Os grupos japoneses Daio Paper e Marubeni anunciaram nesta quinta-feira, 27, a compra da empresa de papel Santher, que está há três gerações nas mãos da família Haidar. O valor do negócio é de R$ 2,3 bilhões, sem incluir as dívidas. Dona das marcas de papel higiênico Personal e papel toalha Snob, a companhia passou por uma reestruturação financeira no início de 2018, para alongamento de dívidas de cerca de R$ 500 milhões.
A empresa paulista, que foi colocada à venda no ano passado, intensificou as conversas com os grupos japoneses nas últimas semanas, segundo fontes a par do assunto. O anúncio do negócio foi feito pela Daio Paper e Marubeni, que terão 100% do controle da empresa de papel brasileira, por meio de uma joint venture firmada entre os dois grupos.
A Daio Paper, maior produtora japonesa de papel tissue (usado para fazer papel higiênico e guardanapo, por exemplo), terá 51% do negócio e a Marubeni, que atua em diversos setores, como energia e alimentos, ficará com os 49% restantes.
Em comunicado ao mercado, a Daio e Marubeni informaram que fizeram a parceria para investir no Brasil por considerar “o mercado nacional atraente, à luz do significativo crescimento populacional e do desenvolvimento econômico do País”. As duas companhias também acreditam no potencial crescimento da demanda por bens de consumo (incluindo produtos para cuidados pessoais). Além das marcas Personal e Snob, a Santher também produz absorventes femininos, fraldas descartáveis e tem linhas voltadas para o mercado corporativo.
O mercado global de produtos de higiene e cuidados pessoais é avaliado em aproximadamente US$ 180 bilhões, com uma taxa de crescimento anual em torno de 3% nos próximos anos. O Brasil é o quarto maior mercado consumidor do mundo, atrás dos Estados Unidos , Europa e China, com média de crescimento de 5,6% (produtos de papel doméstico) e 5,4% (fraldas descartáveis) nos últimos cinco anos.
Grupo familiar
Com a aquisição, a família Haidar sai do negócio. Fundada há 82 anos pelo empresário libanês Fadlo Haidar, formado em medicina, a empresa da Zona Leste da cidade de São Paulo começou a operar com produção para papel para embalagens. Haidar, que chegou ao Brasil em 1921, comprou um terreno na Penha, para construir a Fábrica de Papel Santa Therezinha.
Com três fábricas em operação, a companhia apostou na diversificação de produtos para garantir sua sobrevivência. Em 2016, contudo, afetada pela crise, a família decidiu fechar a unidade de Governador Valadares (MG) – considerada obsoleta. Em 2017, o grupo promoveu um processo de reestruturação financeira para reverter os resultados negativos dos últimos anos.
No ano passado, a Santher encerrou com receita líquida de R$ 1,56 bilhão, alta de 5,4% sobre 2018, e lucro de R$ 30 milhões, revertendo o prejuízo de R$ 5,2 milhões do ano anterior. O Ebitda (geração de caixa) alcançou R$ 179,8 milhões, crescimento de 49% ante o ano anterior. O atual presidente da companhia, José Rubens de la Rosa, deverá permanecer na gestão.
O Pinheiro Neto Advogados assessorou a Santher no negócio. O escritório Mattos Filho e o banco BNP Paribas atuou pela Daio e Marubeni.
Consolidação
A compra da Santher pela Daio e Marubeni reforça o interesse de grupos estrangeiros pelo mercado de papel e celulose brasileiro. Os grupos japoneses vão disputar mercado com a gigante Kimberly- Clark, dona da marca de papel higiênico Neve. No ano passado, a empresa Softys, filial da chilena CMPC, comprou a paranaense Sepac por R$ 1,3 bilhão. Outras empresas do País estão no alvo de multinacionais, que buscam expansão em mercados emergentes, segundo fontes.