Em um mundo ideal, teríamos o tempo que julgássemos necessário para que tarefas remuneradas fossem realizadas de forma tranquila, garantindo qualidade no resultado final e em nossas vidas. Infelizmente, a realidade não é bem assim, e trabalho geralmente possui prazos bem apertados, deixando os responsáveis de cabelo em pé.
Nesses casos, os primeiros dias com horas além do expediente são encarados com naturalidade, mas ao longo do tempo o corpo começa a apresentar os sinais dos excessos. A situação não é tão incomum, pois, além da cobrança de um superior, quase sempre essa dedicação extra gera um retorno financeiro, criando uma situação em que o empregado não considera a sobrecarga um problema. Apesar disso, nosso corpo possui um limite e, quando ele é extrapolado, as consequências podem ser bem sérias.
Consequências inevitáveis
Jeffrey Pfeffer, professor de Comportamento Organizacional da Universidade de Stanford, publicou um livro no começo deste ano, chamado “Dying for a Paycheck” (Morrendo por um Salário, em tradução livre). Na obra, o especialista aponta que, ao redor do globo, pessoas estão morrendo por jornadas excessivas. Esse problema é algo bem acentuado nos EUA e na China, onde ele é causa da morte de milhares de trabalhadores anualmente.
Segundo Pfeffer, esse é um problema que surgiu com o avanço da tecnologia, pois, antes da Segunda Guerra Mundial, as opções de trabalho disponíveis se dividiam entre fábricas e ambientes externos. Os riscos envolvidos nessas possibilidades eram muito mais diretos e fáceis de resolver, tanto que a criação de um órgão fiscalizador foi o suficiente para diminuir bem o número de mortes no ambiente de trabalho.
A grande diferença para a realidade atual é que os problemas se desenvolvem lentamente, atrelados a uma cultura de trabalho excessivo, ansiedade econômica, vida sedentária, insônia e estresse. Apesar disso, as soluções para esse problema não são algo fora do alcance de pessoas comuns, pois uma pesquisa publicada em 2017 mostrou que apenas 1h30 de exercício por dia é suficiente para diminuir pela metade os riscos de morte prematura, considerando os problemas gerados pelo sedentarismo.
Karoshi
O Japão possui um longo histórico de mortes por trabalho excessivo, tanto que nos anos 1980 o fenômeno ganhou um nome próprio: karoshi. No país, os aspectos culturais também têm grande influência na questão, e o problema é algo combatido até hoje.
Considerar que você pode morrer trabalhando é algo assustador, mas esse é o resultado de uma sequência de alertas emitidos pelo corpo. Um dos principais reflexos da sobrecarga de tarefas é a privação ou falta de qualidade do sono. Pontualmente isso não é um problema, porém a recorrência faz com que a pessoa se sinta mais ansiosa, perca o controle de suas emoções e sofra com um aumento de tendências a comportamentos impulsivos, o que pode levar ao consumo excessivo de alimentos, álcool ou mesmo outras drogas.
Outro reflexo de uma rotina desregrada é a alteração do ciclo circadiano, que causa o aumento na liberação de cortisol pelo corpo. O hormônio é produzido naturalmente sob condições de estresse, mas sua presença frequente no organismo é prejudicial, acarretando principalmente problemas cardíacos.
O trabalho é algo inevitável em nossa sociedade. Por mais que empresas sejam fiscalizadas e medidas tomadas para que o ambiente de um escritório seja o mais saudável possível, sabemos que em determinados momentos vão existir situações de tensão. Essa é uma condição comum, mas o importante é saber equilibrar trabalho e lazer, para que no fim das contas um possível lucro não se torne prejuízo.