em plena forma, mesmo se quebrando por inteiro, diversas vezes. Lembro das minhas outras duas lobas, que mesmo a quilômetros de distância, são presença diária.
Continue, loba! Continue buscando. Aprecie o bosque. Aguce os ouvidos. Fareje as oportunidades. Treine o olhar para os detalhes. Apesar de fazer parte de uma matilha, afaste-se de vez em quando para se conectar com seus sentidos.
Ninguém precisa dizer o que fazer, você sabe quais são os próximos passos. Nessa hora, e só nessa, você não precisa entregar e confiar ao Universo. Entregue e confie aos seus sentidos, eles saberão o que fazer, melhor do que ninguém.