Em 1868, após mais de dois séculos de isolamento, a abertura do porto de Kobe gerou uma onda de influências internacionais sobre essa cidade ensolarada, situada na ilha de Honshu, a principal do Japão. Hoje, o visitante encontrará ali mansões em estilo ocidental erguidas por diplomatas, música influenciada pelos EUA e dim sum em Chinatown.
O passeio por essa metrópole receptiva e de grande mobilidade pode começar pelo Museu de Ferramentas de Carpintaria Takenaka, capaz de encantar até quem não sabe distinguir uma chave Phillips. Fica pertinho da estação Shin-Kobe, de onde, ao sair, basta dar a volta no prédio – que fica lado a lado com as encostas verdejantes – para descobrir um espetáculo da natureza. Seguindo por uma trilha de menos de um quilômetro, você chegará às Cataratas Nunobiki.
O Shin-Kobe Ropeway é um bondinho que leva os passageiros montanha acima, a um deque de observação com vista panorâmica da cidade. Depois de admirar a paisagem, que nos dias claros revela até o Mar Interior de Seto, você pode se aventurar em uma caminhada no meio da floresta ou explorar o jardim Nunobiki, cuja flora sazonal inclui tulipas na primavera, girassóis e lírios no verão e as folhas vermelhas tradicionais do outono.
À noite, desenferruje seu japonês antes de entrar no Rakuzake, um animado bar sem mesas inaugurado em abril de 2018, em uma galeria do centro. A casa serve pequenas porções harmonizadas com nihonshu (saquê). Peça um copo e várias opções, como as fatias gorduchas de sashimi de salmão e atum, quem sabe um tofu geladinho e, para equilibrar, uma porção de polvo frito escaldante. Na segunda rodada, não deixe de provar o karaage (frango frito), servido com repolho fresco e uma boa dose de maionese Kewpie. O jantar para dois sai por 3 mil ienes (cerca de R$ 114).
Muita gente visita a cidade só para provar in loco o Kobe beef, preparado das maneiras mais variadas, desde barraquinhas de rua até restaurantes exclusivos como o Ishidaya. Por sua vez, o guioza costuma ser acompanhado por molho de misô, rico em umami. Vá ao Hyotan, especializado desde os anos 1950. São apenas oito lugares espremidos ao longo do balcão. Antes de encerrar a noite, passe pelo Taco Stand Anga, uma portinha minúscula com decoração colorida que vende tacos – isso mesmo, comida mexicana –, drinques e um petisco minúsculo, o dagashi.
Graças às influências estrangeiras, há tempos Kobe desenvolveu o ouvido para o jazz. A cidade abriga um festival anual e diversos clubes, como o aconchegante Sone e a Jam Jam, que também é uma cafeteria e tem uma vasta coleção de LPs. Falando nisso, sob os trilhos das estações Motomachi e Kobe fica uma galeria onde dá para garimpar bolachões de vinil.
Na Mokoto Town, também vale fuçar nas lojas de badulaques, com prateleiras abarrotadas de computadores do século 20, fivelas de cintos kitsch ou uniformes militares dos EUA e Alemanha. E se você curte arte contemporânea, não perca o Tadanori Yokoo, museu que exibe as obras do artista homônimo e filho ilustre.
Museu da tragédia
Em 17 de janeiro de 1995, às 5h46min, Kobe e a área ao seu redor foram arrasadas por um terremoto poderoso que deixou mais de 6 mil mortos e destruiu quase 250 mil casas. Para compreender o trauma que se abateu sobre a cidade, visite o Great Hanshin-Awaji Earthquake Memorial, um museu emocionante, dedicado a preservar as lembranças da tragédia e educar o público caso tenha de se preparar para ou agir diante de uma ameaça natural.
Aqueles que sofrem de vertigem e/ou ansiedade talvez prefiram pular a introdução, que reproduz em vídeo um abalo poderoso, com direito a sacolejos e som ambiente. Ingresso: 600 ienes (R$ 23).