Que as crianças têm muito mais facilidade para aprender que os adultos, já é algo de conhecimento geral. Mas agora cientistas do MIT (Massachusetts Institute of Technology) descobriram exatamente o período em que isso acontece, pelo menos para aprender uma nova língua.
A pesquisa, divulgada neste ano, sugere que jovens de até 17 ou 18 anos estão no auge da curva de aprendizado gramatical ou de um novo idioma. A partir daí, ainda é possível aprender, claro, mas será cada vez mais difícil e praticamente impossível conseguir falar como um nativo. Aliás, para se aproximar da fluência de um falante nativo do idioma, o ideal seria começar a estudar pelo menos até os 10 anos de idade.
Para Joshua Hartshorne, professor de Psicologia na Boston College, responsável pela condução do estudo no MIT, os primeiros anos de vida são os melhores para conhecer uma nova língua. “De zero a 10 anos é o período ideal para começar a aprender outro idioma; depois disso já começamos a notar um declínio na capacidade de apreender conteúdo”, analisa.
Para Tatiana Salomão, coordenadora de Internacionalização do Colégio Marista Anjo da Guarda, quanto mais cedo a criança é exposta a novos idiomas, melhor e mas ampla será a aprendizagem. “Nos primeiros anos, aprendemos o que há de mais essencial para viver e é o melhor momento para captar o mundo”, explica. “Crianças aprendem mais fácilmente porque não fazem distinção entre os idiomas; para elas é natural falar tanto sim como yes, por exemplo, e construir frases de maneira mais prática do que um adulto faria”, conta Tatiana.
Pesquisa divertida
Como a mensuração do processo de aprendizagem é algo bastante complicado de fazer, os pesquisadores optaram por uma metodologia inusitada. Um quiz com questões que diferenciam vários níveis de proficiência, mas de maneira divertida, foi a solução encontrada para avaliar uma grande quantidade de pessoas – 500 mil, para ser mais exato. Além de medir o nível de conhecimento, o teste continha pegadinhas para identificar o dialeto que a pessoa falava.
Aliando essas informações à idade dos participantes e quando começaram a aprender inglês, os cientistas do MIT conseguiram traçar as curvas de aprendizado. O objetivo era identificar o período crítico para aprendizado, que se acreditava ser bem menor do que as evidências mostraram.
Ainda não se conhece, no entanto, a razão desse declínio. “Pode ser uma mudança biológica, pode ser algo social ou até cultural”, especula Josh Tenenbaum, professor de Ciências Cognitivas no MIT e coautor da pesquisa. Na opinião de Tatiana, a queda na absorção de conteúdo pode ser explicado pelo lado comportamental.
“As crianças tendem a ser mais curiosas, querem saber tudo, entender tudo e dominar o mundo que está a sua volta. À medida que vão se tornando jovens, os interesses vão ficando mais específicos e direcionados, o que talvez explique essa curva de aprendizado”, debate. Porém, não há dúvidas de que aprender um segundo idioma oferece benefícios para as crianças. “Com um vocabulário maior e uma opção mais ampla de entendimento, as crianças conseguem captar muito mais do mundo do que o fariam em um só idioma”, conclui a coordenadora.