Um documento policial recém-descoberto mostra que bordéis criados na província de Niigata logo após a rendição japonesa em 1945 recrutavam mulheres de forma enganosa para atender soldados aliados. O registro, compilado entre 1945 e 1946 por uma delegacia na antiga cidade de Tsugawa, está preservado nos Arquivos da Prefeitura de Niigata e oferece um raro retrato do caos administrativo do imediato pós-guerra.
Três dias após a rendição, o Ministério do Interior ordenou nacionalmente a criação de “postos de conforto” para as forças de ocupação. Só em Niigata, 151 instalações desse tipo foram estabelecidas. De acordo com instruções transmitidas pelo chefe da polícia provincial, havia pressa em recrutar mulheres, e anúncios de jornal exagerados ou enganosos eram usados para atrair candidatas — prática que o governo tentou, sem sucesso, coibir.
Segundo o pesquisador Hideaki Shibata, autor de Violência Sexual na Era da Ocupação, muitas mulheres pobres eram seduzidas com promessas de roupas, comida e moradia, mas acabavam em trabalho sexual praticamente obrigatório, sem alternativas de sobrevivência. Ele afirma que era improvável que a polícia reprimisse tais abusos, pois os próprios agentes eram responsáveis por autorizar e supervisionar os estabelecimentos, criando um evidente conflito de interesses.
Um relatório do governador de Niigata detalha a tabela oficial de preços: 20 ienes por contratação, 30 ienes por até uma hora e 200 ienes por pernoite, valores altos considerando que servidores públicos ganhavam apenas algumas centenas de ienes por mês.
Embora as instalações fossem justificadas como forma de “manter a ordem moral” e evitar incidentes, o governo reconhecia o aumento de problemas envolvendo soldados. Pesquisadores afirmam que militares de baixa patente, incapazes de pagar pelos serviços, poderiam recorrer à violência sexual.
Para Song Yon Ok, diretora do Centro Cultural Arirang e especialista em história de gênero, o sistema revelava tanto o desespero do pós-guerra quanto o oportunismo da burocracia japonesa, que acreditava poder apaziguar as forças de ocupação por meio de entretenimento sexual. Ela observa que esse comportamento refletia a mentalidade de autoridades acostumadas a administrar “instalações de conforto” durante a guerra.
Fonte: Japan Today









