Qualquer pessoa que joga videogame com certa frequência já se viu preso em alguma parte de um jogo. Seja um chefe muito difícil, um quebra-cabeça que parece não fazer sentido ou simplesmente não ter noção de para onde devemos ir. Esse tipo de coisa pode fazer a pessoa desistir de continuar jogando, mas de acordo com uma patente registrada recentemente, a Sony pode ter achado uma maneira de resolver isso — mediante uma pequena taxa.
De acordo com o documento que pode ser visto aqui, a ideia da empresa japonesa seria utilizar uma inteligência artificial que identificaria determinadas situações nos jogos e, aproveitando o desempenho de outros jogadores e dados coletados anteriormente, nos sugeriria dicas, estratégias e truques, além de nos indicar itens que poderiam facilitar a progressão.
Em determinado trecho da patente da Sony é até possível vermos a ilustração abaixo, onde temos um esboço da cena em que Kratos e o seu filho Atreus encontram a serpente Jörmungandr no God of War, que foi lançado em 2018. No canto do desenho temos uma pequena tela que seria a dica dada pelo sistema, com a seguinte frase: “Escolha o recurso E. Baseado nas nossas simulações, você terá uma probabilidade de 90% de derrotar o Chefe X na sua primeira tentativa.”
A ideia também fala sobre “pedir acesso a uma loja virtual que permite ao jogador escolher recursos para usar enquanto joga” e é aí que a coisa começa a ficar perigosa. O problema é que embora o documento cite a possibilidade das ajudas acontecerem gratuitamente, ele também fala claramente sobre termos que pagar para acessarmos essas dicas ou itens que poderiam facilitar a jogatina, algo como um pay-to-win para jogos de apenas um jogador.
“Em algumas modalidades, a seleção de vários recursos pode exigir uma forma de pagamento, por exemplo usando moeda virtual ou dinheiro real. Em algumas modalidades, a seleção de vários recursos pode vir na forma das conhecidas ‘microtransações’, que lida com somas em dinheiro real relativamente pequenas. Em outras modalidades, a seleção de vários recursos pode não exigir o pagamento de moeda, virtual ou real, mas o sistema do jogo pode limitar o número de recursos que o jogador poderá escolher.”
Surgindo como uma possível maneira da Sony lucrar com microtransações mesmo em jogos single-player, eu até acho que o recurso poderia ser uma forma interessante de ajudar os jogadores, sistema que por sinal o Google pretende implementar no Stadia, mas a partir do momento em que temos dinheiro envolvido, como não desconfiar?
Será que isso não acabará fazendo com que os jogos ganhem artificialmente um aumento nos seus níveis de dificuldade, só para nos forçar a gastar com essas microtransações? Imagine por exemplo chegar a um chefe e descobrir que a arma pela qual você tanto lutou para conseguir é fraca demais e que para ter acesso a uma melhor, terá que digitar os números do seu cartão de crédito? Na melhor das hipóteses teremos uma quebra absurda na imersão no momento em que a sugestão de dica pipocar na tela.
É bem verdade que de certa forma isso já pode ser visto em títulos que impõem valores virtuais muitos altos em personagens ou itens, fazendo assim com que ou a pessoa tenha que dedicar muitas e muitas horas ao game, ou tenha que abrir a carteira para encurtar o caminho. Porém, o sistema proposto pela Sony parece agir diretamente na jogabilidade e dada a maneira como as empresas estão sempre tentando sugar seus jogos o máximo que podem, não consigo deixar de temer pelo pior.
Em todo caso, é sempre bom salientar que esse tipo de documentos são registrados a todo momento, com boa parte das ideias vendidas por eles nunca chegando a serem implementadas. Pode ser então que essa patente nem chegue a ser aproveitada pela Sony e o PlayStation 5 esteja livre de tal conceito. Agora, se ele for mesmo adotado, prevejo uma chuva de reclamações e ataques à companhia japonesa.