Conheça 10 mulheres que governaram o Japão
O Japão tem a monarquia hereditária continuada mais antiga do mundo e segundo a religião xintoísta, a família imperial é descendente direto da deusa Amaterasu, conhecida como a deusa do sol e do universo. O Imperador Akihito é o 125° monarca da linha de sucessão a assumir o Trono do Crisântemo e antes dele, 124 assumiram esse posto, incluindo mulheres.
Isso não soa incomum, afinal temos alguns exemplos de mulheres no trono, como a atual rainha da Inglaterra, Elizabeth II e outras que fizeram parte da história como a rainha Isabel I de Castela, da Espanha, a Imperatriz Wu Zetian, da China, entre outras. No Japão, muitas mulheres também ascenderam ao trono, no entanto foram proibidas de ocupar esse cargo a partir do Período Meiji.
Com a Constituição Meiji de 1889, a lei de sucessão ao Trono do Crisântemo foi reescrita e uma das mudanças foi a proibição da sucessão feminina. Esta mudança na lei foi influenciada pela constituição da Prússia que também proibia as mulheres de ascenderem ao trono.
Mas por que o Japão optou por essa proibição? Durante o Período Meiji, o Japão estava em um processo de ocidentalização. Com o fim do xogunato e a volta da família imperial como os governantes do país, o Japão queria entrar nos moldes do mundo ocidental, especificamente da Europa.
Outro argumento usado para a proibição era que muitas imperatrizes só tinham ascendido ao trono por não haver na época um herdeiro do sexo masculino que tivesse idade suficiente para governar. Atualmente essa lei continua vigente e se futuramente não houver uma mudança, a imperatriz Go-Sakuramachi ( 1762 – 1770) terá sido a última mulher a reinar a Terra do Sol Nascente.
Debate em torno da lei de sucessão ao trono
Por volta do ano 2.000, um burburinho começou a respeito dessa lei. A razão para isso foi o fato de que a princesa Masako, casada com o príncipe Naruhito, só tinha uma filha. O irmão de Naruhito, o príncipe Akishino, também não tinha nenhum sucessor do sexo masculino nesta época.
Com isso, o Trono do Crisântemo estava condenado a ficar sem um herdeiro homem. A possibilidade de permitir que as mulheres pudessem novamente ascender ao trono tornou-se o assunto da época e havia até mesmo uma proposta oficial governamental para alterar a Lei da Casa Imperial.
No entanto, passado algum tempo, a princesa Kiko, esposa do príncipe Akishino, engravidou e deu à luz um menino no dia 6 de dezembro de 2006. O jovem príncipe Hisahito, hoje com 9 anos, foi então nomeado o herdeiro oficial ao Trono do Crisântemo, fazendo com que a proposta de alterar as leis de sucessão tenha sido adiada mais uma vez pelo primeiro-ministro, Shinzo Abe.
Conheça 10 Mulheres que reinaram o Japão
1. Imperatriz Himiko de Yamatai (189 dC a 248 dC)
A primeira governante do sexo feminino no Japão é de uma época em que o “Japão”, como é conhecido hoje ainda não havia sido estabelecido. A Imperatriz Himiko, ou Pimiko, governou por impressionantes 59 anos (189 dC a 248 dC), uma região japonesa chamada Yamatai.
Naquela época, o Japão era chamado de Wu, de acordo com estudiosos e historiadores chineses. Existem documentos chineses que mencionam a rainha Himiko como governante de Yamatai, um dos países estabelecidas no Japão antigo, embora não se saiba exatamente a localização de Yamatai.
Himiko havia sido eleita pela população de Yamatai depois de um longo período em que diferentes reis lutavam pela supremacia. O povo esperava que ao eleger uma mulher ao trono, a violência chegaria ao fim e o país finalmente experimentaria tempos mais pacíficos.
Apesar de ser mencionada em vários documentos históricos chineses, nos documentos Kojiki e Nihon Shoki não consta o nome de Himiko como governante de Yamatai. Historiadores falam várias teorias sobre a identidade e reinado de Himiko; alguns deles dizem que ela era uma sacerdotisa do santuário de Ise, enquanto outros sugerem que ela era, na verdade, a tia do imperador Sujin.
Qualquer que seja o caso, não há dúvida de que ela tenha sido uma figura feminina importante na história japonesa. Após sua morte, ela foi enterrada em um grande kofun, um tipo de túmulo especial e tradicional que era destinado antigamente aos imperadores do Japão.
2. Imperatriz Jingū (206 dC a 269 dC)
A Imperatriz Jingū é considerada uma figura lendária pois sua história está envolta em muito mistério. Segundo historiadores, até o período Meiji, ela era reconhecida como uma legítima Imperatriz do Japão, mas sua história foi reavaliada e agora é julgada como Imperatriz Consorte em vez de imperatriz regente, pois governou apenas até que o seu filho atingisse a maioridade.
Algumas teorias dizem que a Imperatriz Jingu é na verdade a Imperatriz Himiko. Mas a Imperatriz Jingū não era de paz. Tornou-se imperatriz do Japão após a morte de seu marido, e é conhecida por ter organizado uma expedição agressiva na península coreana, local conhecido como Reino de Silla.
De acordo com o Kojiki e o Nihon Shoki, ela liderou as forças japonesas para a primeira batalha fora do Japão. Depois de três anos, ela saiu vitoriosa, e alguns até ousam dizer que Jingu seria uma espécie de Joana d’Arc do Japão, conduzindo seu exército com muita coragem e estratégia.
Reza a lenda de que a Imperatriz Jingu, vestiu-se com roupas masculinas e participou da batalha, mesmo estando grávida daquele que seria o próximo imperador do Japão, o Imperador Ōjin, que acedeu ao trono em 269 dC. Dizem que ela usou uma cinta com o objetivo de ocultar a gravidez e que essa cinta inspirou a criação do obi, aquela faixa utilizada no quimono.
3. Imperatriz Suiko (593-628)
Depois da Imperatriz Jingū, somente sucessores masculinos ascenderam ao Trono do Crisântemo até o ano de 554 dC, com a chegada da Imperatriz Suiko ao trono. Esse foi o início do que pode ser chamado de “Apogeu das Imperatrizes”, pelo grande número de sucessões femininas consecutivas.
A Imperatriz Suiko foi a primeira monarca budista do Japão, tendo os votos de uma freira pouco antes de subir ao trono. Suas crenças e seu esforço em difundir os ensinamentos budistas desempenharam um papel importante na aceitação e no estabelecimento do budismo no Japão.
Ela governou por 35 anos inteiros e por falta de provas concretas sobre as Imperatrizes Himiko e Jingū, a Imperatriz é considerada oficialmente como a primeira mulher a governar o Japão.
4. Imperatriz Kōgyoku (642 – 645) e (655 – 661)
A Imperatriz Kōgyoku também conhecida como Imperatriz Saimei teve a oportunidade de subir ao trono por duas vezes. A primeira foi após o assassinato de Soga no Iruka. Em 645 dC, ela abdicou ao cargo em favor de seu irmão, que se tornaria conhecido como Imperador Kōtoku.
Porém, após a morte do Imperador Kōtoku, em 654 dC, ela subiu ao trono novamente e seguindo os passos da Imperatriz Jingu, a Imperatriz Saimei planejou outra expedição militar para dominar o Reino de Silla, mas morreu antes que o seu exército invadisse o território coreano.
5. Imperatriz Jitō (686-697)
A Imperatriz Jitō assumiu o trono depois que seu marido, o Imperador Tenmu, morreu em 686. Tenmu era também seu tio, por ser meio-irmão do seu pai, o Imperador Tenji. Ela ficou no poder durante 11 anos, sendo a 41º monarca do Japão, de acordo com a tradicional ordem de sucessão.
6. Imperatriz Gemmei (707-715):
A Imperatriz Gemmei, também conhecida como Imperatriz Genmyō, tornou-se famosa por ter encomendado a compilação do Kojiki, um dos mais importantes documentos históricos do Japão. Desta forma, ela é a principal responsável pela primeira crônica relacionada à história japonesa.
7. Imperatriz Gensho (715-724):
A Imperatriz Gensho foi o 44º monarca do Japão, de acordo com a tradicional ordem de sucessão. Ela foi a única mulher regente da história do Japão a herdar através da abdicação de outra imperatriz, no caso a Imperatriz Genmei, em vez de um predecessor do sexo masculino.
Sob seu reinado, o Nihon Shoki, uma versão mais detalhada do Kojiki, foi concluída no ano de 720. O Reinado da Imperatriz Gensho durou 9 anos e foi a quinta de 8 mulheres a assumir oficialmente o Trono do Crisântemo, junto com Koken / Shōtoku, Suiko, Kōgyoku / Saimei, Jitō e Gemmei.
8. Imperatriz Koken (749-758) e (764 – 770)
A Imperatriz Koken também teve a oportunidade de governar o Japão duas vezes. A primeira entre 749 e 758, como Imperatriz Koken e a segunda, entre 764 – 770, como Imperatriz Shōtoku. Foi a 46° e a 48° monarca do Japão, de acordo com a tradicional ordem de sucessão.
Em sua regência, um sacerdote budista chamado Dokyo, na qualidade de homem de sua confiança e suposto amante, ganhou muita influência política e até mesmo aspirava a assumir o trono no lugar da Imperatriz Shotoku. Porém a morte da Imperatriz e a resistência da aristocracia destruiu seus planos. Este evento fez com que a capital japonesa se mudasse para a cidade de Nara (Heijō).
9. Imperatriz Meisho (1629-1643)
Depois da morte da imperatriz Shōtoku, demorou quase 1000 anos antes que outra mulher subisse ao Trono do Crisântemo. A Imperatriz Meisho foi escolhida em 1629 para ser a governante do Japão quando tinha apenas sete anos de idade, depois que seu pai, o Imperador Go-Mizunoo, renunciou ao trono a seu favor. Seu reinado na Terra do Sol Nascente durou 14 anos.
A Imperatriz Meisho foi a 109° governante Imperial do Japão, de acordo com a ordem de sucessão Imperial. Ela era conhecida por ser interessada em temas culturais, bem como artes plásticas. Após se aposentar em 1643, ela ajudou a propagar o budismo e a arte do Shodo(caligrafia).
10. Imperatriz Go-Sakuramachi ( 1762 – 1770)
A próxima e última imperatriz regente do Japão é a Imperatriz Go-Sakuramachi. Assim como muitas de suas antecessoras, Go-Sakuramachi só subiu ao trono porque o herdeiro de sexo masculino era muito jovem para governar. Na quela época, o príncipe Hidehito (que viria a ser conhecido como Imperador Go-Momozono) tinha apenas 5 anos de idade. Isso fez com que o reinado de Go-Sakuramachi fosse relativamente curto, durando apenas 8 anos (1762 – 1770).
Durante seu tempo como uma imperatriz, ela escreveu um livro chamado “Kinchū Nenjū no Koto”, que inclui poemas, cartas e várias crônicas – um importante documento histórico que fala de assuntos políticos, bem como culturais, durante o tempo de seu reinado no Japão.
De acordo com a tradicional ordem de sucessão, a Imperatriz Go-Sakuramachi foi a 117° monarca do Japão e última a representar o sexo feminino como governante do país.
Como vimos, as Imperatrizes japonesas desempenharam grandes papeis para a aceitação e difusão do budismo no Japão, além de disseminarem a cultura e as artes refinadas japonesas. Durante o reinado delas, muitos marcos culturais foram alcançados, como o Kojiki e o Nihon Shoki.
Fonte: Japão em Foco