O número de mulheres dependentes de álcool no Japão tem crescido nos últimos anos. Esse avanço tem levado à criação de grupos de recuperação voltados apenas ao público feminino, como resposta à falta de espaços adequados e ao estigma que cerca a doença.
Em Takamatsu, na ilha de Shikoku, o hospital Sanko realiza encontros semanais com mulheres que buscam se livrar do vício. O programa “Ametalk!”, iniciado em outubro, oferece um ambiente reservado para que elas compartilhem experiências sem o receio de julgamento. A maioria das participantes relata dificuldades para falar sobre o problema em grupos dominados por homens.
Shino Usui, 48 anos, ex-dependente e atual coordenadora do grupo, afirma que as mulheres ainda enfrentam resistência ao assumir o vício, já que o alcoolismo no Japão é tradicionalmente associado aos homens. Segundo ela, o consumo começou como uma válvula de escape para lidar com o acúmulo de responsabilidades e problemas pessoais.
Dados do Ministério da Saúde indicam que, em 2021, mais de 108 mil pessoas receberam tratamento ambulatorial por dependência alcoólica. Em 2023, 9,5% das mulheres relataram níveis de consumo que aumentam o risco de doenças ligadas ao estilo de vida. A taxa vem crescendo nos últimos dez anos.
Especialistas explicam que, biologicamente, as mulheres têm maior propensão a desenvolver dependência em menos tempo. Apesar disso, os programas de reabilitação no país não costumam considerar as diferenças de gênero, o que pode afastar mulheres do tratamento.
Entre os relatos, há casos de mulheres que escondiam o hábito de beber do marido e da família. Outras preferiam não participar de grupos mistos por não conseguirem falar abertamente sobre as consequências do vício, como perda de controle físico e emocional.
O diretor do hospital, Shun Umino, afirma que o aumento do alcoolismo feminino está relacionado à maior presença das mulheres no mercado de trabalho e à exposição frequente a propagandas direcionadas. Ele também destaca que muitas pacientes enfrentam problemas como distúrbios alimentares, depressão e traumas.
Fonte: Japan Today