Sempre que chega o mês de agosto, aniversário do lançamento das bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki, muitas pessoas ficam com aquela dúvida martelando na cabeça… Por que o japoneses não odeiam os americanos por terem lançado duas bombas atômicas sobre duas cidades, matando mais de 200 mil civis? E mais ainda: Por que os japoneses idolatram tanto os americanos?
Para muitos, esse tipo de coisa parece inconcebível e difícil de compreender. Como o Japão e EUA podem ser aliados mesmo com todas as tensões envolvidas no passado? A partir daí, percebemos que o sentimento anti-americano está muito mais em nós do que nos próprios japoneses.
Podem ser muitas as razões para essa boa relação, dependendo do ponto de vista de cada um, é claro. Mas com certeza existem interesses políticos e econômicos por trás da aliança entre as duas potências. E segundo enquetes anuais realizadas pela Pew Research Center, a maioria da população japonesa vê as relações diplomáticas entre os dois países com bons olhos e com muita simpatia.
Japão – Transformações radicais durante o pós-guerra
Contra fatos não há argumentos. Os japoneses, em sua maioria, gostam da cultura americana e parecem não guardar nenhum rancor em relação às bombas atômicas lançadas em Hiroshima e Nagasaki. É difícil explicar qual o verdadeiro sentimento por trás disso. Alguns acham que o Japão faz bem em agir assim. Já outros, se sentem desconfortáveis e até indignados com essa situação.
As bombas atômicas foram de fato uma grande atrocidade. Isso não resta dúvidas. Mas depois da rendição, o Japão passou por muitas transformações políticas, econômicas e educacionais importantes. O fim da guerra foi marcada por muita destruição e morte de milhares de vítimas inocentes mas por outro lado, o fim da guerra trouxe o pacifismo, o democratização e a prosperidade ao Japão.
Durante a Era Showa, que por ironia significa “período iluminado de paz/harmonia), o Japão foi tomado pelo totalitarismo político, ultranacionalismo e imperialismo militar, culminando na invasão japonesa da China em 1937.
As atrocidades cometidas pelo regime militarista japonês à China, Coreia, Vietnã, Malásia e outros países da Ásia, ainda são feridas abertas que não cicatrizaram e nem serão, pelo andar da carruagem…
Nesta época, a sociedade japonesa era uma nação oprimida pelo Império e pelo regime militar.
O Imperador era tratado como uma espécie divindade e todos deviam-lhe obediência e se preciso fosse, eram obrigados a dar a vida por ele.
Aliás, o suicídio em massa era uma das táticas de guerra incentivada pelos militares. Os soldados japoneses também estavam condicionados a não se render e deveriam lutar até a morte.
A doutrina militar e a adoração ao Imperador estavam dizimando com a população japonesa aos poucos e se o desfecho da guerra tivesse sido outro, talvez o Japão não fosse hoje uma super potência e muito menos teria adotado uma política democrática e pacifista tal como é hoje em dia.
Claro que só podemos fazer suposições, já que não é possível prever o que teria sido do Japão, caso a guerra tivesse tomado outros rumos. Mas creio que apesar de tudo, muitos compartilham da opinião de que o Japão não poderia ganhar a guerra, especialmente por ser aliado dos nazistas alemães e compartilhar o mesmo pensamento de expansionismo e hegemonia sobre os demais países.
Japão – Um passado nacionalista e militarista
Os japoneses, em sua maioria, não se orgulha nem um pouco do seu passado nacionalista e militarista. No fundo sabem que se o país seguisse com esse regime, as consequências poderiam ter sido muito mais desastrosas do que o efeito de duas bombas atômicas juntas. Haveria sim o apoio de grupos nacionalistas, mas a maioria da população sofreria muito nas mãos desse regime opressor.
Quanto ao Japão e aos Estados Unidos, ficaram algumas lições: Mais importante do que ser derrotado em uma guerra é a maneira como o país vai ser conduzido durante o período caótico do pós-guerra. E pelo menos nesse ponto, o Japão deu o melhor de si e conseguiu dar a volta por cima.
Arregaçou as mangas e aceitou a ajuda do seu “inimigo” para se reerguer. Acho que o “reconhecimento da derrota”, o “espírito de coletividade” e a “não vitimização” ajudou todos a concentrarem suas forças na reconstrução do país. O país também aprendeu a nunca subestimar seus inimigos.
Em uma guerra, não existe certo ou errado, e muito menos vencedores. Existe a ganância daqueles que estão no poder, querendo sobrepujar seus inimigos de todas as formas possíveis, mesmo que seja às custas das vidas de milhares de civis inocentes. Isso vale também para o Japão, que ficou manchado pra sempre em razão dos crimes de guerra bárbaros praticados contra os países vizinhos.
Uma vez que não há como voltar no tempo e mudar os rumos da história, o importante é deixar o rancor de lado, seguir em frente e lutar por um mundo melhor para as futuras gerações.
Fonte: Japão em Foco