Os laços sanguíneos — que deveriam significar união e identidade — parecem não ter valor algum para o governo japonês quando o tema é imigração.
Filhos e netos de japoneses precisam de visto de trabalho para viver no Japão.
Para muitos, esse detalhe burocrático representa muito mais do que uma simples regra: é um símbolo da falta de empatia e reconhecimento com a história dos imigrantes japoneses no Brasil.
“Para entender o presente, precisamos visitar o passado”, afirma o vereador Jhony Sasaki, de São Vicente, descendente de japoneses e voz ativa na defesa da comunidade nipo-brasileira.
Com tom emocionado, Sasaki revela:
“Ouço muitos relatos tristes, tanto de imigrantes japoneses no Brasil quanto de descendentes de japoneses que vivem no Japão. O sentimento é o mesmo — a falta de pertencimento aos descendentes de japoneses que voltaram para a terra de seus ancestrais, o lugar onde tudo começou. Mesmo assim, continuam sendo tratados como estrangeiros, gaijins.”
A verdade é dura e, por isso mesmo, precisa ser dita: os imigrantes japoneses e seus descendentes nunca receberam o amparo que mereciam.
Durante e após o período imigratório, foram deixados à própria sorte.
Mesmo assim, as colônias japonesas cresceram, floresceram e se mantêm vivas graças à união, ao esforço e à resiliência de uma comunidade que nunca desistiu de honrar suas raízes.

Com dignidade e trabalho, ergueram escolas, templos, associações e eventos culturais — tudo sem depender de nenhum governo.
Mesmo sem apoio, as associações japonesas seguem firmes: preservam tradições, promovem educação e mantêm viva a alma japonesa no Brasil.
Mas o reconhecimento — esse, infelizmente — nunca veio.
Nem do governo brasileiro, nem do japonês.
Ficou preso aos discursos protocolares, aplaudidos apenas em cerimônias e datas comemorativas.
No fim da década de 1980, o Japão enfrentava falta de mão de obra. Foi então que surgiu o chamado “boom decasségui” — um acordo entre Brasil e Japão para permitir o recrutamento de descendentes de japoneses.
O que parecia uma chance de prosperar virou, para muitos, um novo ciclo de exploração.
Trabalhadores nipo-brasileiros enfrentaram jornadas exaustivas em fábricas, sem direitos, sem voz e sem proteção, muito menos foram acolhidos na terra de seus ancestrais, não receberam cidadania, nem reconhecimento histórico.
Foram rotulados apenas como “gaijin” — estrangeiros — e até hoje vivem como mão de obra temporária, descartável, invisível.

O Japão, que poderia abrir os braços aos seus filhos distantes, preferiu transformá-los em estatísticas.
“É triste ver brasileiros descendentes de japoneses sendo tratados como substituíveis”, lamenta Sasaki.
“Eles são parte viva da história dos dois países. Mas seguem sem reconhecimento, sem cidadania e sem voz.”
Essa é uma história de resistência, identidade e injustiça.
Um capítulo que muitos preferem esquecer — mas que, nas palavras de Jhony Sasaki, precisa ser contado em voz alta, para que as próximas gerações entendam que o sangue japonês corre nas veias de brasileiros que nunca deixaram de honrar suas origens.









