A sociedade japonesa possuem tradições de longa data que moldaram os japoneses por milênios. Especificamente, as cores têm associações simbólicas que aparecem nas artes, nos vestuários, na arquitetura e nos rituais japoneses. Apesar das influências ocidentais, alguns dos significados tradicionais das cores ainda se mantem mesmo nos dias de hoje.
Existem muitas cores que são consideradas auspiciosas pelo povo japonês. Outras são muito importantes em casamentos e outros rituais. Existem muitas regras atemporais associadas às cores do quimono também. Então, vamos dar uma olhada no significado das cores no Japão.
Vermelho – Aka (赤)
O vermelho é chamado “Aka” (赤) em japonês. A cor vermelha tem grande presença na cultura tradicional japonesa, desde a antiguidade até hoje. Para começar, a referência mais imediata é a própria bandeira do país, chamada Hinomaru. O círculo vermelho representa o Sol. Além disso, a combinação de vermelho e branco é tida como de boa sorte.
Por estas razões culturais, noivas vestindo vermelho no dia do casamento consideram uma cor comemorativa e forte. Envelopes vermelhos com dinheiro neles são dados em ocasiões especiais como casamentos, nascimentos de bebês e celebrações de Ano Novo.
Muito antes – aproximadamente século 6 – o vermelho já representava muito no cotidiano dos japoneses. A cor era fortemente relacionada a doenças. Porém, com o tempo, passou a ser associada exatamente como proteção contra doenças e maus espíritos.
O vermelho também está relacionado à proteção das crianças. Aliás, “akachan” (palavra japonesa para “bebê”) é formada pelo ideograma da cor vermelha (”akai”). No Japão, as estátuas de Jizo Bosatsu são protetor das gestantes, recém-nascidos, crianças e também dos abortados e geralmente usam gorros, casacos ou cachecóis vermelhos.
Construções religiosas, tanto budistas como xintoístas, não raramente utilizam o vermelho. Por exemplo, o torii (portal), quando de madeira, é pintado de vermelho, como sinal de proteção. No folclore japonês, figuras como o Tengu e o Daruma também geralmente são vermelhos.
Curiosamente, os personagens principais de muitos desenhos animados e seriados usam roupas ou robôs vermelhos, assim como a maioria dos logotipos de empresas japonesas. Os japoneses usam muito o inkan, carimbo com o ideograma da família, que funciona como a assinatura em documentos. Tradicionalmente, utiliza-se uma almofada com tinta vermelha.
Durante as guerras civis japonesas (1467-1568), o vermelho era usado pelos samurais como símbolo de força e poder na batalha. O vermelho também foi usado como maquiagem no Japão muito antes do batom se tornar popular e o cártamo era usado como base para os batons.
A louça de barro mais antiga do país (Jomon) e outros utensílios de madeira feitos na mesma época são pintados com uma laca chamada ‘sekishitsu’. Há muitos tons tradicionais de vermelho no Japão: Shuiiro (vermelhão), akaneiro (vermelho mais furioso), enji (vermelho escuro), karakurenai (vermelho) e Hiiro (escarlate) estão entre eles.
Branco – Shiro (白)
Branco tem sido uma cor auspiciosa no Japão durante a maior parte de sua história. Branco representa a pureza e a limpeza na sociedade japonesa tradicional, e é visto como uma cor abençoada. Por causa da sua natureza sagrada, o branco é a cor tradicional de eventos felizes como casamento e nascimento, além de aparecer na bandeira japonesa.
Vermelho e Branco
A combinação de vermelho e branco (Kouhaku/紅白) é um símbolo para ocasiões auspiciosas ou felizes. As longas cortinas com listras vermelhas e brancas são pendurados em recepções de casamento. “Mizuhiki” (cordas de papel cerimoniais) nas cores vermelho e branco são usados como ornamentos para casamentos e outras ocasiões auspiciosas.
“Kouhaku manjuu” (pares de bolos de arroz cozido no vapor recheado com feijão doce (azuki) muitas vezes são oferecidos como presentes em casamentos, formaturas e outros eventos comemorativos auspiciosas. Sem contar o “Hinomaru bento” que se caracteriza por arroz branco com um umeboshi no centro, assemelhando-se a bandeira japonesa.
Preto – Kuro (黒)
O preto é chamado kuro (黒) em japonês. Tradicionalmente, o preto representa mau agouro, morte, luto, destruição, medo e tristeza. Ornamentos em preto (kuro) e branco (Shiro) são geralmente usadas em funerais.
Por outro lado, o preto também tem sido tradicionalmente uma cor que representa a formalidade e a elegância e especialmente influenciada pela crescente popularidade das concepções ocidentais de eventos black tie.
O uso mais antigo da cor preta na cultura japonesa foi a tatuagem! Nos tempos antigos, alguns pescadores tinham o hábito de tatuar grandes pássaros ou peixes para se proteger do mal. A partir do período Nara, tatuagens seriam usadas para marcar criminosos como punição, e desde então as tatuagens tem sido associadas a gangsteres japoneses.
O preto também era usado para maquiagem desde os tempos antigos. Era usado para pintar sobrancelhas como em muitos outros países, mas o Japão também tinha um costume muito estranho chamado O-haguro onde especialmente as mulheres tingiam seus dentes de preto.
O preto também é uma cor importante nas artes japonesas, como a caligrafia e especialmente através do sumi-e, onde o pintor usa apenas tinta preta para fazer belas pinturas.
Azul – Ao (青) ou Índigo Ai (藍)
Azul também é uma cor que representa a pureza e a limpeza na cultura japonesa tradicional, em grande parte por causa das vastas extensões de água azul que rodeia as ilhas japonesas. Como tal, azul também representa frieza, calma e estabilidade.
Além disso, o azul é considerado uma cor feminina, e assim, em conjunto com a associação com a pureza e limpeza, o azul é muitas vezes uma opção de cor para roupas escolhida por mulheres jovens para mostrar sua pureza. Como uma cor tradicional japonesa, tons de azul são usados em quimonos para representar as estações e expressões de moda.
Muitos trabalhadores de escritório usam diferentes tons de azul, enquanto os estudantes universitários vestem peças de roupa nesse tom para entrevistas de emprego.
Já o índigo, é considerado o “azul do Japão”, feito a partir de um corante natural feito de folhas fermentadas da planta índigo misturada com água. Não era restrito a aristocratas como aconteceu com outras cores. No período Edo (1603 a 1868), todos os tipos de pessoas, de pessoas comuns a samurais, costumavam usar roupas tingidas de índigo.
Quando os estrangeiros foram autorizados a entrar no Japão durante o período Meiji (1868 a 1912) ficaram surpresos por ver o azul índigo em toda parte do país! Quimono, roupa de cama, toalhas de mão, noren. O povo japonês costumava usá-lo para tudo.
Não foi apenas por causa da moda, mas as roupas tingidas de índigo também têm três benefícios: a fibra se torna mais forte depois que o índigo morre; tem um efeito repelente de insetos; tem um efeito protetor UV. Hoje em dia essa cor ainda é muito usada no Japão.
Verde – Midori (緑)
O verde é a cor da fertilidade e do crescimento na cultura tradicional japonesa. Como a cor da natureza, a palavra japonesa para verde, midori, também é a palavra usada para vegetação. Além disso, a cor verde representa energia, juventude e vitalidade.
O verde também pode representar a eternidade, uma vez que as árvores perenes nunca perdem suas folhas ou param de crescer. Trazer a cor verde para a decoração da casa é visto como se estivéssemos adicionando a natureza para dentro dela.
Além disso, no Japão existe uma data especial: Midori-no-hi (Dia do Verde) no dia 4 de maio, durante o Golden Week. É o dia de celebrar a natureza. As famílias costumam relaxar ou participar de eventos destinados à esse dia em Parques e Jardins públicos.
O verde também é muito popular em roupas, pois traz a sensação de frescor. Chá, especialmente matcha e chá verde são ambos de cor verde após a preparação e as folhas de chá são verdes também. Como sabemos, o chá é muito importante na cultura japonesa.
Roxo – Murasaki (紫)
O roxo é chamado murasaki (紫) em japonês. Por muito tempo no Japão, pessoas comuns foram proibidas de usar roupas roxas! A cor roxa costumava ser vista muito raramente porque era difícil e demorava para ser feita. A cor roxa costumava ser muito cara porque precisava ser extraída da shigusa que é muito difícil de cultivar.
Por este motivo, essa cor era somente usada apenas funcionários de alto escalão e a família Imperial. Quando o budismo chegou ao Japão, os monges que tinham um alto nível de virtude também podiam usar roxo. Em performances de Noh, roxo e branco são freqüentemente usados para os figurinos do imperador ou aristocracia japonesa.
No período Heian (794-1185), a cor púrpura passou a ser associada às glicínias. Foi neste período que os funcionários de Fujiwara implementaram um governo de regência. Fuji significa flores de glicínias em japonês, a cor roxa tornou-se sinônimo da classe dominante novamente.
Durante o período Edo (1603-1868), a família governante era Tokugawa e seu emblema era a flor de malva, de modo que a púrpura permaneceu associada à nobreza por razões semelhantes.
Porém, o roxo ficou na moda durante o período Edo. As pessoas comuns eram proibidas de usar cores vivas, de modo que suas roupas costumavam ter tons de marrom! Na época, os atores do kabuki eram líderes da moda. Danjuro Ichikawa usava uma faixa roxa que tornou-se a peça mais vendida e assim a cor tornou-se muito popular entre os cidadãos Edo.
Fonte: Japão em Foco