Será que o termo masoquismo foi inspirado no nome de alguém?
Essa palavra se refere — também de acordo com o Houaiss — à “perversão caracterizada pela obtenção de prazer sexual a partir de sofrimento ou humilhação a que o próprio indivíduo se submete”, e, sim, o termo deriva do nome de uma pessoa. Mais precisamente, do nome de um jornalista e escritor austríaco chamado Leopold von Sacher-Masoch.
Literatura picante
Nascido em 1836, Leopold chegou a alcançar a fama como escritor e publicou inúmeras obras ao longo da vida — quase todas consistindo em contos nacionais e novelas históricas. Além disso, o autor se tornou especialmente conhecido em sua época graças às suas eloquentes descrições das paisagens, costumes e cotidiano dos territórios que faziam parte do Império Austro-Húngaro.
No entanto, entre os livros publicados de Leopold existe um chamado “A Vênus de Peles”, de 1870, e, nele, o protagonista, um cara chamado Severin von Kusiemski, conta a história de seu relacionamento com Wanda von Dunajew, a quem ele convence a tratá-lo como seu escravo. No início, a mulher — apaixonada pelo personagem — reluta em aceitar a proposta, mas acaba aceitando e o tratamento vai se tornando cada vez mais autoritário, cruel e humilhante ao longo da trama, até que ela se entrega e passa a desfrutar de seu papel como dominadora.
Severin e Wanda inclusive firmam um contrato de submissão e, em certo momento, o autor chega a descrever as roupas de couro — associadas com a dominação — que a mulher veste durante os encontros. Acontece que, aparentemente, o enredo é baseado nas experiências do austríaco e em um relacionamento que ele teve com uma escritora chamada Fanny von Pistor.
Baseado em fatos reais
Leopold e Fanny teriam assinado um contrato em 1869 no qual ele concorda em se tornar escravo dela durante seis meses. Entre as condições estipuladas no documento estava a de que ele tivesse direito a seis horas diárias para escrever, que nenhuma exigência feita por Fanny causasse a desonra de Leopold, seja como homem ou como cidadão, e que a escritora se vestisse com “peles” sempre que possível — especialmente quando ela se sentisse particularmente cruel.
Os dois, então, viajaram à Itália — onde ninguém os conhecia — para viver seu curioso romance sem levantar suspeitas. E tudo correu relativamente dentro do acordado até que Leopold decidiu por em prática mais uma das cláusulas do contrato: a de que Fanny deveria encontrar um amante, e esse cara tinha como missão açoitar o escritor com um chicote.
Para isso, o casal encontrara um ator chamado Saviani, mas, na hora H, ele se recusou a castigar o escritor e o caso todo acabou terminando. Em “A Vênus de Peles”, no entanto, Leopold realiza sua fantasia, uma vez que Severin apanha do amante de Wanda no final.
Mas, e o termo “masoquismo”, de onde saiu?
O termo surgiu enquanto um psiquiatra alemão chamado Richard von Krafft-Ebing realizava estudos sobre comportamento humano e se deparou com casos de submissão sexual e de pessoas que sentiam prazer quando eram submetidas à dor física e situações humilhantes.
Pois uma das referências que Krafft-Ebing encontrou foi justamente as descrições que Leopold fez em seu livro “A Vênus de Peles”. E, considerando que a própria vida pessoal do escritor servia como um exemplo da submissão sexual, o psiquiatra acabou usando parte do sobrenome do austríaco — Masoch — para criar o termo “Masoquismo”.
O triste foi que, enquanto o Marquês de Sade havia morrido há muito tempo quando o termo “sadismo” foi criado, Leopold ainda estava vivo quando a palavra “masoquismo” começou a ser usada em referência a um comportamento sexual considerado como perversão. E, além de não gostar nada dessa história e protestar contra a apropriação indevida de seu nome, Masoch teve que suportar as críticas e zombarias das pessoas da época.