O Japão é um país apegado às suas tradições culturais e repleto de regras de etiqueta. Além disso, há muitas obrigações sociais enraizadas em sua sociedade, especialmente no que se refere a presentes e cartões enviados à amigos, familiares e colegas de trabalho.
A obrigação de retribuir um presente ou favor prestado é conhecido como Okaeshi (お返し), uma prática muito difundida na sociedade japonesa, que por sua vez faz parte de um conceito ainda maior que engloba uma série de convenções sociais denominada Giri (義理).
Mas nem todos, principalmente os mais jovens, estão satisfeitos com tantas obrigações sociais ao longo do ano. O portal japonês My Navi Woman realizou uma entrevista com 441 leitoras para saber quais dessas “obrigações” consideram desnecessárias. Confira o resultado:
5. Magonohi – Dia dos netos – 24,5%
24,5% dos entrevistados disseram que acham desnecessário o Magonohi (孫の日), ou seja, “Dia dos Netos”, celebrado no terceiro domingo de outubro. Na realidade, o dia dos netos trata-se de uma data comemorativa recente, que foi criada no Japão em 1999.
Mas existe uma explicação pra isso, que não tem relação nenhuma com um possível enfraquecimento dos vínculos familiares entre as gerações. O motivo é simplesmente porque o Japão já possui vários dias especiais para crianças, tais como o Hinamatsuri (dia das meninas), no dia 3 de março e Kodomo no hi (dia dos meninos), no 5 de maio.
Além disso, tem o Shichi-Go-San no dia 15 de novembro, uma cerimônia realizada para festejar as crianças que completaram sete, cinco ou três anos de idade ao longo do ano. Ou seja, para algumas das entrevistadas criar mais uma data referente às crianças é exagero e por ser uma comemoração recente, acabou não ganhando muita repercussão entre os avós.
4. Shochū Mimai – Cartões de Verão – 25,4%
No Japão, existe um costume de enviar cartões durante o verão, chamado shochumimai (暑中見舞い). O cartão é enviado para amigos e parentes com o intuito de perguntar como vai a saúde deles na época mais quente do ano. São enviados geralmente entre o final de julho (estação chuvosa) e 7 de agosto (um dia antes de Risshu, dia do ingresso do outono).
Os cartões podem ser enviados após 8 de agosto, no entanto, o nome muda para Zanshomimai (残暑見舞い). Para muitos japoneses, os cartões de verão é uma forma de manter contato com amigos e parentes que talvez não vejam com muita frequência.
No entanto, outros acham que esse costume tornou-se desnecessário hoje em dia, pois apesar do calor escaldante, a maioria das pessoas tem acesso a um ar condicionado, bem diferente de antigamente, quando boa parte da população trabalhava embaixo do sol, nas plantações.
3. Nengajo – Cartões de Ano Novo – 28,6%
No Japão há um costume tradicional no Ano Novo: Enviar Nengajo (年賀状) para amigos, familiares e colegas de trabalho. É semelhante aos cartões de Natal enviados no Ocidente exceto que, em vez de serem fechados em um envelope, a mensagem e a imagem são impressas diretamente em um cartão postal e entregues pelos correios no dia 1° de janeiro.
Geralmente o Nengajo é ilustrado com o respectivo animal do zodíaco chinês do próximo ano. Antigamente, os Nengajo eram ilustrados e à mão ou de forma artesanal mas atualmente eles passaram a ser produzidos em massa através de processos industriais.
Apesar dessa tradição ainda estar bastante enraizada na cultura japonesa, muitos jovens tem trocado os cartões físicos por cartões digitais, enviados por email. Para muitos essa é uma forma de adaptar-se às tecnologias e à vida moderna, economizando tempo e ienes.
Outros acham que não há necessidade de enviar cartões para todos os colegas uma vez que as férias de inverno são curtas, com duração de 3 a 7 dias. Segundo um entrevistado, “se vou vê-los tão em breve, acredito ser um desperdício de dinheiro enviar cartão a todos”.
2. Oseibo – Presentes de final do ano – 30,2%
Oseibo (お歳暮) são presentes de inverno, entregues geralmente a partir da segunda quinzena de dezembro. O Oseibo, assim como o Ochugen (presentes de verão), servem para expressar gratidão para com as pessoas a quem nos sentimos em dívida durante o ano.
Por este motivo, durante os meses de julho e dezembro, é comum encontrarmos seções em lojas de departamento lotadas de presentes que podem ser dados nessas ocasiões. Os presentes mais comuns são caixas de produtos de limpeza, alimentos ou bebidas.
No Japão, existe uma preocupação constante em não causar incômodo às pessoas, por isso a qualquer favor prestado, tem-se o costume de expressar a “gratidão” através de presentes. Não deixa de ser uma grande virtude embora não podemos negar que isso demanda um bocado de tempo e dinheiro, o que por sua vez pode tornar-se inviável em tempos de crise.
1. Ochugen – Presentes de verão – 32%
Ochugen (お中元) é essencialmente igual ao oseibo, exceto em relação à data pois os presentes são entregues a partir da segunda quinzena de julho. Nessa época, passaram-se 7 meses desde o Oseibo, e provavelmente muitas pessoas prestaram algum tipo de ajuda nesse meio tempo. Então, é chegada a hora de retribuir o favor, enviando um mimo.
Como podemos presumir, esse costume geraram queixas semelhantes. “Eu acho que devemos enviar presentes quando queremos, em vez de ter que fazê-lo todos os anos”, propôs um entrevistado. Além disso, o verão no Japão é uma época com muitas atividades, com festivais (matsuri) e fogos de artifícios (hanabi) ocorrendo em quase todos os fins de semana.
Assim, como o Oseibo, o Ochugen também demanda tempo e principalmente dinheiro. O preço de um presente Ochugen pode variar de ¥ 2.000 a ¥ 5000, mas podemos encontrar presentes com valores ainda mais altos. A escolha vai depender do tipo de relação que você tem com a pessoa a ser presenteada, sendo ele parente, amigo, chefe ou colega de trabalho.
Como podemos perceber, o Japão é uma nação que preza muito as boas relações entre as pessoas. E as datas estipuladas para enviar um cartão ou presente foi uma forma de padronizar o “sentimento de gratidão” ou “enaltecer o vínculo de amizade” entre as pessoas.
Claro que o descontentamento de alguns não significa que tais costumes deixarão de existir, mas não impede que a longo prazo sejam adaptadas à vida moderna e realidade da maioria das pessoas.