Quem nunca ouviu esse papo de que o sentido do olfato dos cães é muito superior e apurado do que o dos humanos? Todo mundo, né? Entretanto, de acordo com Alia Hoyt, do site How Stuff Works, uma pesquisa recente revelou que a coisa não é bem assim, não — e que nós temos um “faro” pra lá de aguçado. A diferença entre os focinhos dos cachorros e os “nossos” é que eles estão adaptados para perceber determinados odores melhor do que outros.
Segundo Alia, o estudo foi liderado pelo neurocientista John McGann, da Universidade Rutgers, nos EUA, que fez um extensivo levantamento sobre pesquisas relacionadas com o olfato e comparou as informações com a resposta cerebral de cães, ratinhos e humanos aos estímulos olfativos — descobrindo que nós somos surpreendentemente hábeis na hora de identificar cheiros.
Origem do mito
Conforme explicou Alia, essa história de que o olfato dos cães é melhor do que o nosso surgiu graças aos trabalhos de um cientista do século 19, chamado Paul Broca. Vale destacar que esse cara não chegou a conduzir nenhum teste sensorial para tirar suas conclusões, mas acreditava que o aumento do lobo frontal humano, resultante da nossa evolução, teria dado lugar ao livre arbítrio em detrimento do sistema olfativo.
Além disso, o cientista alegava que outros mamíferos tinham bulbos olfatórios — duas regiões localizadas sob a parte anterior dos hemisférios cerebrais responsáveis por processar os estímulos olfativos — bem grandes em proporção ao tamanho de seus cérebros quando comparados aos bulbos humanos, o que também contribuía para nos tornar péssimos farejadores.
Só que, de acordo com McGann, apesar de os bulbos olfatórios corresponderem a apenas 0,01% do volume do cérebro, em termos absolutos, eles não são muito menores do que os dos ratinhos, por exemplo. Ademais, nos humanos, essas estruturas estão vastamente interconectadas com outras regiões do cérebro que são muito mais complexas e maiores em nós do que nos animais, o que nos dá vantagem na hora de processar os estímulos olfativos.
Excelentes farejadores
Com relação a quem cheira melhor, os testes de McGann demonstraram que isso depende. Os cães, por exemplo, são peritos em identificar diferentes xixis (obviamente!), enquanto os humanos são excelentes na hora de detectar odores como os de elementos químicos voláteis — e os diferentes compostos presentes em vinhos finos.
Mais especificamente, McGann explicou que, enquanto os humanos são muito melhores do que cachorros e ratos (que foram os bichos que participaram no estudo) em reconhecer determinados odores, esses animais estão mais adaptados para detectar outra variedade de cheiros. Sendo assim, o correto não seria dizer que o nosso sentido do olfato é melhor ou pior, mas simplesmente diferente — e certamente muito mais poderoso do que se pensava.
O pesquisador explicou ainda que, na verdade, o olfato é especialmente importante para os humanos, já que ele nos ajuda a resgatar memórias por associação e a desencadear determinados comportamentos e respostas emocionais. Ademais, o odor pessoal pode transmitir uma série de informações, como os níveis de estresse, ansiedade e até situação reprodutiva de cada um, e a deterioração desse sentido pode indicar a presença de condições degenerativas como o Alzheimer e o Parkinson.
Sem falar no importante papel do olfato nas nossas vidas cotidianas, uma vez que ele não só nos ajuda a evitar situações de perigo, como está intimamente ligado à nossa capacidade de sentir o sabor dos alimentos que consumimos.