Os samurais lutaram no campo de batalha por mil anos, e durante esse tempo suas armas e armaduras passaram por uma evolução fascinante.
Quase todo mundo consegue imaginar como seria a aparência de um samurai indo para uma batalha. Ele costuma carregar espada de um gume, curva, armadura lamelar e provavelmente um capacete com cristas, chifres ou algum outro tipo de ornamentação, certo?
Mas a Era Samurai durou mais de 1.000 anos e, ao longo desse tempo, houve inúmeras mudanças relacionadas à tecnologia, estratégia militar e vestuário.
Assim como as roupas que você veste e o telefone que você usa agora são diferentes dos que seus pais e avós usaram, as espadas e armaduras samurai evoluíram também.
Essa evolução é um dos temas de “Samurai: The Beauty and Pedigree of Warriors”, uma exposição que está sendo realizada atualmente no Museu da Cidade de Fukuoka.
Cerca de 147 peças de armadura e armamento samurai estão em exibição, com mais da metade oficialmente designadas como tesouros nacionais devido ao seu significado histórico.
A evolução das armaduras samurai
No período Heian (que durou de 794 a 1185), a guerra no Japão foi conduzida principalmente por guerreiros de classe social relativamente alta. Montados em cavalos e munidos de arco e flecha, os guerreiros batalhavam com o exército inimigo em campo aberto.
Como o cavalo era quem fazia a maior parte do trabalho de mobilidade, o peso não era motivo de preocupação, e a seção do tronco de uma armadura da época Heian podia pesar até 20 kg com peças de proteção nos ombros que adicionariam cerca de três quilos cada.
A armadura era folgada na região do abdômen e tinha grandes aberturas nas axilas para permitir um fácil encaixe das flechas e a mira do arco.
Mas com o passar dos anos, o comércio começou a se desenvolver e as cidades começaram a surgir ao redor de um castelo feudal. Essas fortalezas tornaram-se alvos militares e a cavalaria tornou-se de pouca utilidade para travar ou combater um cerco. No entanto, a armadura precisava se tornar mais leve, já que os samurais estavam agora lutando a pé.
O aumento de combates corpo a corpo nos períodos Genpei e Kamakura (1180-1333) também significavam que as brechas e aberturas da armadura tinham que reduzir, já que um inimigo parado a centímetros poderia encaixar a ponta da lâmina em um espaço desprotegido com mais facilidade do que alguém atirando uma flecha a uma grande distância.
À medida que a armadura precisava cada vez mais se ajustar ao corpo, mais as cinturas ficavam evidentes, dando aos samurais, uma figura quase semelhante a uma ampulheta.
Se no período Heian, a “profissão” de samurai era algo que pertencia à nobreza, isso começou a mudar a partir do momento que os combates passaram a ser a pé, já que não havia mais necessidade de suprir o exército com cavalaria e nem gastar com cavalos caros.
Nos períodos Muromachi e Sengoku (1336-1600), uma grande parte dos combatentes eram Ashigaru (足軽), formados essencialmente por agricultores e outros plebeus convertidos em soldados a serviço de seu senhor feudal local. Para equipar exércitos muito maiores, a confecção de armaduras teve que se tornar mais barata e mais simples.
Os armeiros começaram a combinar o que anteriormente eram várias peças de uma armadura em peças compostas, como o kote, uma luva de combinação e manga blindada.
No entanto, a mudança para um design de armadura mais simples não agradou muito os samurai de alto escalão. O design antigo facilitava a maneira de os samurais se distinguirem visualmente no campo de batalha. Então, o que os figurões samurais fizeram para se adaptar ao novo design? Começaram a usar capacetes cada vez mais elaborados.
A maioria deles não eram particularmente prático, pois eram grandes e pesados demais. Mas lembre-se que neste momento havia os “Ashigaru” para fazer muitos combates mano a mano, e os samurais de alto escalão atuavam principalmente como generais, tomando decisões táticas e dando ordens e não cruzando espadas pessoalmente com as forças inimigas.
No final do período Sengoku, o Japão estava ampliando o comércio com comerciantes e missionários estrangeiros, o que resultou em Nambando gokuso, ou “armadura dos bárbaros do sul”, um termo para os europeus da época, devido à sua presença na região de Kyushu.
Nambando gokuso é uma armadura que mistura elementos ocidentais e japoneses. Eles tinham um peitoral de estilo europeu feito de uma grande peça única de metal, além de uma proteção sobre a clavícula e a parte superior do tórax. Também possuía uma estrutura lamelar no pescoço e quadris, além de luvas kote, mangas e caneleiras blindadas.
Essa armadura teve apenas uma breve presença no campo de batalha no Japão, pois não demoraria muito até que a Batalha de Sekigahara, que ocorreu em 1600, solidificasse o poder do clã Tokugawa o suficiente para estabelecer um xogunato que durou quase três séculos.
Durante esse tempo, o Japão teve relativamente poucos conflitos militares até a era moderna, o que fez com que a armadura se tornasse algo histórico desde aquela época.
A evolução das espadas samurai
Assim como a armadura, a espada Katana também evoluiu significativamente ao longo da história japonesa. Você já deve ter ouvido algo sobre a espada ser a alma do samurai, porém essa nem sempre foi a arma mais utilizada. Por vários séculos, o arco e flecha foi o que se destacou em um campo de batalha durante um conflito entre clãs rivais.
Eventualmente, os comandantes começaram a procurar maneiras de soldados da infantaria derrubarem inimigos montados em cavalos, o que levou na criação de espadas longas e delgadas, que eram usadas para atingir as pernas dos cavalos das tropas inimigas.
Isso continuou nos primeiros anos do período Kamakura (1185-1333), durante os quais armas de haste como os Naginata e Nagamaki também se destacaram.
Mas como dito anteriormente sobre a evolução das armaduras samurai, o comércio se intensificou e os daimyo construíam cada vez mais castelos fortificados nos anos seguintes à era Kamakura. Com a cavalaria tornando-se obsoleta, o exército de infantaria ganhava destaque, e as lutas corpo a corpo tornaram-se predominante nos conflitos militares.
A armadura tornou-se mais leve por não necessitar das grandes lacunas entre as placas que os arqueiros a cavalo exigiam para montar e atirar. Em contrapartida, as espadas tornaram-se maiores e mais pesadas, sendo chamadas de Otachi no período Nanbokucho (1336-1392).
Com a curva deslocada para o centro da lâmina, as espadas otachi eram muito mais eficientes, já que eram capazes de penetrar a armadura e eventualmente matar seu oponente e não apenas machucar a canela do seu cavalo para impossibilitá-lo de fugir.
No entanto, lutar a pé também significava que os guerreiros samurai tinham que ter grande resistência física, e portar um otachi volumoso e pesado durante uma batalha inteira nem sempre era a melhor estratégia. Assim, nos períodos Muromachi e Sengoku (1336-1600), os Uchigatana mais curtos e retos ganharam a preferência dos guerreiros.
Essas katanas eram particularmente mais adequadas para o combate corpo a corpo, com um equilíbrio entre rapidez e capacidade de corte. Eles também eram mais fáceis de serem transportados e podiam ser retirados rapidamente da bainha. Tudo isso fez com que continuassem populares mesmo após o período de combates chegarem ao fim.
Alguns otachi que haviam sido forjados em épocas anteriores foram modificados no período Sengoku. Por exemplo, o Heshikiri Hasebe foi forjado cerca de 200 anos antes de ser empunhado por Oda Nobunaga, que teve sua espiga (a protrusão de metal que se estende até o cabo da espada) encurtada, deixando seu tamanho mais próximo ao de uma uchigatana.
Outro aspecto único do Heshikiri Hasebe (へし切長谷部) é que a lâmina inteira foi extinta quando forjada, resultando em dramáticas linhas em toda a extremidade. Já o Nikko Ichimonji (日光 一 文字), considerado um tesouro nacional japonês certificado do período Kamakura, tem uma série de impressões em forma de pétalas de flores perto de sua ponta.
Outra espada que faz parte da exposição e considerada tesouro nacional é a Raikunitoshi que com apenas 54 centímetros de comprimento, é a espada mais curta do Japão. Na exposição você também vai encontrar a maior espada e também tesouro nacional, a Bishu Osafune Tomomitsu, de 159 centímetros, uma lâmina intimidadora forjada por volta de 1360.
A exposição também inclui vários Tanto (punhais), com o Taiko Samonji, mais uma vez um tesouro nacional, com um brilho de cristal que os historiadores chamam de “jinie”. Lá também encontramos uma espada do famoso ferreiro Samonji Genkei (左文字源慶), que trabalhou em meados dos anos 1300, na forma de seu katana Yoshimoto Samonji (義元左文字).
No entanto, apesar da espada carregar a marca de Samonji, a lâmina em si tem linhas de temperamento bastante diferentes dos padrões associados ao seu trabalho, levando alguns a especular que a espada foi modificada por outro ferreiro em algum momento.
Embora o Yoshimoto Samoji só tenha sido exibido apenas até o dia 6 de outubro, ainda há muito o que ver na exposição, que termina em 4 de novembro de 2019. Se você é um apreciador da história do Japão ou é fascinado pelos samurais, vale a pena fazer uma visita.
Informações sobre a Exposição
Nome: “Samurai: The Beauty and Pedigree of Warriors”
Local: Fukuoka City Museum /福岡市博物館
Endereço: Fukuoka-ken, Fukuoka-shi, Sawara-ku, Momochihama 3-1-1
Telefone: +81 92-845-5011
Horário 9:30 às 17:30
Fechado às segundas-feiras
Taxa de entrada: 1.500 ienes