Vocês já ouviram falar sobre os Burakumin (部落民)? Pouca gente conhece, mas o termo Burakumin se refere a um grupo minoritário no Japão que desde os tempos mais primórdios vem sofrendo discriminação por boa parte da população japonesa.
As pessoas que formam esse grupo são japoneses natos, mas devido a conceitos xintoístas, passaram a ser considerado como seres impuros e inferiores. Você deve estar pensando… como assim? Por que os japoneses desprezariam pessoas de sua própria etnia?
Bom, os Burakumin, que literalmente significa “Povo da Aldeia”, eram os representantes da classe mais baixa do Japão, designada desde o período medieval, a fazer os piores tipos de serviços, tais como preparar os corpos nos funerais ou limpar as entranhas dos animais que eram caçados.
O ápice da discriminação aconteceu durante o Período Tokugawa (1603-1868), quando foram declarados “pessoas sujas e impuras” segundo a filosofia xintoísta em razão dos serviços que faziam. De pessoas comuns, passaram a ser a escória da sociedade e foram obrigados a viver em guetos, longe da sociedade.
Por serem considerados “kegare” (impuros), eles eram proibidos de trabalhar nas lavouras de arroz, que é um alimento sagrado para os japoneses. Desde essa época, os bukuramin foram remetidos a uma classe imutável, que se perpetuava devido à hereditariedade social das castas. E por causa disso, a rejeição aos pobres Burakumin prevalece até os dias de hoje.
Quem são os descendentes dos burakumin?
No Período Tokugawa era muito fácil reconhecer os Burakumin. Além de viverem em guetos, eles se vestiam com roupas específicas e portanto eram facilmente identificados.
Mas hoje em dia, não tem como ter certeza, apesar de estarem sempre associados às pessoas que trabalham em serviços sujos como lixões, preparação de cadáveres, redes de esgoto e frigoríficos.
Com o fim do xogunato e início da reforma Meiji por volta de 1871, os burakumin tiveram a permissão de morar fora dos guetos e puderam enfim se dispersar, porém a discriminação social ainda se mantém. Estima-se que atualmente existam 3 milhões burakumin (2% da população japonesa).
A maioria esconde sua origem por causa do preconceito. Se a verdade vem à tona, os burakumin perdem a chance de conseguir um bom emprego ou até de se casarem (reza a lenda de que as famílias investigam o histórico familiar para evitar o casamento com alguém que tenha origem burakumin).
Um caso que ganhou repercussão foi a de uma mulher que deu à luz ao seu primeiro filho e logo depois descobriu que seu marido era um burakumin. Ela então se recusou a tocar no seu bebê, como se este fosse sujo, impuro e acabou voltando para a casa dos pais, deixando pra trás o marido e o filho.
Da mesma forma, existem muitas empresas japonesas que investigam o histórico familiar (koseki) dos funcionários. Caso algum seja de origem burakumin, não será aceito no emprego, além de que isso irá manchar sua reputação profissional para sempre. Infelizmente isso ainda acontece.
Aliás, existe até uma lista negra com 600 páginas, contendo dados sobre comunidades de burakumin, que circulou entre empresas e corporações durante os anos 80. A lista causou indignação dos defensores dos direitos humanos e até da ONU. Embora proibida, muitas empresas ainda a consulta.
A discriminação tem diminuído…
Nos dias de hoje, nota-se que a discriminação em relação aos burakumin tem diminuído e isso se deve à falta de conhecimento das gerações mais novas. No ensino obrigatório, esse tema não é muito abordado e talvez isso esteja contribuindo para que os Burakumin tenham uma vida mais tranquila.
Vale lembrar que alguns dos artistas mais importantes da história do Japão são de origem Buraku. Entre eles, houve vários artistas e criadores do teatro noh, kabuki e kyogen. Tem ainda o político e empresário Jiichirō Matsumoto, que abraçou a causa e foi chamado de “pai da libertação buraku”.
No cenário atual, existem alguns burakumin ilustres que são escritores, empresários ou ocupam cargos políticos como Tōru Hashimoto, que já foi governador de Osaka e hoje é prefeito de Osaka, os escritores Manabu Miyazaki e Kenji Nakagami e Tadashi Yanai, fundador e presidente da Uniqlo.
Mas a grande maioria infelizmente não trilhou o sucesso e ainda mantem ocupações menos valorizadas, provavelmente herdadas de seus ancestrais. Sem contar que muitos acabam se enveredando no mundo do crime. Acredita-se que cerca de 70% dos membros da Yamaguchi-gumi (a maior facção Yakuza do Japão que tem mais de 50 mil membros), são de origem buraku.
Comunidades buraku no Google Earth
A existência dos Burakumin era desconhecida por muitas pessoas, mas em 2009, o caso veio à tona quando o Google lançou uma versão do Google Earth que mostrava as comunidades Buraku durante o Período Feudal. Porém, esse recurso foi removido devido às reivindicações do Ministério da Justiça.
Foi alegado que isso poderia disseminar o preconceito, já que alguns ainda vivem nessas comunidades. Esses locais geralmente são menos valorizados por serem associados aos Burakumin, mas nem todos tem conhecimento disso. E talvez seja melhor assim para evitar que sejam alvos de insultos raciais.
Fonte: Japão em Foco