A cultura japonesa é muito distinta da ocidental. Muito respeitosos e reverenciais, os japoneses têm no trabalho um dos pilares da sua existência. Acreditam que têm por obrigação dar o maior contributo possível para a sociedade; serem trabalhadores exemplares.
Talvez por isso, as relações interpessoais são descuradas. É dos países com maior taxa de suicídios; com mais gente solteira; com menos sexo. Se perguntar a um japonês se tem namorada ou namorado, provavelmente dirá que “não tem tempo” para isso. Trabalho, trabalho, trabalho…
Ou seja, o coletivo está antes do individual. E isso nota-se no respeito pelo bem comum, no respeito pelo próximo, nos comportamentos a observar em público.
A esse respeito, e sem pretender ser um guia de boas maneiras ou algo semelhante, eis alguns costumes japoneses que não faz mal saber antes de visitar o Japão.
Costumes japoneses que você deve conhecer
1. Curvar-se é quase uma arte
No Japão, o ato de se curvar perante alguém é quase uma arte e denota respeito e consideração pelo interlocutor. Apesar de não ser exigido a quem visita o país que o faça na perfeição, é de bom-tom que respeite o costume. Assim, para os turistas, uma inclinação simples da cabeça bastará para cumprimentar alguém. Faça-o. Tanto com o empregado de uma loja como com alguém mais distinto.
2. Ninguém fala no metro
Ninguém faz barulho no metro. Aliás, ninguém fala ou atende o telemóvel, especialmente em espaços públicos com muita gente, como o metro, comboios ou autocarros. É incrível!
Isto porque, a cultura japonesa está centrada no coletivo, não no indivíduo. Atrair a atenção para si, individualmente, é uma linha vermelha que ninguém deve ultrapassar. É por essa razão que, por exemplo, não se vê gente a assoar o nariz em público. Nisto, como em tudo o resto, o meu conselho é sempre o mesmo: faça como os locais.
3. Não se fuma na rua
Não fazia ideia que não se podia fumar nos espaços públicos japoneses, mas é verdade. Há até cidades com bairros inteiros assinalados como smoke free; entre os quais, normalmente, zonas turísticas e centros históricos. E não estou a falar do interior de templos e outros santuários; mas sim das ruas, dos passeios, dos jardins (antes que pergunte, a resposta é não; não se pode sentar num banco de jardim e fumar!).
Dizem os japoneses que o cigarro é como uma arma. Que a ponta de um cigarro aceso está a centenas de graus centígrados, anda à altura da cabeça de uma criança e, por isso, é um perigo. É uma argumentação válida mas eu julgo que não se fuma na rua, antes de tudo, por uma questão de respeito pelo próximo; na lógica de que ninguém tem de apanhar com o fumo dos outros. E ninguém fuma.
Para um fumador médio, é uma questão de hábito. Reconheço que, por vezes, pode ser frustrante querer fumar e não encontrar um sítio apropriado; mas resistir é uma questão de respeito pelas regras e costumes do Japão.
Note que há algumas (poucas) zonas específicas para fumadores na via pública (junto às estações de metro, por exemplo), mas os pontos de fumo mais frequentes são as entradas de supermercados como o Family Mart. São a salvação dos fumadores!
4. Não há caixotes de lixo nas ruas
Na cultura japonesa, o lixo é levado para a casa de cada um (ou para o local de onde ele veio, como um supermercado), razão pela qual não se encontram caixotes de lixo nas ruas. A exceção são os supermercados e lojas de conveniência que, regra geral, têm caixotes de lixo no exterior. Talvez não tenha planeado convenientemente a viagem, mas não fazia ideia que assim era.
5. Os japoneses usam máscaras hospitalares para proteger os outros
A gripe das aves já lá vai há muitos anos, mas os japoneses usam máscaras. Na rua, no metro, em todo o lado onde há aglomerados de pessoas. Sim, é provável que veja muita gente com máscara na cara; mas o curioso é que as usam, não para se defenderem, mas sim para evitar contagiar o próximo. Estando doentes, a preocupação é não contagiar outras pessoas. Lá está: respeito pelo outro; pensar no coletivo.
6. Sorver os noodles com barulho é normal
No que toca à etiqueta na mesa, não tenha vergonha de sorver os noodles – seja massas udon, ramenou soba – e fazer barulho a comer. Pelo contrário, no Japão é considerado boa educação fazê-lo, porque mostra o quanto está a apreciar a comida.
A propósito, há duas outras pequenas coisas que deve ter em atenção durante uma refeição. Primeiro, o guardanapo que lhe oferecem no início é para limpar as mãos antes de começar a comer; nunca o use durante a refeição para limpar a boca. Segundo, nunca deve espetar os pauzinhos verticalmente numa taça de arroz; é extremamente deselegante, por fazer lembrar os funerais.
7. Oferecer gorjeta é insultuoso
Uma vez, junto ao Castelo de Matsumoto, um velhote simpático ofereceu-se para mostrar o castelo. Apesar de ter um letreiro dizendo que as visitas guiadas eram gratuitas, muitos turistas desconfiavam. À conversa com ele, fez questão de enfatizar não só que os seus serviços eram gratuitos (ele era um reformado voluntário que fazia aquilo por prazer), como também que recusava gorjetas.
Vem isto a propósito do facto de, no Japão, tentar oferecer gorjeta a alguém é considerado um pouco rude, quase insultuoso. Não faça isso. Seja num táxi, restaurante ou guia turístico.
8. Deve usar chinelos em casa, mas não no tatami
Toda a gente sabe que no Japão se tira os sapatos quando se entra em casa; e que há chinelos disponíveis para usar em casa ou nos hotéis. O que eu não sabia é que havia outros chinelos, diferentes, para usar unicamente nas casas de banho. Ou seja, entra em casa e troca os sapatos por uns chinelos; e quando vai à casa de banho deixa os chinelos à porta e calça os outros que lá estão.
Mais importante, nunca, nunca use chinelos quando pisar um tatami, o piso usado na maioria das casas e hotéis japoneses. Sempre descalço!
9. Nunca brindar com “tchim tchim“
Não é bem um costume japonês, antes um aviso para não fazer má figura quando sair à noite com os seus amigos japoneses. “Ching ching” significa “pénis” em linguagem coloquial. Já sabe como não deve brindar…
10. As retretes japonesas fazem barulhos para ninguém ouvir o que está a fazer
Sim, tudo o que já ouviu sobre as retretes japonesas é verdade. São eletrónicas, aquecidas, têm esguichos direcionados, música ambiente e até barulhos para aumentar a “privacidade”. Não vale a pena explicar muito, o melhor é viajar para o Japão e experimentar.