Estado e religião são instituições oficialmente separadas na maior parte dos países do mundo, mas há pouco tempo a situação era bem diferente. Religiosos não só influenciavam as decisões tomadas por líderes, como também faziam parte do governo, com representantes ocupando cargos de poder.
O Japão não foi exceção; mesmo com uma cultura de características únicas, houve um período em que religiosos eram bastante presentes na política. Assim como a Igreja Católica organizou as Cruzadas, realizando diversas incursões à Terra Santa e dando origem aos Cavaleiros Templários, o Budismo também foi a origem dos Sohei, os monges guerreiros.
Samurais só na aparência
Quando pensamos no Budismo, imaginamos monges meditando em busca do caminho da luz e elevando seus espíritos para alcançar uma paz superior, exatamente o contrário do que os Sohei representaram para o Japão.
Eles ainda assim possuíam sua religiosidade, mas a propagação dela não considerava a parte que fala sobre paz. Em japonês, seu nome significa “monge guerreiro”, e o grupo surgiu durante a Idade Média, quando diferentes seitas budistas começaram a entrar em conflito.
Sua força política era grande, pois, além da competência durante as batalhas, possuíam a influência espiritual, que intimidava os inimigos. O tamanho desse impacto pode ser observado no registro do que falou o imperador Go Shirakawa-In, no século 12: “Há três coisas que estão fora do meu controle: as corredeiras do rio Kamo, dados lançados no jogo e os monges da montanha”.
Seus trajes eram semelhantes aos utilizados pelos samurais, mas geralmente a cor dos acessórios era branca ou salmão. Outras características marcantes, que tornavam sua identificação fácil e rápida, eram a cabeça raspada, o uso de um rosário de madeira e um capuz branco, deixando somente seus olhos à mostra. Alguns utilizavam capacetes, mas eram minoria.
Apesar de possuírem habilidades com uma variedade imensa de armas, como katanas, adagas e até mesmo arcos, o aparato favorito se chamava naginata. O bastão, com uma lâmina em sua ponta, era manuseado com extrema destreza, o que se configurava como mais uma característica desses poderosos guerreiros.
Parte do poder dos Sohei estava na espiritualidade que representavam, por isso carregavam sempre um mikoshi, minissantuário, com eles. Apenas a presença do objeto fazia com que alguns inimigos se sentissem intimidados, a ponto de evitar qualquer tipo de violência em frente a um item tão sagrado.
Sem controle central
Diferente dos Cavaleiros Templários europeus, os Sohei eram fiéis a seus templos, e seus conflitos tinham origem quase sempre política. Durante uma batalha, contar com um monge guerreiro ao seu lado podia significar a vitória, por isso eles eram odiados por diversos líderes samurais. Eram chamados de akuso (monges do mal) por alguns deles, enquanto outros tinham medo e cediam a suas vontades, em troca de apoio.
Oda Nobunaga foi um dos principais líderes da história japonesa, responsável por boa parte do processo de unificação do país. Durante os conflitos que culminaram no domínio de quase toda a ilha, seus principais inimigos, as famílias Asai e Asakura, se aliaram aos Sohei.
O fato tornou as batalhas muito mais complicadas, mas após algumas campanhas de sucesso ele destruiu completamente o templo que existia no Monte Hiei, em 1571. O ataque foi brutal e não poupou homens, mulheres e crianças — mais de 20 mil pessoas foram mortas.
O triunfo de Nobunaga significou o fim dos monges guerreiros porque, sabendo do poder deles, ele ordenou que todos os centros independentes dos Sohei fossem levados ao chão.