Uma das primeiras coisas que os turistas reparam no Japão é como tudo é limpo, mesmo não tendo quase nenhuma lixeira ou varredores na rua. Mas qual é o segredo por detrás disso?
Um Costume que vem desde a Infância
A limpeza faz parte da rotina dos japoneses desde que são crianças, da casa à escola. São os estudantes tem a responsabilidade de manter a escola limpa, e isso se estende de limpar a própria sala de aula até os corredores e banheiros, todos colaboram e revezam. Incorporar esse pensamento na consciência coletiva durante os tempos da escola ajuda as crianças a desenvolverem consciência do seu arredor. Essa é uma forma eficiente de fazer as pessoas se sentirem responsáveis pelos lugares que frequenta e as coisas que usam, gerando um respeito para com o próximo.
Também é um costume japonês não usar os mesmos sapatos que se usa na rua dentro de casa ou das escolas. Os sapatos da escola permanecem nos seus armários individuais na escola, enquanto em casa os japoneses usam pantufas e similares. Existe até mesmo um chinelo que só se usa no banheiro. Tudo isso para não propagar a sujeira e a proliferação de bactérias em outros ambientes.
Limpeza como uma Forma de Respeito ao Próximo
Durante a Copa do Mundo e as Olimpíadas no Brasil, os japoneses ficaram bem famosos por limparem e recolherem o lixo nos estádios. Além disso, também circulou pela internet uma foto mostrando que os jogadores de futebol também limparam o seu vestiário como forma de agradecimento. Na verdade, isso é comum no Japão.
Quando você vai a um parque no Japão, cinema, praia ou qualquer evento, você pode ver os japoneses recolherem o seu próprio lixo e os depositarem em sacolas para jogar fora mais tarde, já que não há muitas lixeiras pela cidade. Em um evento do hanabi (festival de verão com fogos de artifício), presenciei um casal de jovens que estavam bebendo uma cerveja atrás da outra, mas eles tinham uma sacola em que eles colocavam as latas vazias. Chega a ser cômico que mesmo bebendo tanto álcool e em um evento tão bonito eles ainda tinham a consciência de não jogar o lixo no chão.
Outro exemplo é que quando é de manhã, funcionários de escritórios e lojas limpam as ruas perto do seu trabalho. As crianças também participam se voluntariando para recolher o lixo das ruas perto de suas escolas. Além disso, existem vários grupos de voluntários que fazem a limpeza por Tóquio.
Existem ainda outras formas de limpeza, como, por exemplo, evitando passar doenças e bactérias. O dinheiro mesmo é recebido em uma espécie de bandeja em vários estabelecimentos, para evitar o contato. Também é bem conhecido o fato de que os japoneses usam máscaras cirúrgicas nas ruas, isso é tanto para evitar que uma pessoa doente passe o vírus quanto para evitar ficar doente.
Outro aspecto da limpeza no país é que os japoneses acreditam que eles não devem perturbar e preocupar as outras pessoas sendo preguiçosos e negligentes quanto à sua própria saúde e lixo. Por isso eles tomam para si essa responsabilidade de manter as coisas limpas e arrumadas.
A Limpeza como Parte dos Preceitos Religiosos
O Zen Budismo, que chegou ao Japão através da China entre os séculos XII e XIII, ensina que as tarefas de limpar e cozinhar são como exercícios espirituais, não muito diferentes da meditação. São como oportunidades de praticar o budismo, como uma prática de limpar a própria alma e crescer espiritualmente.
Mas se esse é um preceito budista, então porque outros países que são budistas não se preocupam tanto com a limpeza como o Japão? Isso se dá porque antes do budismo, já havia o xintoísmo, que é como a base de todos os preceitos, cultura e identidade do país. A limpeza é um dos pilares da religião, onde o ato de limpar é visto como ir ao encontro do divino.
Existe um conceito no xintoísmo chamado kegare, que nada mais é que a impureza e sujeira, que deve ser sempre combatido com rituais de limpeza e purificação. Caso uma pessoa seja afligida pelo kegare, ele pode acabar “infectando” a sociedade, por isso é vital que tudo esteja sempre limpo. É como se a limpeza afastasse o mal da sociedade.