Após mais de 50 anos, Tóquio foi escolhida para sediar novamente os Jogos Olímpicos no ano de 2020. Esta será a segunda vez que a capital japonesa vai sediar esse grande evento. A primeira vez foi nos Jogos Olímpicos de Verão, realizados no ano de 1964.
Em 1964, quase 20 anos após o término da Segunda Guerra Mundial, o Japão ainda se reerguia economicamente. Apesar disso, a capital japonesa foi muito elogiada ao ser sede dos Jogos Olímpicos. E depois de 5 décadas, tudo indica que Tóquio repetirá o feito em 2020, sendo uma grande anfitriã.
Mas na verdade, o intuito deste artigo é comentar sobre algumas curiosidades a respeito das Olimpíadas de 1964. É bem provável que você desconheça alguns desses fatos. Então, sem mais delongas, vamos ao que interessa!
1. Os Jogos Olímpicos de 1964 foi o primeiro realizado na Ásia
Nesta Olimpíadas, 93 nações participaram com 5.151 atletas no total. Em 2012, por exemplo, nas Olimpíadas de Londres, participaram 10.500 atletas de 205 países, ou seja, mais que o dobro dos Jogos Olímpicos de 1964.
As Olimpíadas de Tóquio deram oportunidade ao Japão de mostrar ao ocidente que o país agora era um país reformado e pacífico, e ao mesmo tempo, servia como exemplo de superação, modernidade e inspiração para toda Ásia
2. Tokaido Shinkansen inaugurou 9 dias antes das Olimpíadas
Tokaido Shinkansen
Tokaido Shinkansen foi a primeira linha de trem bala do Japão e do mundo. Essa linha que possui atualmente 17 estações, ligava as cidades de Tóquio, Nagoya e Osaka. Foi inaugurada no dia 1 de outubro de 1964, 9 dias antes da abertura dos Jogos Olímpicos de Verão, no dia 10 de Outubro de 1964.
3. Tóquio havia sido escolhida para ser a sede em 1940
Tóquio havia sido escolhida para sediar os Jogos Olímpicos em 1940, mas com o início da Segunda Guerra Sino-Japonesa, em 1937, seguida da Segunda Guerra Mundial, em 1939, os jogos acabaram cancelados, retornando somente em 1952, com as Olimpíadas em Helsinque, na Finlândia. Após 24 anos de espera, o Japão torna-se sede dos Jogos Olímpicos, o primeiro em solo asiático.
4. O desejo de mostrar que deu a volta por cima
O Japão queria mostrar ao mundo que estava se recuperando da Segunda Guerra Mundial da melhor forma possível. Por isso se dedicou ao máximo para que o evento fosse referência de modernidade e organização. A cidade foi arrumada e a população foi instruída a ser cordial com os turistas.
Para os japoneses, as Olimpíadas em Tóquio representava uma espécie de renascimento depois de um longo período sombrio. Era uma forma de mostrar que o Japão devastado pela guerra havia ficado pra trás. E foi com muita honra que o país recebeu três premiações do Comitê Olímpico Internacional com a Taça Olímpica, o Troféu Bonacossa e o “Diploma de Mérito”.
5. A primeira derrota de um japonês no Judô
Akio Kaminaga era o favorito pra ganhar medalha de ouro no Judô, mas acabou derrotado na final olímpica pelo judoca holandês Anton Geesink, que tornou-se o primeiro judoca não-japonês a conquistar uma medalha olímpica no judô. Kaminaga foi bastante criticado pela mídia japonesa, o que deixou-o muito abalado. Anos mais tarde, em uma entrevista, ele chegou a comentar que pensou em tirar a própria vida, coisa que felizmente não aconteceu.
6. As primeiras transmissões via satélite
Os Jogos Olímpicos de Tóquio de 1964 foram os primeiros a serem transmitidos via satélite pela televisão. Os jogos foram transmitido para os Estados Unidos usando Syncom 3, o primeiro satélite de comunicação geoestacionário do mundo, e de lá foi transmitido para a toda a Europa usando relay.
7. As primeiras transmissões parcialmente coloridas
Os Jogos Olímpicos de 1964 foram os primeiros a ter transmissões parcialmente coloridas. Porém, a primeira transmissão inteiramente à cores, ocorreu 4 anos mais tarde, em 1968, nas Olimpíadas de Inverno de Grenoble, na França.
8. O atleta da tocha olímpica era de 6 de agosto de 1945
Yoshinori Sakai e tocha olímpica
Um dos momentos mais emocionantes dos Jogos Olímpicos de 1964 foi quando o jovem Yoshinori Sakai, de 19 anos, adentrou o estádio, carregando a tocha olímpica. Sakai nasceu em Hiroshima, no dia 6 de agosto de 1945, exatamente no dia em que os americanos jogaram a bomba atômica sobre sua cidade.
Não foi uma coincidência e muito menos uma provocação aos americanos. Segundo os organizadores dos Jogos de Tóquio, a intenção desse gesto foi de reconciliação e de promover a paz mundial e também de mostrar ao mundo, um Japão recuperado e renovado, que assim como Sakai, um rapaz forte e saudável, nascido nas cinzas da guerra, tinha a perspectiva de um futuro brilhante.
9. Inovação e tecnologia nas provas
Inovação e tecnologia foram um marco para os Jogos Olímpicos de 1964. Além das rádios e câmeras que tornaram-se popular durante as décadas de 1950 e 1960, os Jogos Olímpicos de Tóquio introduziu novos dispositivos esportivos de temporização, variações que são usadas ainda hoje.
A pista de atletismo sintética foi usada pela primeira vez nos Jogos e um novo sistema foi utilizado na natação. Esse sistema enviava sinais elétricos a um computador e mostrava com precisão as vitórias em centésimos de segundos, o que era uma tarefa difícil, mesmo para os juízes mais atentos.
10. Várias modalidades estrearam nas Olimpíadas de 1964
Várias modalidades como Judô, vôlei (duas modalidades em que os japoneses eram muito bons) e pentatlo feminino tiveram estréia nas Olimpíadas de 1964. Os japoneses ganharam todas as lutas de judô, exceto na luta do consagrado Akio Kaminaga, que perdeu na final para o holandês Anton Geesink.
No vôlei, o time feminino do Japão confirmou a fama e conquistou a primeira medalha de ouro na história olímpica desse esporte.
11. Foram gastos mais de US$ 3 bilhões
O orçamento inicial para custear as Olimpíadas de Tóquio em 1964, incluindo o Projeto Tokaido Shinkansen, foi ¥ 80.000.000, financiado através de um empréstimo do Banco Mundial pelo governo nacional. No entanto, os gastos totais foram muito além do esperado. Graças à cobertura da mídia, surgiram muitos patrocinadores que ajudaram a cobrir os gastos com o evento.
Os americanos também contribuíram financeiramente, como já vinham fazendo desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Com o auxílio financeiro dos Estados Unidos, foram construídos ginásios e complexos esportivos, além de melhorias nos transportes e na infraestrutura da capital japonesa.
12. Uma forma pacífica de exercer seu nacionalismo
Com a nova Constituição adotada após o fim da Segunda Guerra Mundial, o Japão ganhou uma nova identidade e renunciou às suas tradições militares. Também exigiu uma amnésia seletiva em relação ao sofrimento causado pelos longos anos de guerra. Todas as artes expostas em museus relacionadas ao Império foram cuidadosamente retiradas durante os Jogos Olímpicos.
O Japão percebeu que os Jogos Olímpicos eram uma forma segura de promover o patriotismo. Durante os jogos de natureza competitiva, porém pacífica, eles poderiam mostrar seu lado nacionalista, torcendo com entusiamo por seus atletas e representantes, e o melhor de tudo, sem derramamento de sangue.
13. Saldo muito positivo para o Japão
Como nação sede, o Japão enviou a maior delegação já organizada: 296 homens e 61 mulheres. O resultado final foi um sucesso quase sem ressalvas para os atletas japoneses. Eles ganharam 16 medalhas de ouro, 5 de prata e 8 de bronze, que remetia a uma soma sem precedentes para o Japão.
Incentivados por sua torcida, os atletas japoneses conseguiram medalhas no boxe, ginástica, luta, atletismo, levantamento de peso e tiro. Um dos momentos mais emocionantes dos jogos foi a vitória sofrida da equipe japonesa contra a União Soviética, que resultou em medalha de ouro para a anfitriã.
No Judô, esporte nativo do Japão, que teve sua estreia nessas Olimpíadas, também teve um saldo positivo, embora tenham perdido para os holandeses na categoria dos pesados. No ranking mundial de medalhas, o Japão ficou em terceiro lugar, atrás somente dos Estados Unidos e da União Soviética.
14. Documentário Tokyo Olympiad
Tokyo Olympiad, ou Tokyō Orinpikku (東京オリンピック) como também é chamado, é um documentário de 1965, dirigido por Kon Ichikawa. O documentário mantem seu foco mais sobre a atmosfera dos jogos e o lado humano dos atletas, ao invés de se concentrar apenas sobre os vencedores e os resultados.
Ao lado de “Olympia” de Leni Riefenstahl (1938), retratando os Jogos Olímpicos de Berlim, Tokyo Olimpiad é considerado um dos melhores filmes sobre os Jogos Olímpicos e um dos melhores documentários de esportes de todos os tempos, incluído no livro “1001 filmes para ver antes de morrer“.
Se tiver interesse, pode assisti-lo no YouTube, porém está sem legendas em português, infelizmente. De qualquer maneira, vale a pena conferir
15. O Grande Legado deixado pelas Olimpíadas de 1964
Em 1964, o Japão estava muito longe de ser comparado com a potência que é hoje. Sem sombras de dúvidas, as Olimpíadas de 1964 deixou um grande legado e trouxe um grande avanço econômico para o país, além do desenvolvimento de um dos transportes ferroviários mais eficientes do mundo.
A Olimpíadas também ajudaram a impulsionar a economia, com a venda de muitos televisores, que chegou a estar presente em 87,8% dos domicílios. 50 anos depois, o Japão tornou-se uma nação respeitada, além de uma grande potência global, onde se destaca em diversos segmentos tecnológicos.
Fonte: Japão em Foco