Para quem não está habituado a novidades, as características culturais únicas do Japão podem parecer outra realidade. Mesmo assim, não é difícil encontrar quem largaria tudo por aqui para viver do outro lado do mundo. Se você é uma dessas pessoas, talvez agora seja o melhor momento.
Os registros de casas abandonadas, conhecidas como akiya, só têm aumentado nos últimos anos. Os motivos para isso são não são os mais animadores e, caso providências não sejam tomadas, as consequências podem prejudicar o país de inúmeras formas.
Akiya
Os levantamentos atuais mostram que existem aproximadamente 10 milhões de casas abandonadas no Japão, principalmente em áreas rurais e subúrbios, com uma estimativa de que esse número chegue a incríveis 21,7 milhões em 2030, segundo o Japan Times.
Em entrevista, o corretor de imóveis Munekatsu Ota disse que essas residências são um grande problema, pois o custo de manutenção ou demolição é muito alto, mas apesar disso uma reforma poderia transformá-las em ótimas oportunidades de negócio.
Um dos principais motivos para uma quantidade tão grande de imóveis abandonados é a redução da população, que envelhece cada vez mais e não produz descendentes. Em 2017, segundo o Ministério da Saúde japonês, nasceram no país apenas 946.060 crianças, o menor número desde que se iniciaram os registros, em 1899.
Considerando os 127 milhões de japoneses que vivem no país atualmente e as taxas de mortalidade e natalidade, estimativas apontam que em 2050 serão apenas 100 milhões de pessoas, chegando a 85 milhões de cidadãos em 2100. O problema demográfico é uma bomba-relógio, gerando reações curiosas como a expectativa de que até 2020 sejam vendidas mais fraldas geriátricas do que infantis no país.
Outro fator para que algumas habitações sejam abandonadas é o histórico que elas possuem. Em um país com tradições milenares, um local onde ocorreu um suicídio, um assassinato ou até mesmo uma “morte solitária” perde seu valor de mercado de forma considerável. Imigrantes nem sempre se importam com esse tipo de situação, ainda mais após uma reforma total do imóvel — e esse é um ponto de interesse do governo japonês.
Imigração como solução
Com o intuito de aumentar o número de jovens vivendo no país, aumentando a força de trabalho disponível, o governo nipônico aliviou as exigências para a entrada de imigrantes. Os procedimentos para esse tipo de movimentação eram conhecidamente rígidos, mas o envelhecimento da população e a grande quantidade de imóveis abandonados fizeram com que estrangeiros ocupassem esse vazio.
Qualquer um que visite o país consegue perceber a diversidade de pessoas em escolas ou nos comércios, afirmou o professor americano Jeff Kingston, que leciona na Temple University Japan, ao Nikkei Asian Review. “Os empregadores sabem o quão essenciais são os trabalhadores estrangeiros, e esse reconhecimento está se espalhando. O Japão é um novo destino de imigração, fato necessário para impulsionar suas perspectivas econômicas futuras”, complementou.
Além das facilidades para a entrada no país, muitos imóveis são vendidos a preços irrisórios. Quase sempre eles precisam de uma boa reforma, mas no final das contas o negócio ainda é bem vantajoso.
O país sempre foi conhecido mundialmente por suas habitações minúsculas em grandes centros, porém atualmente o panorama geral tem se alterado. Katsutoshi Arai, presidente da imobiliária Katitas, disse ao Financial Times que sempre ouviu falarem que “o Japão tem uma população enorme, vivendo em casas pequenas e que você nunca poderá comprar um imóvel. Agora você pode comprar uma casa razoavelmente grande por um preço baixo, reformá-la e viver bem”.