“Me choca o quão barato pode ser”, disse o estudante de pós-graduação de astronomia da Universidade de Cambridge Zephyr Penoyre. O valor a que ele se refere é o quanto custaria o objeto sobre o qual ele e sua colega de curso Emily Sandford escreveram um projeto: um elevador até a Lua.
A ideia de um bilhão de dólares (literalmente) parece biruta, mas não é. Publicado em agosto, o estudo aponta como técnica e financeiramente é possível construir nos dias de hoje, com materiais já conhecidos, um “elevador espacial lunar”.
Chamado de Spaceline, ele teria como peça central um cabo ancorado na Lua, estendendo-se até um ponto acima da superfície da Terra – algo em torno de 320 mil quilômetros. Esse cabo-mestre teria a espessura de um lápis, pesaria em torno de 40 toneladas e seria feito de Kevlar ou outro material igualmente resistente.
A ideia é de uma simplicidade extasiante: em vez de ancorar o cabo na Terra (onde ele teria que ter uma massa considerável e ser forte o suficiente para suportar forças tremendas), Penoyre e Sandford o prenderam na Lua, deixando-o pendurado na direção da Terra. Enquanto um elevador terrestre daria uma volta completa todos os dias, uma linha vinda da Lua faria isso apenas uma vez por mês – uma taxa muito mais lenta e com forças menores.
Para usar a Spaceline, bastaria alcançar a ponta retida na órbita da Terra e, então, fazer a transferência para um veículo preso à linha, seguindo viagem até a superfície da Lua. A energia utilizada poderia ser a solar.
A economia do sistema já foi inclusive calculada: ele se pagaria depois de 53 viagens trazendo materiais da Lua, como hélio-3 para reatores de fusão, neodímio e gadolínio (metais usados na fabricação de celulares e outros dispositivos de alta tecnologia).
Cada um puxa de um lado
O proverbial pulo do gato está no meio do caminho entre planeta e satélite, onde a gravidade terrestre e lunar se anulam: o ponto Lagrange. Mais perto da Terra, a gravidade puxa o cabo em direção ao planeta; mais perto da Lua, a gravidade puxa o cabo em direção à superfície lunar.
No ponto Lagrange, as forças gravitacionais das massas cancelam a aceleração centrípeta. “Se você soltar uma ferramenta no exterior da Estação Espacial Internacional, ela vai acelerar rapidamente para longe de você. No ponto Lagrange, a ferramenta ficará à mão por um período muito maior”, diz a dupla no estudo.
Outra vantagem é a ausência de detritos. Segundo eles, “a região ficou praticamente intocado pelas missões espaciais. Uma base ali permitiria a construção e a manutenção de uma nova geração de experimentos e dispositivos, como telescópios, aceleradores de partículas, detectores de ondas gravitacionais, viveiros, geradores de energia, sendo ponto de lançamento de missões para o resto do sistema solar.”