“Os seres humanos são o câncer da natureza, mas ela é resiliente. Se a presença humana for reduzida, as populações silvestres se recuperam e crescem”, disse o radioecologista do Instituto de Radioatividade Ambiental da Universidade de Fukushima, Thomas Hinton. Pois é o que está acontecendo na zona de exclusão da usina nuclear japonesa.
Quase uma década depois do acidente nuclear, a vida silvestre retornou e ocupa a área ao redor da usina de Fukushima, hoje sem vida humana. A descoberta, de pesquisadores da Universidade da Geórgia (UGA), foi possível graças à instalação de 106 câmeras em três zonas delimitadas pelo governo japonês: circulação proibida/ alto nível de contaminação; circulação restrita/nível intermediário de contaminação; circulação livre/ níveis baixos de radiação.
Por 120 dias (e mesmo que 14 delas tivessem falhado), as câmeras capturaram mais de 267 mil imagens. Desse acervo, 46 mil imagens são de javalis, ariscos ao homem. Mais de 26 mil foram tiradas na área desabitada; 13 mil, nas zonas restritas; e sete mil, nas zonas habitadas – retornaram 20 espécies, entre javalis, lebres, macacos, guaxinins, faisões e raposas.
A equipe de cientistas, incluindo Hinton, não avaliou a saúde dos animais. “A pesquisa mostra que a presença ou não de atividade humana e o tipo de habitat foram os principais fatores que levaram os animais a voltar, e não os níveis de radiação.”
A vida floresce, apesar da radiação
O estudo responde às perguntas feitas pela comunidade científica sobre como a vida selvagem se desenvolve e reocupa as áreas interditadas à presença humana. Como a cidade de Pripyat, evacuada e hoje tomada pela vida selvagem, as cidades abandonadas ao redor da usina de Fukushima (Okuma, Namie, Futaba, Tamioka) estão sendo reconquistadas pela natureza.
“Nossos resultados são a primeira evidência de que a vida selvagem agora é abundante em toda a zona de exclusão de Fukushima, sem humanos e apesar da alta presença de contaminação radiológica”, resumiu o biólogo da UGA para vida selvagem, James Beasley.