Muitos não sabem, mas a cidade de Minamata localizada ao sul da Província de Kumamoto, foi palco de um grande desastre ambiental entre as décadas de 1950 e 1960. Milhares de pessoas sofreram uma grave intoxicação por mercúrio por causa de uma fábrica local que jogava os seus dejetos tóxicos na Baía de Minamata.
Esse envenenamento por mercúrio contaminou os peixes e frutos do mar que eram consumidos pela população, causando uma condição que levou o nome de “Mal ou Doença de Minamata”. Mais de 2 mil pessoas morreram na ocasião, sem contar as sequelas permanentes deixadas em outras milhares de pessoas da região.
A doença de Minamata se caracteriza por degeneração neurológica e deformidades físicas, que em muitos casos levaram à perda de consciência e morte. Tudo começou quando uma das empresas químicas pioneiras do Japão se instalou na região em 1908, gerando muitos empregos e impulsionando a economia local, especialmente após a Segunda Guerra Mundial.
Porém, a fábrica passou a jogar seus dejetos químicos na baía de Minamata, que primeiramente causou um grande impacto no ecossistema local. A partir de 1953, os peixes e outros crustáceos começaram a aparecer boiando na Baía.
Nesta época também começaram a surgir os primeiros sintomas estranhos nos gatos da região, que eram chamados de “gatos dançantes”.
As primeiras pessoas diagnosticadas com os sintomas da doença foram os pescadores e suas famílias. Até então ninguém sabia a origem da tal “doença misteriosa”, cujos sintomas eram provenientes de uma desordem do sistema nervoso central e variavam desde fadiga crônica e dor de cabeça ao comprometimento da visão, audição, fala e coordenação motora.
Não demorou muito para que milhares de pessoas fossem acometidas pelos mesmos sintomas que em casos mais graves eram marcados por convulsões e morte. Somente em 1968 foi contatado que essa doença foi resultado da ingestão de peixes contaminados por mercúrio na Baía de Minamata.
A doença também afetou os bebês de mães que consumiram peixes e frutos do mar contaminados. Hoje em dia, cerca de 3.000 pessoas ainda sofrem com as sequelas da doença e são oficialmente reconhecidas como vítimas desse crime ambiental que infelizmente teve consequências muito tristes.
Ao longo de seis décadas a fábrica Chisso e o governo passaram por vários processos judiciais e muitas pessoas conseguiram receber indenizações, mas não há dinheiro que traga a vida daqueles que se foram por causa da irresponsabilidade dos homens em relação à poluição ambiental.
Memorial às vítimas de Minamata
Durante os anos 1980, a baía de Minamata foi finalmente despoluída através de drenagem e a terra dos arredores foram recuperados. Foi construído um parque na região chamado de Eco Park Minamata, com muito espaço verde e vários monumentos e museus relacionados com a Doença de Minamata.
Uma das atrações principais do parque é o Museu Municipal da Doença de Minamata, que documenta a história da doença, incluindo fotografias, vídeos e palestras ambientais. Também são realizados exposições e jogos interativos sobre o meio ambiente para grupos de crianças em idade escolar.
O Minamata Memorial foi construído atrás do museu municipal no 40º aniversário da descoberta da doença em 1996. No 50º aniversário em 2006, o memorial foi transferido para o Shinsui Boardwalk, à beira-mar, trazendo uma lista com todos os nomes das vítimas da doença de Minamata.
Na cidade também tem o Centro Soshisha, uma organização sem fins lucrativos, criada para ajudar às vítimas e para conscientizar as pessoas sobre o que aconteceu na região seis décadas atrás. O Centro Soshisha mantem um museu e também um memorial em homenagem aos gatos que foram sacrificados em experiências para descobrir a causa da doença.
Atualmente a cidade é vista como um modelo ambiental, onde promove vários estudos e programas de conscientização para que crimes ambientais como esse, não aconteçam mais no Japão e em nenhuma parte do mundo.
Em 2016, foi o 60° aniversário do desastre de Minamata. Todos os anos é realizado uma cerimônia em homenagem às vítimas com a presença das vítimas e suas famílias, funcionários do governo central e também da empresa Chisso Corp., responsável pelo crime ambiental
Em agosto de 2017, foi assinado um tratado internacional para proteger a saúde humana e o meio ambiente contra a poluição por mercúrio durante a Convenção de Minamata, cuja intenção é regulamentar o uso do produto químico e proibir, até 2020, a fabricação, importação ou exportação de produtos contendo mercúrio, como termômetros e baterias.
Descrevendo o mercúrio como “um produto químico de preocupação global”, o objetivo da convenção é reduzir as emissões e a liberação de mercúrio para o ar, a água e a terra e estabelecer protocolos de armazenamento e eliminação da substância.
Vídeos sobre a Doença de Minamata
No vídeo abaixo (em japonês), uma entrevista com a escritora Ishimure Michiko, uma vítima da Doença de Minamata que publicou um livro chamado “Mar do Sofrimento”, com relatos sobre o que ocorreu em Minamata.